Um sul-coreano admitiu na segunda-feira ter assassinado 14 mulheres e jovens há três décadas – num dos casos de homicídios em série mais notórios do país -, afirmando ter ficado surpreendido por não ter sido apanhado antes.
Lee Chun-jae, de 57 anos, confessou os crimes em frente a Yoon, único condenado por um dos assassinatos. “Não achei que os crimes ficariam enterrados para sempre”, disse Lee num tribunal da cidade de Suwon. O homem confessou os assassinatos à polícia em 2019, sendo esta a primeira vez que falou publicamente sobre os crimes, noticiou a CNN.
Yoon – cujo nome completo não é divulgado devido a uma lei sul-coreana que protege a privacidade de suspeitos e criminosos – foi libertado em 2008, após passar 20 anos na prisão por violação e assassinato de uma adolescente de 13 anos, em 1988. Esse é um dos 10 crimes ocorridos entre 1986 e 1991, conhecidos como assassinatos de Hwaseong.
Durante décadas, os outros nove homicídios não foram solucionados, tendo os casos sido retratados no “Memórias de Assassinato”, um filme de 2003 do realizador Bong Joon Ho.
No ano passado, a polícia abriu uma nova investigação depois que novas evidências de ADN associaram Lee a algumas das mortes. Yoon, que durante anos defendeu estar inocente, conseguiu que lhe concedessem um novo julgamento, no qual os seus advogados tentam reverter a condenação.
No novo julgamento de Yoon, que iniciou na segunda-feira, Lee contou que numa das ocasiões em que foi interrogado pela polícia, estava a espiar uma das vítimas. Contudo, os agentes apenas o questionaram por não ter consigo o bilhete de identidade, sendo libertado logo em seguido.
“Ainda não entendo por que não era suspeito”, afirmou. “Os crimes aconteciam ao meu redor e não me esforçava para esconder as coisas, então pensei que seria facilmente apanhado. Havia centenas de forças policiais. Eu encontrava detetives a todo o momento, mas eles sempre me perguntavam sobre as pessoas ao meu redor”, acrescentou.
Lee indicou que não tinha motivo para matar a jovem de 13 anos, não demonstrando emoção ao descrever o crime. “Foi um ato impulsivo”, disse no tribunal. O homem pediu ainda desculpas aos familiares das vítimas e a Yoon.
Lee está preso desde 1994, onde cumpre uma pena de prisão perpétua por violação e homicídio da sua cunhada. O homem não pode ser processado pelos casos de Hwaseong, pois o estatuto de limitações sobre os mesmos expirou.
Falhas de investigação
Na época dos crimes, Hwaseong era uma área rural onde moravam cerca de 226 mil pessoas, sendo o crime violento invulgar na área. A polícia investiu recursos para encontrar o assassino em série, investindo mais de dois milhões de dias no caso – um recorde para uma investigação na Coreia do Sul, de acordo com a agência de notícias Yonhap.
Várias pessoas, incluindo Yoon, que tem uma deficiência originada por poliomielite infantil, acusaram a polícia de usar tortura durante a investigação.
Em julho, o chefe da Polícia de Gyeonggi Nambu, Bae Yong-ju, admitiu que durante a investigação inicial em 1989, Yoon foi agredido e coagido a fazer uma confissão falsa.
“Nós nos curvamos e pedimos desculpas a todas as vítimas dos crimes de Lee Chun-jae, às famílias das vítimas e às vítimas de investigações policiais, incluindo Yoon”, disse Bae na quinta-feira, notando que outras pessoas haviam sofrido “negligência policial” durante a investigação inicial de Hwaseong.
Bae informou ainda que as autoridades concluíram que Lee foi responsável por todos os 10 assassinatos ocorridos entre 1986 e 1991 em Hwaseong.
Yoon referiu na segunda-feira que precisava de tempo para digerir o que aconteceu no tribunal, frisando que se sente frustrado com todos os anos de injustiça e quer viver o resto da sua vida como um homem inocente. “Quero limpar a minha falsa acusação e quero a minha honra de volta”, indicou no início deste ano.
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