Principais causas de morte masculina na faixa etária entre 24 e 49 anos na Grã-Bretanha, mas problema ainda é pouco discutido na sociedade
O pai de Simon Jack cometeu suicídio aos 44 anos (Foto: BBC)
O suicídio leva um número preocupante de vidas em todo o mundo e, no Reino Unido, os homens sofrem um risco muito maior do que as mulheres. Simon Jack, cujo pai cometeu suicídio, tentou investigar as razões.
Os 44 anos de idade, uma idade não muito memorável para a maioria das
pessoas mas, no meu caso, foi um aniversário que sempre terá uma
importância especial. Foi a idade em que meu pai cometeu suicídio, há 25
anos, por razões que ainda não consegui esclarecer totalmente.
Como resultado, sempre fui muito sensível em relação a histórias sobre
suicídio no noticiário e notei também a frequência com que estas
histórias envolviam homens.
O que não percebi até recentemente é que o suicídio é a mais frequente
causa de morte de homens abaixo dos 50 anos na Inglaterra e no País de
Gales. Cem homens morrem por semana. É a causa de morte mais prevalente
atualmente, mais do que em qualquer outro momento dos últimos 14 anos e
homens têm quatro vezes mais chances de acabar com a própria vida do que
as mulheres.
Queria descobrir o porquê. Qual a razão de homens serem mais
suscetíveis e o que pode ser feito a respeito, se é que algo pode ser
feito?
Meu próprio pai, na faixa dos 40 anos, estava na faixa etária mais vulnerável.
A incidência de suicídio chega ao auge entre homens nesta idade. É
possível adivinhar as razões: as esposa vai embora e leva os filhos, o
homem perde o emprego em uma idade em que é difícil conseguir outro.
Tudo isso pode gerar estresse em homens que se sentem pressionados a
sustentar a família.
No caso do meu pai, nenhuma destas razões poderia explicar seu
suicídio. Ele era um homem popular, gregário e talentoso, com uma mulher
amorosa e quatro filhos, dos quais eu era o mais velho.
Pesquisa
Jack visitou o túmulo do pai e conversou com especialistas para tentar entender o problema (Foto: BBC)
Para tentar descobrir as causas, perguntei para os Samaritanos, cuja
pesquisa é baseada em 60 anos de experiência. O trabalho deles destaca
uma série complexa de fatores - incluindo problemas financeiros e
emocionais, traços de personalidade, desafios da idade e questões de
saúde mental.
Todos estes problemas afetam mulheres também. Então, qual a razão de
que, apesar de metade dos telefonemas recebidos pelos Samaritanos ser de
mulheres, quatro vezes mais homens acabam mortos?
Existe uma opinião muito comum de que suicídio é prova de doença
mental. O argumento é que, se você comete suicídio, você precisa estar
sofrendo de uma doença mental diagnosticável como depressão.
Rory O'Connor é responsável por um dos mais importantes centros de
pesquisa sobre suicídio no mundo, na Universidade de Glasgow, Escócia.
Faz experiências em psicologia e comportamento suicida. Frequentemente, a
doença mental é parte do problema, mas não é uma explicação
suficientemente completa para isto.
"Acreditamos que a maioria das pessoas que morrem por suicídio tem uma
doença mental, mas menos de 5% das pessoas com uma doença mental acabam
com a própria vida", diz O'Connor.
Eu precisava descobrir mais sobre o que estava acontecendo na vida de
meu pai quando ele cometeu suicídio e, para isto, precisava conversar
com minha mãe, algo que estava pendente há muito tempo. Quase nunca
tocamos neste assunto na família.
E isto é uma parte importante do problema para muitas famílias. Meus
irmãos e eu não conseguíamos conversar, provavelmente temendo choro ou
discussões familiares durante a conversa.
Apesar das ressalvas e da preocupação de meus três irmãos, minha mãe,
com muita coragem, permitiu que a conversa fosse filmada. Naquela
conversa, descobri que, assim os casos extraconjugais que meu pai teve,
os problemas financeiros que enfrentava só foram descobertos depois da
morte. E nunca discutidos antes.
