Os confrontos no Senegal, os piores dos últimos anos, foram desencadeados pela detenção do líder da oposição Ousmane Sonko.
Os confrontos eclodiram em Dakar, na quinta-feira, depois de o principal líder da oposição, Ousmane Sonko, ter sido detido no dia anterior. Esta sexta-feira, a capital do Senegal foi alvo de violentos confrontos de rua e pilhagens de lojas, com a polícia a lançar gás lacrimogéneo.
Centenas de jovens invadiram as ruas, dois dias depois da detenção do principal opositor do Governo. No distrito de Médina, grupos de jovens atiravam pedras contra brigadas antimotim das forças policiais enquanto o som de granadas sonoras ecoava pelas ruas.
A detenção de Sonko, terceiro nas eleições presidenciais de 2019 e visto como um dos principais concorrentes das eleições presidenciais de 2024, desencadeou também o saque e pilhagem de lojas. De acordo com o presidente da empresa Auchan, Edgard Bonte, 14 supermercados da empresa foram “atacados” na quinta-feira.
Além de ter provocado a ira dos seus apoiantes, os senegaleses assinalam que a detenção de Sonko foi o clímax da revolta no país, cuja população enfrenta dificuldades há mais de um ano, agravadas pela pandemia de covid-19.
Na avenida Blaise Diagne, uma das principais artérias de Dakar, dezenas de jovens que pediam a libertação de Sonko conseguiram, ainda que temporariamente, afastar a polícia, apesar da forte presença de gás lacrimogéneo. Já em Mbao, nos subúrbios da capital, a existência de pilhagens foi também observada por um jornalista da AFP.
No distrito de Plateau, que integra importantes edifícios, como a residência do Presidente do país, vários ministérios, e a sede do Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO), o trânsito era quase nulo.
Pelo menos quatro pessoas morreram na sequência de confrontos entre a polícia e manifestantes, anunciou o executivo, que garantiu “restaurar a ordem” por todos “os meios necessários”.
“O Governo lamenta a perda de quatro vidas humanas”, durante uma ocorrência que o executivo considerou estar “relacionada com o crime organizado e a insurreição”, disse o ministro do Interior, Antoine Félix Abdoulaye Diome, durante uma declaração transmitida pela televisão, citada pela France-Presse (AFP).
Sonko foi formalmente detido sob a acusação de perturbação da ordem pública, quando se dirigia ao tribunal onde foi intimado a responder a acusações de violação.
O opositor é alvo de uma queixa por violação e ameaças de morte, apresentadas no início de fevereiro por uma funcionária de um salão de beleza, onde o político recebia massagens para, segundo o próprio, aliviar dores de costas.
Personalidade com um perfil antissistema e discurso impetuoso, o deputado refuta as acusações e diz-se vítima de uma conspiração patrocinada pelo Presidente, Macky Sall, com o objetivo de o manter fora das próximas eleições presidenciais em 2024. Sall negou estas insinuações no final de fevereiro, mas desde então tem mantido silêncio sobre o caso.
Guterres “muito preocupado”
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, está “muito preocupado” com a recente violência verificada na capital senegalesa que se seguiu à detenção do opositor Ousmane Sonko.
“[O secretário-geral da ONU] apela a todas as partes no Senegal para que evitem uma escalada da situação”, acrescentou o porta-voz, Stéphane Dujarric, na conferência de imprensa diária após ter sido questionado sobre a violência hoje registada na capital senegalesa, Dakar.
“As manifestações devem permanecer pacíficas e as forças de segurança e policiais devem agir sempre em conformidade com os direitos humanos internacionais”, em particular “permitir que os manifestantes expressem a sua opinião e vontade”, disse o porta-voz, citado pela agência France-Presse.
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