A investigação sobre alegações de que cadáveres humanos
doados para a ciência ficaram a apodrecer e foram comidos por ratos no
Centro de Doações de Corpos (CDC) da Universidade Paris-Descartes foram
entregues pelas autoridades francesas a dois juízes de instrução.
Em causa está uma investigação sobre “violações da integridade de um
cadáver”, cujo inquérito foi aberto depois de a revista francesa l’Express ter divulgado o escândalo em novembro.
Na altura, de acordo com a revista, corpos de milhares de pessoas, doados para investigação científica, foram descobertos em condições repugnantes no Centro de Doações de Corpos (CDC) da Universidade Paris-Descartes, na capital francesa.
Os cadávers estavam espalhados nus, desmembrados, empilhados uns em cima dos outros, com uma cabeça decepada no chão. Algumas partes dos corpos estavam em decomposição, outras estavam roídas por ratos no meio de sacos de lixo que continham pedaços de carne.
A cena foi fotografada em 2016 e a revista descreveu-a como se fosse uma vala comum.
Além disso, de acordo com a RFI, o material e as instalações são descritos como ultrapassados. A ventilação também não funcionava e os canos estavam entupidos.
Em janeiro, surgiram novo elementos no caso: o centro foi invadido.
Nada foi roubado, além de caixas de arquivos. A rede informática da
universidade também foi pirateada, o que leva a crer que o principal
interesse do intruso era destruir evidências.
A investigação será agora conduzida pelos magistrados na sequência de
conclusões preliminares dos procuradores que lidaram com a fase inicial
do inquérito. “São notícias muito boas”, disse Frederic Douchez,
advogado de famílias que apresentaram queixa, em reação ao anúncio feito
na quinta-feira pela procuradoria de Paris.
Segundo o advogado, que fez uma das 80 queixas sobre o assunto, os magistrados têm poderes muito mais amplos para chegar ao fundo do caso.
As revelações levaram o governo francês a ordenar o encerramento do centro
e a lançar uma inspeção administrativa por uma comissão que disse que a
universidade era culpada de “violações éticas graves” na administração
do CDC.
O CDC, inaugurado em 1953, era o maior centro do género na Europa e
recebia centenas de corpos doados todos os anos. Utilizados nos cursos
de anatomia, os corpos são indispensáveis para a formação de novas
técnicas cirúrgicas e de futuros cirurgiões. Também são usados no
desenvolvimento de próteses e de material cirúrgico.
https://zap.aeiou.pt/desmembrados-empilhados-corpos-doados-cencia-334518
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