O Chile registou um recorde diário de 3.520 novos casos de
covid-19, bem como novas 31 mortes. Com protestos violentos nas ruas e
fome nos bairros, a situação no país “causa muita preocupação”, admite o
governo. Estado de emergência vigora desde março.
“Os números são muito preocupantes. Depois de estarmos com uma média
diária de 2.500 contágios, hoje saltamos para 3.520, em que 421 deles
são assintomáticos, que esperamos que não representem uma doença nos
próximos dias, evitando sobrecarregar a rede sanitária”, indicou na
terça-feira o ministro da Saúde chileno, Jaime Manalich.
As mortes diárias também bateram um recorde, subindo para 31, a
maioria na capital do país, o que elevou o total de óbitos para 509.
“Estamos num momento muito complexo, muito difícil e com muita preocupação”, insistiu Manalich, citado pela agência Lusa.
Até agora, o número recorde de vítimas mortais era de 29 e de novos
contágios de 2.660, dados registados na semana passada, levando o
Governo a decretar uma mega quarentena na região metropolitana de
Santiago, o principal foco da pandemia do novo coronavírus.
A medida, que deveria vigorar em princípio durante uma semana, até à
próxima sexta-feira, será provavelmente prolongada nos próximos dias e
afeta mais de sete milhões de pessoas. Até agora, o Governo tinha
descartado a possibilidade de prolongar a medida.
O Chile, que detetou o primeiro caso de covid-19 a 03 de março passado, optou desde o início por organizar quarentenas “seletivas e estratégicas”, com restrições que eram sucessivamente impostas e levantadas em cada comuna (bairro) ou cidade em função dos novos contágios.
“O futuro de todos depende, acima de tudo, de cada um, da conduta de
cada um. O que está em causa aqui é a vida e a saúde de muitas pessoas”,
sublinhou o ministro da Saúde chileno, adiantando que desde
quarta-feira passada foram criados “cordões sanitários” e encerramentos
de estradas em torno de Santiago e das cidades de Temuco e Concepción.
A pandemia, com as consequentes restrições, está a prejudicar a economia do país, onde, em abril, foram despedidos 238.115 trabalhadores,
tendo segunda-feira começado os primeiros protestos por causa da falta
de alimentos nos bairros mais desfavorecidos dos arredores da capital,
cuja população está confinada há mais de três semanas.
Cerca de uma centena de manifestantes nos arredores de Santiago
desafiaram o confinamento decretado pelo Governo na sexta-feira para
protestar contra a fome, uma ação que acabou em confrontos com a
Polícia.
Com máscaras e capuzes, os residentes de El Bosque, nos arredores da
capital chilena, protestaram contra a pobreza e a escassez de alimentos
provocada pela quarentena obrigatória na zona metropolitana, decretada
em 15 de maio pelo Executivo chileno.
“Não é contra a quarentena, é contra a fome”, disse
um dos manifestantes a um canal de televisão nacional. “Há muita gente
desempregada e que não tem que comer”, queixou-se outro residente,
exigindo mais apoios da autarquia.
Segundo a agência de notícias EFE, os manifestantes cortaram o trânsito de várias ruas, atiraram pedras e incendiaram barricadas.
A Polícia tentou dispersar os protestos com gás lacrimogéneo e
canhões de água, uma resposta criticada pela autarquia da localidade,
que denunciou em comunicado a deterioração “da qualidade de vida dos
habitantes” de El Bosque, criticando a falta de apoio do poder central
em relação aos mais pobres.
Antes da crise sanitária, o Chile, com 18 milhões de habitantes, já atravessava há vários meses um período de agitação social e atos de violência, iniciados em outubro do ano passado, com a subida do preço dos bilhetes de metro, em Santiago.
Desde meados de março que o Chile está em estado de emergência, com o
recolher obrigatório a partir das 22:00. As escolas, universidades e
fronteiras estão fechadas, bem como a maioria das empresas não
essenciais.
O Presidente chileno anunciou no domingo cinco medidas de apoio para
as pessoas “mais vulneráveis”, incluindo a entrega de 2,5 milhões de
cabazes de alimentos às famílias mais pobres do país.
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