terça-feira, 16 de março de 2021

“Quero viver em qualquer país menos na Síria” - Dez anos de guerra fizeram mais de 388 mil mortos !

A guerra na Síria, que entra no seu 11.º ano esta segunda-feira, causou pelo menos 388.652 mortos, indicou no domingo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) num novo balanço do conflito.


Segundo a organização não-governamental sediada no Reino Unido, perto de 117.388 civis, incluindo mais de 22 mil crianças, morreram desde o início do conflito em 2011. A ONG precisa ainda que os ataques do regime sírio e aliados são responsáveis pela maioria das mortes de civis.

O anterior balanço do OSDH, divulgado em dezembro de 2020, dava conta de mais de 387 mil mortos desde o início da guerra.

Os combates diminuíram em 2020 devido a um cessar-fogo no noroeste da Síria e à pandemia do novo coronavírus e, segundo o diretor da ONG, Rami Abdel Rahmane, registou-se o menor aumento anual no número de mortes desde o início do conflito.

Desencadeada em março de 2011 com a repressão por Damasco de manifestações pró-democracia, a guerra na Síria envolve atualmente uma multitude de beligerantes e potências estrangeiras.

O observatório inclui naquele total pelo menos 16 mil mortes nas prisões governamentais e centros de detenção que estão documentadas, embora estime que o total de mortos sob custódia tenha ascendido a cerca de 88 mil.

De acordo com o balanço, as tropas sírias registaram 68.308 baixas e os grupos e milícias leais a Damasco perderam 52.568 dos seus elementos, enquanto os rebeldes e islamitas que se lhes opõem contam 54.779 mortos.

Ao nível dos jihadistas, o OSDH precisa que o grupo extremista Estado Islâmico, que entre 2014 e 2019 geriu um “califado” na Síria e no Iraque, perdeu 40.515 dos seus combatentes e que o Hayat Tahrir al-Sham, ex-ramo sírio da Al-Qaida, registou 27.744 baixas.

Damasco controla atualmente mais de 60% do território sírio após uma série de vitórias desde 2015 graças ao apoio do aliado russo.

Entre as zonas que continuam a escapar ao controlo do regime de Bashar al-Assad encontram-se o último grande bastião rebelde na província de Idlib, no noroeste da Síria e sobretudo nas mãos do Hayat Tahrir al-Sham, setores controlados pela Turquia ao longo da fronteira norte e partes do nordeste a cargo de forças curdas.

Em relação a estas, o OSDH indica que perderam 12.878 pessoas desde o início da guerra.

O observatório lembra ainda que o conflito obrigou mais de metade da população que existia na Síria antes da guerra a fugir — 6,2 milhões de pessoas estão deslocadas no país e 5,6 milhões refugiadas no estrangeiro -, bem como que cerca de 200 mil desaparecidas.

“Quero viver em qualquer país menos na Síria”

Segundo a UNICEF, citada pelo jornal Público, quase 90% das crianças na Síria precisam de assistência humanitária, mais 20% do que há um ano. Dentro da Síria, 2,45 milhões não vão à escola, enquanto nos países vizinhos são 750 mil crianças as que não conseguem estudar.

Na Síria, “o número de relatos de crianças vítimas de sofrimento psicológico duplicou em 2020”.

A organização não-governamental Save the Children falou com 1.900 crianças sírias na Síria, Turquia, Líbano, Jordânia e nos Países Baixos para o relatório “Em qualquer lugar menos na Síria – Como dez anos de conflito deixaram as crianças sírias sem se sentir em casa”.

Nas entrevistas, as crianças, falam “das suas lutas diárias para se sentirem seguras e em casa onde estão”, “de tentar reclamar as suas infâncias e os seus futuros enquanto encontram inúmeros obstáculos, incluindo discriminação generalizada, perda de influência nas suas próprias vidas e medo de um regresso forçado”, resumiu Inger Ashing, presidente executiva da ONG.

Uma delas é Lara (nome fictício), de sete anos, cuja família fugiu de casa, em Maarat al-Numan, Idlib, há três anos. “Quero viver em qualquer país menos na Síria, onde for seguro e haja escolas e brinquedos”, disse. “Aqui, o som dos cães assusta-me e a tenda não é segura”.

Quando lhe disseram que iam fugir, Lara pôs os brinquedos numa mala que decidiu não voltar abrir. Para já, não quer voltar a casa, mas acredita que isso mudará. “Não vou desistir e vou sonhar em ir para casa para poder abrir o meu saco de brinquedos e brincar com Jasmim, o meu urso de peluche”.

Entre as crianças refugiadas, 86% não quer regressar à Síria. Entre as que vivem na Síria, uma em cada três quer estar noutro lugar.

https://zap.aeiou.pt/qualquer-pais-menos-siria-guerra-387585

 

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