Estes tipos de problemas podem ajudar a explicar a alta taxa de
suicídio entre homens da faixa dos 40 anos, mas o suicídio também é a
maior causa de morte entre os homens 20 e 34 anos, quase um quarto de
todos os óbitos.
Experiência
Conversei com Stephen Habgood, presidente da instituição de caridade britânica de prevenção de suicídio entre jovens chamada Papyrus. O filho dele morreu aos 25 anos e, novamente, era considerado um jovem popular e extrovertido. Sua morte foi um grande choque para a família.
"Ele era tão atraente, era bonito (....) muito eloquente, parecia muito confiante", diz Habgood.
Mas, por mais eloquente que parecia ser, Chris nunca conversou sobre
seu estado com sua família. O pai afirma que esta falta de habilidade ou
relutância dos homens de todas as idades para falar sobre o que sentem é
a chave para explicar o número maior de suicídios masculinos.
Há uma experiência mental muito útil para ilustrar estes casos, segundo
Joe Ferns, diretor-executivo de políticas dos Samaritanos.
"Imagine chegar no trabalho na manhã de segunda-feira e encontrar
alguém triste no escritório, chorando por algo que acontece no fim de
semana. Se fosse uma mulher, alguém a levaria ao banheiro, teria uma
conversa com ela e ninguém pensaria nada muito sobre isto."
"Se o mesmo acontecer com um homem, que chora em sua mesa, acho que a
reação das pessoas seria muito mais dramática. As pessoas presumem que
algo muito ruim deve ter acontecido", acrescentou.
Há uma diferença na forma em que reagimos a homens e mulheres quando eles expressam o que sentem.
Conversas que salvam?
Então, simplesmente conversar pode salvar vidas? Matt foi uma das pessoas que conheci que pensou em suicídio, mas não o fez.
Ele estava desesperado pois não se encaixava nas ideias do que significava ser um homem em sua comunidade.
"Sempre fui uma pessoa muito expressiva, sempre gostei de arte e
acredito que era muito afeminado, talvez. Isto não se encaixava muito
bem com meu grupo de amigos, sempre me senti como um estranho. Era
difícil, pois quando você está crescendo, ninguém quer se sentir
excluído", disse.
Depois de decidir pelo suicídio, Matt passou na frente da sede dos
Samaritanos em Manchester e, como pensava que não tinha nada a perder,
entrou.
Agora ele percebe que esta decisão salvou sua vida.
"A razão principal que me levava a não conversar com ninguém era esta
ideia de fraqueza. Se você não pode resolver os problemas sozinho, então
é uma pessoa fraca."
E esta percepção é a chave para entender a razão de os homens tirarem a
própria vida em números tão altos, segundo Jane Powell, diretora da
Campanha contra uma Vida Triste (CALM, na sigla em inglês).
Rugby
Se alguém procura estereótipos de homens, então o mundo dos jogadores de rugby tem muitos. Mas lá encontrei tentativas de lutar contra estes estereótipos.
Ian Knott era um jogador profissional bem-sucedido do time Warrington
Wolves quando sofreu uma lesão que acabou com sua carreira e o deixou
sentindo dores constantes. Knott sentia que não conseguia mais cumprir
seu papel como jogador, marido e pai. Isto o levou a tentar o suicídio.
"A dor chegou a tal ponto que pensei: por que estou aqui? Minha mulher e
meus filhos continuavam ao meu lado, mas eu já não queria fazer parte
(da família)."
Knott agora dá palestras em reuniões de uma instituição chamada State
of Mind, que exibe vídeos de jogos clássicos, convida ex-jogadores para
falar sobre suas carreiras e funciona como um fórum para discussões a
respeito de problemas emocionais.
"Estou orgulhoso pois agora posso falar de minhas experiências e talvez
ajudar outras pessoas, principalmente outros homens", afirmou Knott.
"Este é o principal problema com os homens. Eles não se abrem. Mas não deveriam absolutamente ter nada do que se envergonhar."
Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/04/filho-de-suicida-investiga-por-que-tantos-homens-se-matam-na-faixa-dos-40.html
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