Já se contaram 2500 mortos e pelo menos 5000 pessoas feridas. As
sequelas continuam a assolar o país, os hospitais estão perto do colapso
e não há espaço para tantos cadáveres.
O Nepal continuou neste domingo a sofrer impactos sísmicos em várias
zonas, réplicas do grande abalo de magnitude 7,8 de sábado que alarmaram
novamente a população e complicaram ainda mais os difíceis processos de
resgate. Um novo sismo de 6,7 pontos na escala de Richter atingiu o
país. Foi a maior réplica até ao momento, embora já se tenham contado
mais de 40 acima de 4 de magnitude na escala de Richter. A meio da tarde
de domingo, contavam-se pelo 2500 mortos e mais de 5000 feridos. Isto
sem que as equipas de salvamento tivessem atingido as zonas mais rurais.
A grande
réplica deste domingo propagou-se, tal como o fizera o sismo de sábado, à
vasta cordilheira dos Himalaias. O novo sismo provocou outra vez
avalanches na montanha do Evereste, o que interrompeu as operações de
resgate dos montanhistas feridos no sábado. Na montanha mais alta do
mundo mantém-se o número de 18 mortos causados pela avalanche de sábado e
de cerca de 60 feridos.
O Nepal, por si só, é incapaz de
dar resposta à catástrofe. Há relatos de violência nas ruas do Vale de
Katmandu, que estão a abarrotar de gente, segundo o testemunho de um
habitante ao New York Times. As operações de resgate centraram-se nesta área, a mais populosa do país e onde morreram mais de 700 pessoas.
Mas, um dia depois do principal abalo, havia ainda várias zonas
às quais não chegara ainda apoio humanitário, muitas nas imediações do
epicentro, a 80 quilómetros da capital. Apenas 17% da população no Nepal
vive em centros urbanos e estima-se que à volta de 80% das frágeis
construções rurais tenham desabado. “Estamos extremamente preocupados
com o destino das comunidades nas zonas rurais mais próximas do
epicentro”, disse em comunicado Jagan Chapagain, o director da Federação
Internacional da Cruz Vermelha.
Mesmo as operações no Vale de
Katmandu aconteceram a uma velocidade relativamente lenta, por falta de
apoio técnico e material pesado. São comuns as imagens de pessoas a
utilizarem as próprias mãos para chegarem aos sobreviventes e corpos
aprisionados nos destroços de edifícios. Os hospitais tratam a maior
parte dos feridos nas ruas. Há o risco de que as réplicas do tremor de
terra afectem os edifícios de apoio médico, mas há também um grave
problema de falta de espaço. Hospitais privados e públicos já não têm
lugar onde depositarem os corpos das vítimas.
A Reuters visitou o
edifício do hospital universitário de Tribhuvan e descreveu o panorama.
“Os corpos estão empilhados numa sala escura, alguns cobertos com
tecido, outros não. Um rapaz que teria à volta de sete anos perdeu
metade da cara e tinha a barriga inchada como uma bola de futebol. O
fedor de morte era esmagador”. Neste domingo, a agência internacional de
notícias da Ásia publicou fotografias de piras utilizadas para
cremações em massa de vítimas.
Algum apoio humanitário já chegou ao país, sobretudo vindo dos
países vizinhos. Principalmente da Índia, onde morreram pelo menos 50
pessoas no sábado. Enviou para o Nepal material médico e pelo menos três
centenas de membros das suas equipas de salvamento. Chegou ajuda também
da vizinha China, que contribuiu com uma equipa de emergência médica de
60 pessoas, e do Paquistão, além do auxílio de organizações de apoio
humanitário.
Mas, ainda assim, muitos dos apoios e mantimentos
prometidos ainda não chegaram e os relatos que surgem dos trabalhadores
humanitários no terreno apontam todos para o mesmo: falta material
médico. “Para esta nova vaga de pacientes provavelmente não haverá
medicação suficiente para chegar ao final do dia”, disse neste domingo à
Reuters Rashila Amatya, responsável pelo hospital do distrito de
Dhading, a leste de Katmandu.
Chuva, frio e relento
As
réplicas continuam a fustigar o Nepal e não é possível antecipar o seu
fim ou a sua magnitude. “Não há maneira de prever a intensidade das
réplicas, por isso as pessoas vão ter de estar alerta durante os
próximos dias”, disse o responsável do instituto climático da Índia. Por
essa razão, a população do Nepal preparava-se para um segundo dia ao
relento, no exterior dos edifícios frágeis e geralmente construídos sem
respeito pelas regras de segurança.
Com falta de cuidados médicos e
milhares de pessoas a acamparem a céu aberto, as condições
meteorológicas representam um sério problema para os sobreviventes. As
temperaturas devem cair para os 14 graus Celsius durante a noite e
prevêem-se fortes aguaceiros e trovoadas em várias partes do país.
Helicópteros de salvamento enviados pela Índia já tiveram de interromper
operações de resgate neste domingo por causa das difíceis condições
meteorológicas.
As Nações Unidas começaram a alertar para o risco
do alastramento de doenças no Nepal. Num relatório publicado no domingo,
a organização diz que a diarreia já se tornou num problema generalizado
no Vale de Katmandu.
Fonte: http://www.publico.pt/mundo/noticia/numero-de-mortos-no-nepal-ja-chegou-aos-2000-e-as-replicas-continuam-1693671
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