O presidente da Fundação Nacional de Artes declarou que o "rock ativa a
droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto", que "alimenta
uma coisa muito mais pesada que é o satanismo".
O presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), órgão público
que fomenta as artes no Brasil, nomeado oficialmente na segunda-feira,
afirmou no seu canal no Youtube que “o Rock leva ao aborto e ao
satanismo”.
Dante Mantovani, que é maestro e mestre em
Linguística, declarou que o “rock ativa a droga, que ativa o sexo, que
ativa a indústria do aborto”. Para o recém-nomeado presidente da
Funarte, “a indústria do aborto, por sua vez, alimenta uma coisa muito
mais pesada que é o satanismo. O próprio John Lennon disse que fez um
pacto com o diabo”.
Citado pela imprensa brasileira, o novo líder cultural argumentou,
por exemplo, que “agentes comunistas infiltrados na ‘CIA’ [Agência
Central de Inteligência norte-americana] foram responsáveis por
distribuir LSD [uma forte substância alucinógena] a jovens durante o
festival de Woodstock”.
“Como é que o brasileiro não valoriza sua
cultura?” questionou também o novo presidente da Funarte, acrescentando:
“Queremos dar ao Brasil a imagem de um bordel. As pessoas virão aqui
para ter as suas aventuras, as suas orgias sexuais”.
A Funarte é
uma das fundações mais importantes de fomento à arte no Brasil, através
de prémios e concursos, publicados em editais.
A comunidade artística brasileira tem reclamado da “guerra contra o
marxismo cultural” lançada pelo novo Governo brasileiro, chefiado pelo
Presidente Jair Bolsonaro, que assumiu o cargo em janeiro último, e que
tem defendido a censura da atividade cultural no país.
Outra das
nomeações polémicas para a Cultura brasileira aconteceu na quarta-feira
passada, quando o Governo anunciou como novo presidente da Fundação
Cultural Palmares, entidade pública que visa promover a cultura
afro-brasileira, um jornalista que nega a existência de racismo e
defende um “movimento de negros da direita conservadora”.
O
executivo brasileiro efetuou alterações em entidades sob a tutela da
Secretaria da Cultura, como é o caso da Fundação Cultural Palmares, com a
nomeação para seu presidente do jornalista e militante da
extrema-direita Sérgio Nascimento de Camargo.
Na sua página na
rede social Facebook, Camargo mostra-se apoiante do atual Governo e
protesta com frequência contra causas que envolvam o movimento negro,
defendendo, por exemplo, o fim do feriado da Consciência Negra.
“O Dia da Consciência Negra é uma vergonha e precisa ser combatido
incansavelmente até que perca a pouca relevância que tem e desapareça do
calendário. É um feriado político, instituído pela esquerda com o
objetivo de propagar o revanchismo histórico, o ressentimento racial e a
degradante agenda progressista. Sou negro e repudio essa data”,
escreveu o jornalista.
Numa outra publicação, Camargo compara o
racismo entre o Brasil e os Estados Unidos da América (EUA), afirmando
que apenas no segundo país ele é “real”.
“O Brasil tem racismo
‘nutella’. Racismo real existe nos EUA. A ‘negrada’ daqui reclama porque
é imbecil e desinformada pela esquerda”, afirmou, em 15 de setembro, o
novo presidente da Fundação Cultural Palmares.
A Fundação Cultural
Palmares, cujo estatuto foi aprovado em 1992, tem como missão “os
preceitos constitucionais de reforços à cidadania, à identidade, à ação e
à memória dos segmentos étnicos dos grupos formadores da sociedade
brasileira, além de fomentar o direito de acesso à cultura e à ação do
Estado na preservação das manifestações afro-brasileiras”.
Contudo,
o novo presidente da Fundação demarca-se de qualquer raiz africana na
sua formação, afirmando que “rejeita a africanidade imposta pela
esquerda”.
Carmargo foi indicado para o cargo por Roberto Alvim, um polémico
dramaturgo nomeado como secretário especial de Cultura no início do mês,
por Jair Bolsonaro.
Roberto Alvim é diretor do Centro de Artes
Cénicas da Funarte, a Fundação Nacional de Artes do Brasil, e gerou
polémica no final de setembro, ao apelidar a atriz brasileira de 90 anos
Fernanda Montenegro de “sórdida” por “deturpar os valores mais nobres
da civilização, denegrindo a sagrada herança judaico-cristã”.
Em
outubro, o dramaturgo afirmou que estava a formar um “exército de
grandes artistas espiritualmente comprometidos com o Presidente e com os
seus ideais”, que estariam dispostos a “dar as suas vidas pela
edificação do Brasil, através da criação de obras de arte que redefinam a
história da cultura nacional”.
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