Enquanto Portugal avança no processo de desconfinamento, outros países europeus estão agora a sofrer um aumento de casos. Em França e na Alemanha, os médicos apelam a um regresso ao confinamento.
De acordo com o presidente da Associação de Medicina Intensiva e de Urgências da Alemanha (DIVI), Gernot Marx, a situação é crítica e as unidades de cuidados intensivos estão a chegar ao limite devido à pandemia.
“Estamos a correr de olhos abertos para a desgraça“, disse Marx, que pede um confinamento de duas a três semanas, em declarações à revista alemã Der Spiegel. O especialista realçou que o confinamento “salvaria muitas vidas e protegia muita gente da sequelas do coronavirus”.
Atualmente, há 1.644 camas livres nas unidades de cuidados intensivos alemãs. Desde março, o número de pacientes em cuidados intensivos aumentou de 2.727 para 3.448. A situação é considerada crítica a partir dos 5.000 doentes com covid-19 nas unidades de cuidados intensivos.
A Alemanha registou 17.176 novos casos e 90 mortos nas últimas 24 horas, um aumento de mais de 3.000 casos em relação ao domingo passado.
“Seremos obrigados a fazer a triagem dos doentes”
Num artigo de opinião no jornal francês Journal du Dimanche, 41 médicos de Paris alertaram, este domingo, para a situação crítica dos cuidados de saúde e afirmaram que podem ter de chegar ao ponto de escolher que doentes tratar.
O artigo surge numa altura em que o presidente francês, Emmanuel Macron, tem rejeitado voltar a um confinamento geral e optado por restrições como o recolher obrigatório. Com o aumento do número de infeções e de camas ocupadas nos cuidados intensivos, os médicos apelam a Macron para que mude de estratégia.
“Nunca nos deparámos com uma situação como esta, nem mesmo durante os piores ataques [terroristas]”, como os de 2015, defendem.
Os médicos preveem que o aligeirar das restrições em vigor em março não vai controlar a pandemia. Segundo os especialistas, os recursos hospitalares não são suficientes para responder às necessidades, o que os levará a ter de praticar uma “medicina de catástrofe”.
“Já sabemos que a nossa capacidade de resposta está sobrecarregada. (…) Seremos obrigados a fazer a triagem dos doentes para salvar o maior número de vidas possível. Esta triagem vai abranger todos os pacientes, com e sem covid, em particular no acesso dos pacientes adultos aos cuidados intensivos”, consideram.
De acordo com os dados divulgados este domingo, França registou um aumento do número de doentes com covid-19 em camas de cuidados intensivos — de 4.766 para 4.872. Tendo em conta todos os internamentos, há mais 453 pessoas nas unidades de saúde, para um total de 27.712.
Numa entrevista ao mesmo jornal, Macron alertou para a possibilidade de serem aplicadas novas restrições caso a atual estratégia de confinamentos regionais não resulte. O presidente francês referiu que ainda “nada está decidido”, querendo ver se as restrições postas em prática nos últimos 10 dias foram suficientes para travar o aumento de contágios antes de aprovar um terceiro confinamento total.
“Nos próximos dias vamos ver a eficácia das medidas e, se necessário, tomaremos as que façam falta”, afirmou.
Macron salientou também que o encerramento das escolas, que até agora tem sido encarado como último recurso, “não deve ser um tabu”.
Bélgica atinge o pico de incidência cumulativa da 3.ª vaga
A Bélgica atingiu uma incidência cumulativa a 14 dias de 505 casos de infeção por SARS-CoV-2 por 100 mil habitantes, o maior número desde o início da terceira vaga da pandemia, noticia a EFE. Segundo a agência de notícias espanhola, houve uma média de 4.636 infeções por dia, entre 18 e 24 de março, o que representou um aumento de 27% em relação aos sete dias anteriores.
Esse aumento também se reflete no número de camas ocupadas nos cuidados intensivos, que contabiliza 701 – com 292 novos internamentos nas últimas 24 horas – embora nem todas as pessoas que se encontram nos cuidados intensivos tenham ingressado devido à covid-19.
As autoridades de saúde belgas consideram que o limite crítico das unidades de cuidados intensivos é de uma ocupação de mil camas.
Quanto aos óbitos, registaram-se 27 mortes por dia, o que representa um aumento de 12% em relação aos sete dias anteriores.
A variante britânica já é a dominante na Bélgica, representando 76% dos vírus em circulação, segundo explicou o porta-voz do instituto público de Sandiad (Siensano), Yves van Laethem.
Antes do início da terceira vaga, a Bélgica voltou a encerrar cabeleireiros e outros comércios e lojas de proximidade e passou a ser obrigatório marcar uma hora para entrar em lojas não prioritárias. Algumas restrições estarão em vigor até ao dia 25 de abril.
Além disso, as escolas não abrirão esta segunda-feira, fechando uma semana antes das férias da Páscoa, e a intenção é que as aulas presenciais não decorram antes do dia 19 de abril.
Essas restrições somam-se a outras, como a proibição de viagens não essenciais ao exterior, de recolher noturno obrigatório e o encerramento de bares, enquanto os restaurantes só podem entregar comida ao domicílio.
A campanha de vacinação continua e já permitiu imunizar com a primeira dose 1,2 milhões de adultos, numa população total de aproximadamente 11 milhões de pessoas.
https://zap.aeiou.pt/alemanha-com-cuidados-intensivos-no-limite-390900
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