Giulia Tofana foi uma envenenadora profissional que se tornou famosa
no século XVII por vender sua poção fatal para centenas de esposas
interessadas em interromper seus casamentos através da morte de seus
maridos.
No final de sua lucrativa carreira, após ser capturada, Tofana
estimou ter envenenado cerca de 600 pessoas, o que a torna uma das
assassinas mais produtivas da história. Seu veneno era praticamente não
rastreável, podendo ser embalado em um inocente frasco de maquiagem.
Sua empresa sinistra e próspera foi muito requisitada durante 20
anos, segundo estimativas, e só teve fim quando a envenenadora foi
denunciada por uma de suas clientes arrependida de tentar matar o
marido.
Esse sucesso se justifica pela forma como eram organizadas as relações matrimoniais naquela época.
A mulher no século XVII
Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução
O casamento por amor, tal qual o descrevemos nos dias atuais, é uma
invenção do século XVIII como produto da ordem burguesa. Assim, o que
ocorria no século XVII eram leilões de mulheres para casamentos que eram
abusivos e muitas vezes violentos.
Inteiramente submetidas aos seus parceiros, sem nenhum poder
financeiro ou social, as mulheres tinham três escolhas definitivas na
vida: casar-se ou permanecer solteira, tornando-se prostituta para
sobreviver ou viúva rica e respeitada, o que era um upgrade da primeira opção.
Felizmente para as mulheres que estavam dispostas a fazer essa
transição, as grandes cidades europeias do século XVII tinham um tipo de
submundo "mágico" composto de alquimistas, farmacêuticos e feiticeiros
que faziam seus rituais por um preço justo.
O aprendizado de Giulia Tofana
Foi nesse cenário de trevas
que Giulia Tofana veio ao mundo e se adaptou perfeitamente. Acredita-se
que ela tenha nascido em 1620, em Palermo, na Sicília, de Thofania
d'Adamo, que foi executada 13 anos depois por ter assassinado o marido
por... envenenamento!
Anos depois, Giulia também acabou enviuvando e mudou-se com a filha,
Girolama Spara, para Nápoles e, depois, Roma. Seguindo os passos da mãe,
ela logo se envolveu com a rotina dos farmacêuticos, conseguindo em
pouco tempo desenvolver sua própria poção letal.
Com o apoio de um grupo de mulheres, inclusive da filha, Giulia se
tornou popular entre mulheres com problemas matrimoniais. A eficácia do seu veneno fez crescer o número de consumidoras, obrigando-a a requisitar os serviços de um padre romano chamado Girolamo.
A Aqua Tofana
Fonte: Wikipedia/Reprodução
Alguns historiadores acreditam que a substância mortal não foi criada
por Giulia, mas sim por sua mãe, que lhe repassou a fórmula. A Aqua
Tofana era constituída de uma mistura de arsênico, chumbo e beladona, uma planta venenosa.
O produto era oferecido em duas maneiras: uma sob forma de pó de
maquiagem e outra para ser introduzida dentro de imagens sagradas. Nas
duas apresentações, era possível que o veneno ficasse exposto nas casas
sem levantar nenhum tipo de suspeita.
Totalmente insípida, a substância não era percebida pelos maridos
quando adicionada a comidas e bebidas em uma sequência de doses. A
primeira causava sintomas semelhantes ao de uma gripe comum, mas que ia
piorando conforme a aplicação de outras doses até matar o sujeito na
quarta.
O mais fascinante era que a Aqua Tofana não era percebida no
organismo dos falecidos. Todos os resultados das autópsias apontavam
como causa mortis uma gripe com sintomas agravantes.
A descoberta do veneno
Em 1659, uma cliente que havia comprado o veneno arrependeu-se
minutos antes de seu marido comer uma sopa envenenada. Denunciada,
Tofana refugiou-se em uma igreja, mas foi logo descoberta pela polícia e
presa.
Sob tortura, confessou a morte de cerca de 600 homens. Foi logo condenada à morte no Campo de' Fiori em Roma.
https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/114739-giulia-tofana-a-mulher-que-envenenou-600-homens.htm