Politólogos ouvidos pelo DN temem que o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, possa estar a preparar uma guerra civil. “Deseja armar a população, confia em poderes paralelos e estimula a indisciplina dos escalões mais baixos da Polícia Militar”, argumentam.
A troca de acusações entre o Jair Bolsonaro e 19 dos 27 governadores estaduais do Brasil pode ser o gatilho para uma guerra civil. O Presidente brasileiro responsabiliza-os pelos caos no combate à pandemia de covid-19, enquanto estes o acusam de mentir, de matar e de desprezar o povo.
Desde o início da pandemia, o Brasil conta com mais de 11 milhões de infeções e mais de 265 mil mortes. A taxa de incidência da doença em território brasileiro é agora de 126 mortes e 5.244 casos por 100 mil habitantes. O Brasil é dos países do mundo mais afetados pela pandemia de covid-19 juntamente com os Estados Unidos da América e a Índia.
“Bolsonaro traz a novidade à política do Brasil de querer entrar sempre em conflito com tudo e com todos mas ele, nas entrelinhas, parece ter um objetivo macabro: provocar uma guerra civil no país”, diz Vinícius Vieira, professor da Fundação Getúlio Vargas e da Fundação Armando Álvares Penteado, em declarações ao Diário de Notícias.
“No Brasil sempre tivemos uma dependência dos poderes regionais face ao poder nacional e vice-versa, num equilíbrio muito delicado, mas não me lembro de haver um precedente na história de uma rebelião de governadores estaduais tão alargada”, acrescenta o cientista político.
Vinícius Vieira não garante que vá acontecer uma guerra civil, mas sugere que seja “uma conclusão inevitável”, visto que Bolsonaro “deseja armar a população, confia em poderes paralelos, como as milícias, e estimula a indisciplina dos escalões mais baixos da Polícia Militar”.
Em janeiro, aliados do Governo apresentaram no Congresso Nacional um projeto que restringe o poder de governadores sobre a Polícia Militar.
“Talvez ele ambicione gerar, não algo organizado, longe disso, mas uma grande confusão, esticando a instabilidade gerada pela pandemia ao limite, para depois surgir como salvador da pátria, apoiado por Milícias, no sentido estrito e também no sentido de cidadãos comuns armados”, disse ainda o politólogo ouvido pelo DN.
Fernando Abrucio, coordenador da área de Educação do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da Faculdade Getúlio Vargas, salienta que “desde o início do governo, o presidente já havia pensado num novo tipo de federalismo”.
“Na cabeça do Bolsonaro, entretanto, o modelo sempre foi o da polarização e não o do compartilhamento (…) um modelo muito parecido com o do (ex-presidente norte-americano Donald) Trump, que parte de uma ideia de dar mais autonomia aos estados para, na verdade, desresponsabilizar o governo central”, disse Abrucio. “O Brasil, desse jeito, vai para o modelo de guerra civil federativa”.
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