
O antigo presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, acredita
que a extrema-direita vai existir até os pró-europeus se mobilizarem,
sendo “um risco para a Europa” que pode tornar-se “cada vez mais forte”.
Em
entrevista à agência Lusa, o antigo líder do Partido Social Democrata
alemão (SPD) não tem dúvidas que os partidos e movimentos de
extrema-direita vão continuar a ameaçar a Europa, alertando para a
necessidade de uma mobilização crescente e rápida.
“A extrema-direita é um risco para a Europa e coloca a integração europeia em perigo.
E penso que vai continuar a existir até que os pró-europeus consigam
mobilizar a esmagadora maioria das pessoas que se mantém em silêncio”,
considerou.
“A Europa é uma democracia transfronteiriça, onde
existe cooperação cultural, linguística, étnica e religiosa, e o que
precisamos é que a maioria defenda este ideal. A verdade é que a maior
parte dos cidadãos já é a favor de uma sociedade que defenda a
tolerância, o respeito e a compreensão mútua. Mas é preciso uma maior
mobilização contra a estratégia da extrema-direita, se isso não
acontecer, estes movimentos vão tornar-se cada vez mais fortes”,
concluiu.
Schulz considera que o eleitorado que alimenta a
extrema-direita é “parcialmente” o mesmo a quem a esquerda deixou de
conseguir falar nas últimas décadas.
Para o ex-presidente do Parlamento Europeu entre 2012 e 2017, a
esquerda europeia democrática deveria voltar a focar-se nas
desigualdades de rendimentos crescentes e dar voz aos que se sentem
excluídos da sociedade. “Se virmos, por exemplo, territórios onde o
comunismo antes era muito forte e agora a extrema-direita ganhou um
grande peso, percebemos que há uma parte do eleitorado que está
desiludida e zangada, que votou no passado na esquerda e agora escolhe a
direita. Isso é verdade”, confessou.
Questionado sobre a capacidade de Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista (Labour Party) conseguir ultrapassar o impasse do Brexit no
Reino Unido, Martin Schulz não tem dúvidas. “Sim, acredito que ele vai
ser capaz de resolver a situação (…) Considero que é melhor para o Reino
Unido ter um governo de esquerda e a proposta de Corbyn de submeter o
acordo a um novo referendo é, sem dúvida, abre a possibilidade de
conseguir manter o Reino Unido dentro da União Europeia”, revelou.
Se
a saída se efetivar, a Alemanha pode ter de recear a concorrência “caso
o Reino Unido mantenha o acesso ilimitado ao mercado único, sem ser
obrigado a respeitar por inteiro as regras do mercado interno”.
“Nesse caso sim, devemos temer dumping
a todos os níveis. O acordo que está neste momento em cima da mesa
entre o Reino Unido e a União Europeia prevê que o acesso ao mercado
único respeite todas as regras do mercado único europeu, o que é, sem
qualquer dúvida, uma condição sine qua non”, realçou Martin Schulz.
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