terça-feira, 10 de novembro de 2020

Dezenas de pessoas decapitadas e desmembradas em “ritos de iniciação” no norte de Moçambique !

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, continua a ferro e fogo, com um novo massacre que terá sido levado a cabo por radicais islâmicos. Mais de 50 pessoas terão sido decapitadas e desmembradas. Enquanto isso, há jornalistas locais escondidos na mata e um número crescente de deslocados.


Os corpos de cerca de 50 homens foram encontrados espalhados pela floresta, depois de, alegadamente, terem sido decapitados e desmembrados num campo de futebol no distrito de Muidumbe.

O site moçambicano VOA Português fala na morte de “20 homens e adolescentes” que estariam a participar numa “cerimónia de iniciação masculina” e que terão sido decapitados por “suspeitos militantes” islâmicos.

“A polícia soube do massacre cometido pelos insurgentes, por meio de relatos de pessoas que encontraram cadáveres na floresta“, relata um oficial de polícia à Associated France Press (AFP), conforme cita o VOA Português.

“Foi possível contar 20 corpos espalhados por uma área de cerca de 500 metros”, refere a mesma fonte.

Contudo, a BBC aponta para mais de 50 mortes.

“Eles queimaram as casas e depois foram atrás da população que tinha fugido para a mata e começaram com as suas acções macabras”, contou o comandante-geral da Polícia Nacional moçambicana, Bernardino Rafael, numa conferência de imprensa, conforme citação do Público.

Os alegados jihadistas também terão raptado várias mulheres e crianças nas aldeias que destruíram.

“Situação é grave” e está descontrolada

As Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas descrevem como “grave” a situação em Cabo Delgado, assinalando que o porto e o aeroporto de Mocímboa da Praia continuam nas mãos dos grupos armados, conforme refere um relatório parlamentar a que a Lusa teve acesso.

O Comando Conjunto das FDS fez a descrição da situação num encontro com a Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade (CACDHL) da Assembleia da República (AR) de Moçambique, no âmbito da investigação que se realizou sobre o impacto da violência armada na região que é rica em gás natural.

No relatório da “averiguação” entregue à presidente da AR, Esperança Bias, aquela entidade refere que o Comando Conjunto das FDS deu conta de uma “situação grave” nos distritos afectados pela acção de grupos armados.

Após o ataque a Mocímboa da Praia, os grupos armados realizaram incursões nos distritos de Muidumbe, Macomia, Quissanga, Nangade e Ibo, referiu ainda o Comando Conjunto no encontro com os deputados, assinalando que os seis distritos atingidos ficaram sem energia eléctrica, na sequência da destruição da subestação de Awasse.

“Guerra não é motivada por questões religiosas”

Enquanto isso, as forças governamentais estão a ser acusadas de alegadas violações de direitos humanos, mas o Comando Conjunto acusou os grupos armados de “falsificação de vídeos através da sofisticação de tecnologias de informação e comunicação“, mostrando membros das FDS a infligir abusos a civis nas áreas de conflito.

A 1ª Comissão manteve também encontros com agências humanitárias, que manifestaram a sua preocupação com a situação das populações afectadas pela violência e a necessidade de mobilização e intensificação de apoio humanitário.

Entretanto, há milhares de deslocados, com muitos a fugirem das suas casas com medo dos ataques. O primeiro-ministro moçambicano referiu, há dias, que seriam “mais de 435 mil”.

“Os centros de acolhimento não possuem condições materiais e de higiene sanitária para responder à demanda das populações afectadas”, alerta também o relatório.

A comissão diz que constatou uma “violação grave e gritante” dos direitos humanos, acusando os “terroristas de assassinarem de forma hedionda e queimarem as casas das populações”, criando “pânico, desespero, dor e trauma”, frisa ainda o relatório.

A CACDHL manteve um encontro com o Conselho Islâmico de Moçambique que “lamentou que não se tenha tomado em consideração, tempestivamente, as denúncias populares, especialmente dos líderes religiosos, dirigidas às autoridades governamentais sobre a ocorrência de práticas radicais e estranhas ao Islão“.

“A guerra que existe em Cabo Delgado não é motivada por questões religiosas ou étnico-culturais, como se vem propalando em diversos órgãos de comunicação social”, alega o Conselho Islâmico, como cita o relatório, defendendo que para entender as razões por detrás da violência é preciso fazer estudos profundos.

A secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Teresa Ribeiro, já defendeu que a província moçambicana precisa rapidamente de encontrar alternativas, nomeadamente de emprego, para os jovens para prevenir a sua radicalização.

Há jornalistas comunitários escondidos nas matas

O Fórum Nacional de Rádios Comunitárias (Forcom) manifestou-se preocupado com a situação de um grupo de jornalistas comunitários em Cabo Delgado, que estão escondidos há 10 dias nas matas, devido à violência armada.

“Estão incomunicáveis e a sobreviverem em condições humanamente deploráveis e de insegurança”, lê-se num comunicado da entidade.

Segundo o Forcom, no dia 31 de Outubro, os alegados rebeldes islâmicos ocuparam a Igreja Paroquial do Sagrado Coração de Jesus, no distrito de Muidumbe, onde está localizada a Rádio Comunitária São Francisco de Assis, e, pelo menos, nove jornalistas foram obrigados a fugir para as matas com as suas respectivas famílias.

As instalações da rádio foram destruídas, estando ainda os insurgentes naquele distrito, segundo o Forcom.

O grupo de jornalistas tenta agora sair da região atacada em direcção a distritos considerados seguros, havendo também entre eles, pelo menos, um caso de um repórter que perdeu um parente na sequência dos ataques.

Meu pai foi decapitado. Estamos a morrer de sede e fome, três dias sem comer nada e eu estou com os meus sobrinhos. Assim, estamos a pedir socorro”, relatou um dos jornalistas numa mensagem telefónica citada pelo Forcom.

“Face à situação, o Forcom está a envidar todos os mecanismos por forma a garantir todo o apoio necessário aos jornalistas que se encontram nas matas, para salvaguardar a sua integridade física e segurança. O Forcom entende que o Estado deve garantir a segurança dos cidadãos”, acrescenta o documento.

A província de Cabo Delgado é palco há três anos de ataques armados desencadeados por forças classificadas como terroristas e que se intensificaram este ano.

Há diferentes estimativas para o número de mortos, que vão de 1.000 a 2.000 vítimas.

https://zap.aeiou.pt/dezenas-pessoas-decapitadas-desmembradas-ritos-iniciacao-norte-mocambique-ferro-fogo-358606

 

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