Em outubro de 2014, aos 21 anos de idade, a norte-coreana Park Yeon-mi parou o mundo ao subir no púlpito do fórum global One Young World, em Dublin (Irlanda), e revelar a sua vida de horrores sob o regime ditatorial de Kim Jong-un.
Park Yeon-mi nasceu em 4 de outubro de 1993 em Hyesan, província de Ryanggang, na Coreia do Norte, tendo uma infância segura e considerada boa para os padrões tradicionais do país. O pai era membro civil do Partido dos Trabalhadores da Coreia e sempre deixou claro o seu repúdio pelo ditador, amaldiçoando-o durante as transmissões televisionadas de reforço ideológico. Ela aprendeu com ele a não dar ouvidos aos estudos sobre adoração ao ditador na escola.
Já a mãe, uma enfermeira do exército, temia Kim Jong-un e repreendia o marido, pedindo que Yeon-mi entendesse o quão perigoso era criticar o regime fora de casa ou mencionar a deslealdade do pai. Para a jovem, a pressão era constante, a ponto de ela acreditar que o ditador poderia ler a sua mente.

Um perigo iminente

(Fonte: Pinterest/Reprodução)
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Aos quatro anos de idade, Yeon-mi aprendeu que sussurrar é proibido, pois pode significar conspiração. À exceção de músicas tradicionais, não é permitido ter contato com livros de ficção ou romance, filmes, internet, mídia ou teatro; todos são privados de absolutamente tudo que estimule uma opinião própria. A menina aprendeu que o simples fato de pensar era errado.
Não existe liberdade ou vontade, pois quem decide tudo é o ditador. "Expressar dúvida sobre o governo pode resultar em três gerações inteiras de uma família presas ou executadas", relatou ela em seu discurso em 2014.
Quando tinha nove anos, a jovem teve contato com uma das cenas mais pavorosas da sua vida: a execução pública da mãe de uma amiga após ser presa por ter o DVD de um filme de Hollywood em casa. Ela acredita que isso aconteceu porque a garota deve ter contado para alguém que tinha assistido ao filme, considerando que todos eram instruídos e ameaçados a denunciar qualquer tipo de atividade ilícita no país.

Os anos de dor

(Fonte: Daily Mail/Reprodução)
(Fonte: Daily Mail/Reprodução)
A vida de Yeon-mi começou a virar de cabeça para baixo assim que o pai foi pego pelo governo em uma operação de contrabando de metais na capital. O homem foi sentenciado a prestar 17 anos de serviço em um campo de trabalho escravo, porém conseguiu reduzir a pena para três anos após recorrer a contatos internos.
Durante esse tempo, a mãe de Yeon-mi foi levada sob custódia para prestar esclarecimento acerca dos envolvimentos do marido. A jovem e a irmã mais velha, Eun-mi, tiveram que aprender a viver sozinhas. O país passava pela terrível crise conhecida como Grande Fome, que se deu com a separação da União Soviética e a diminuição de suas "taxas favoráveis" de exportação para a Coreia do Norte vindas de Moscou (Rússia). A economia ruiu, milhares de pessoas foram afetadas pela total inanição e outras milhares morreram, a ponto de pilhas de corpos se formarem nas ruas. As duas jovens foram obrigadas a se alimentarem de plantas e insetos para sobreviverem.
Com a libertação dos pais, a família decidiu que fugiria do país de uma vez por todas. Eun-mi foi na frente, para adiantar o processo perigoso. Quando chegou a vez dos demais, os anos de tortura e trabalho pesado já tinham sentenciado o pai da família; o homem foi diagnosticado com câncer e morreu pouco tempo depois, mas exigiu que mãe e filha o deixassem para trás, para não levantarem suspeitas.
Na madrugada de 30 de março de 2007, Yeon-mi, na época com 13 anos de idade, e a mãe começaram a fuga.

A jornada silente

(Fonte: Daily Mail/Reprodução)