Uma nova análise a vários documentos dos Arquivos do Vaticano
reforça agora as acusações de indiferença do papa Pio XII ao sofrimento
judeu. Contudo, alguns investigadores acreditam que ainda não foi
revelado o quadro completo sobre o assunto.
Alguns vêm Pio XII como o papa que permaneceu vergonhosamente calado, enquanto os nazis massacravam os judeus durante a II Guerra Mundial. Outros afirmam que Pio trabalhou nos bastidores para encorajar a Igreja Católica a salvar milhares de judeus, e outras vítimas da perseguição.
Quando o Vaticano começou a abrir os arquivos do papado de Pio XII – durante a Segunda Guerra Mundial – o historiador David I. Kertzer, da Universidade Brown, esteve sempre entre os primeiros interessados, relata o The New York Times.
Agora, estes arquivos — uma primeira amostra das dezenas de milhares
de artigos que os estudiosos têm vindo a solicitar durante décadas —
estão a ser analisados pelo historiador, cujo objetivo é estudar o percurso de Pio XII enquanto esteve no Vaticano, entre 1939 e 1958. E já estão a causar polémica.
Num artigo publicado no The Atlantic,
na quinta-feira, Kertzer revelou documentos não publicados
anteriormente. Um desses documentos é um comunicado, onde Pio XII é
aconselhado a não fazer um protesto formal em relação à prisão de 1000 judeus em Roma, em 1943. Os judeus acabaram por ser levados pela Gestapo para o campo de concentração em Auschwitz.
Kertzer também encontrou documentos que revelam que as autoridades do Vaticano aconselharam alguns clérigos, em França, a resistir à entrega de duas crianças judias
que foram colocados sob os cuidados da igreja católica depois dos pais
serem mortos em Auschwitz, depois de os tribunais franceses decidirem
que os meninos deveriam regressar para o núcleo familiar, e serem
entregues aos cuidados de uma tia.
“Entre os historiadores, acho que a minha obra será bastante explosiva”, garante Kertzer.
Já depois do fim do papado de Pio, em 1963, o dramaturgo Rolf Hochhuth criou uma peça, “O Deputado”, onde atacava Pio XII por não ter condenado publicamente Hitler, e não ter tomado medidas para ajudar a prevenir o Holocausto.
Segundo Roberto Benedetti, historiador romano que
ajudou Kertzer na sua pesquisa, mesmo depois de os arquivos terem sido
abertos pelo Vaticano, os investigadores não tiveram acesso total a
todos os documentos, porque alguns documentos ainda estavam a ser
tratados.
“A documentação é imensa, por isso acredito que haverá muitas mais
publicações”, remata Benedetti, que considera que esta história ainda pode ter contornos por descobrir.
https://zap.aeiou.pt/documentos-do-vaticano-sugerem-indiferenca-pio-xii-relacao-ao-holocausto-343300
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