sábado, 20 de março de 2021

Happy Land Club - A vingança que transformou a noite dos EUA

Na madrugada de 25 de março de 1990, Julio Gonzalez foi até o clube noturno Happy Land Club, localizado no subúrbio do Bronx, em Nova York (EUA), para tirar satisfações com sua ex-namorada, Lydia Feliciano. Mesmo após 6 semanas, ele ainda estava inconformado com o término da relação e queria de todas as formas mais explicações para o motivo.

Gonzalez chegou na cidade através do Êxodo de Mariel, após cumprir 3 anos de prisão em Cuba por deserção do Exército e falsificar uma ficha criminal como traficante de drogas para conseguir entrar no barco de imigração que ancorou na Flórida entre 15 de abril e 31 de outubro de 1980.

No dia em que invadiu o clube para discutir com Lydia, ele estava bêbado e acabou se envolvendo em uma briga com um dos seguranças que ficava na área de guarda-volumes onde a mulher trabalhava. De acordo com o dono da pensão onde morava, González havia perdido o emprego em uma fábrica de lâmpadas no Queens, estava endividado e havia perdido as esperanças com relação à vida. 

Portanto, quando Felipe Figueroa, um dos frequentadores do clube, ouviu o homem dizer: “Vocês vão pagar por isso! Eu vou fechar esse lugar”, ele estava falando mais sério do que poderiam imaginar.

Fogo encontra gasolina

Julio Gonzalez. (Fonte: New York Post/Reprodução)Julio Gonzalez. (Fonte: New York Post/Reprodução)

Após Gonzalez ser expulso às 3h do Happy Land Club e exclamar ameaças, ele foi até um posto de gasolina Amoco, comprou US$ 1 em combustível e voltou ao estabelecimento. O homem espalhou a gasolina na base da escada que era o único acesso ao clube, acendeu dois fósforos juntos e ateou fogo.

Naquela madrugada, havia cerca de 93 pessoas dentro do Happy Land, em sua maioria hondurenhos que faziam parte da comunidade garifuna do bairro. O local era um dos muitos clubes sociais ilegais que operavam no Bronx naquela época, recebendo seus frequentadores para que se divertissem. Juan Jose Nuñez, por exemplo, foi comemorar o aniversário de sua prima, Marisol Martinez, e ambos morreram queimados no inferno que o clube se tornou.

(Fonte: The New York Times/Reprodução)(Fonte: The New York Times/Reprodução)

O Happy Land não possuía licença estadual para vender bebidas alcoólicas e há 1 ano e quatro meses, as autoridades já haviam decretado o encerramento das atividades devido às violações desse código. No entanto, Elias Colon, o proprietário do espaço que também morreu em meio às chamas, ignorou a ordem. Além disso, o clube sofria de superlotação, não possuía aplicação de regulamento de segurança e nem meios de saída de emergência, sistema de sprinkler quebrado, havia excesso de decorações inflamáveis, pirotecnia sem infraestrutura e outras diversas infrações.

Gritos de pânico

(Fonte: New York Daily News/Reprodução)(Fonte: New York Daily News/Reprodução)

A maioria das vítimas ficou presa no segundo andar ou no porão da casa. Seis corpos foram encontrados a poucos metros da porta da frente que havia se transformado em uma boca de fogo.

“Eu ouvi muitas pessoas gritando. Quando corri para a porta, eu disse: ‘Se alguém vai sair, me siga!’ Eu não conseguia enxergar nada", declarou o DJ Ruben Valladares ao The New York Times. Quando ele conseguiu alcançar a calçada do Happy Land, percebeu que seu corpo inteiro estava em chamas. Valladares ficou quase 7 meses internado e teve que fazer vários enxertos de pele devido às queimaduras de segundo e terceiro graus que cobriram metade de seu corpo, entre seu rosto, as costas e as nádegas. Além disso, o então DJ foi submetido a vários meses de fisioterapia, terapia ocupacional e aconselhamento psicológico para tentar frear os pesadelos recorrentes que tinha.

(Fonte: Alchetron/Reprodução)(Fonte: Alchetron/Reprodução)

Às 3h47, quando Valladares já estava no pronto-socorro local, mais de 150 bombeiros foram encaminhados para apagar o incêndio no Happy Land, que foi extinto em apenas 5 minutos. Contudo, já era tarde demais para 87 jovens que morreram por asfixia ou pisoteados no clube. Apenas 6 vítimas foram resgatadas com vida da cena, inclusive Lydia Feliciano – o alvo do incendiário.

Julio Gonzalez foi preso pela polícia em seu apartamento na manhã seguinte. Ele ainda estava fedendo a gasolina e confessou o crime no local. González foi indiciado a 174 acusações de homicídio, sendo duas para cada vítima, 87 acusações de incêndio criminoso e condenado à prisão perpétua por cada uma delas, em 19 de agosto de 1991. Posteriormente, em março de 2015, ele teve sua liberdade condicional negada e marcado como elegível para solicitar de novo o recurso em novembro do ano seguinte, porém morreu de ataque cardíaco na prisão em 13 de setembro de 2016, aos 61 anos.

As novas medidas

(Fonte: The New York Times/Reprodução)(Fonte: The New York Times/Reprodução)

Gonzalez não foi o único culpado pelo perturbador incêndio no clube Happy Land. A promotoria distrital do Bronx alegou que Jay Weiss e Alex DiLorenzo III, os proprietários do prédio onde funcionava o estabelecimento, eram responsáveis pelas violações do código de construção e as contravenções desempenhadas pelo falecido Elias Coton. Weiss e DiLorenzo se declararam culpados e foram condenados a serviços comunitários e a pagar uma multa de US$ 150 mil, além de estabelecer um acordo de US$ 15,8 milhões com as famílias das vítimas.

Além disso, foi também questionada a incapacidade e conformidade do governo estadual em desempenhar medidas mais rígidas com relação aos vários clubes sociais ilegais espalhados por Nova York, enquanto os departamentos responsáveis operavam em burocracias e sem apoio algum do estado.

(Fonte: The New York Times/Reprodução)(Fonte: The New York Times/Reprodução)

O então prefeito de Nova York, David Dinkins, ordenou que esses departamentos se reorganizassem e se empenhassem em uma força-tarefa para inspecionar mais de 227 clubes ativos pela cidade. O Departamento de Edifícios de Nova York se uniu aos departamentos e fiscalizou mais de 1.250 propriedades comerciais que diziam que não operavam mais.

A imposição de novos métodos de segurança contribuíram para que as pessoas que entrassem em clubes conseguissem voltar vivas para casa sem ter que testemunhar atrocidades como a que aconteceu no Happy Land Club, seja por causa de um alcoólatra vingativo ou por um proprietário inconsequente.

https://www.megacurioso.com.br/misterios/118070-happy-land-club-a-vinganca-que-transformou-a-noite-dos-eua.htm

 

Sem comentários:

Enviar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...