Sete massacres em duas semanas. Este é o resultado da onda de
violência que atinge a Colômbia, onde pelo menos 39 pessoas foram
mortas durante os distúrbios mais recentes. O país já viu acontecer 46
massacres só este ano.
Após o último massacre, na noite de terça-feira, os corpos de três jovens
foram encontrados perto de uma estrada nos arredores de Ocaña – uma
cidade próxima da fronteira do país com a Venezuela. Este foi o sétimo
massacre em apenas duas semanas, e já se contam 39 pessoas vitimas.
Este quadro de violência não é uma novidade para os colombianos. Só durante este ano, o país já presenciou 46 massacres. “Vivemos com uma sensação de medo constante. Podemos ser mortos a qualquer momento,
mas o governo pouco irá fazer para nos salvar”, afirma um líder
comunitário de uma cidade perto de Ocaña, que pediu para não ser
identificado por receio de represálias.
Em 2016, um acordo de paz com o maior grupo rebelde do país, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), pôs fim a cinco décadas de guerra civil que matou mais de 260 mil pessoas, e fez mais de 7 milhões de desalojados.
Quando celebrado, o acordo tinha o objetivo de trazer maior segurança e desenvolvimento para as regiões mais pobres da Colômbia. Contudo, parece que o vínculo de “paz” criado, nada contribuiu para melhorar o ambiente de violência na Colômbia.
Atualmente, algumas fações das Farc continuam a lutar pelo controlo territorial,
unindo-se a círculos extremistas como o Exército de Libertação Nacional
(ELN), grupos paramilitares de direita, cartéis de droga, e militares
colombianos.
Os alvos têm sido especialmente ativistas de direitos humanos, uma vez que este ano já foram assassinados mais de 100. A pandemia foi o argumento perfeito
para alguns grupos armados exercerem pressão em várias regiões do país.
De acordo com uma universidade local, pelo menos 30 pessoas foram
assassinadas por “furar” a quarentena.
Sergio Guzmán, diretor da Colômbia Análise de Risco, culpa o governo
pelo que se está a passar. “Falhou em não seguir o projeto traçado pelo
acordo de paz. E a menos que isso mude, e vejamos um desenvolvimento
genuíno e não apenas uma resposta militar, estas mortes vão continuar a
acontecer”, diz Guzmán.
Iván Duque, presidente da Colômbia, sempre foi
cético em relação ao acordo de paz que herdou quando assumiu o cargo há
dois anos, relata o The Guardian.
O jornal britânico afirma que Duque culpou os grupos do narcotráfico pelo recente derramamento de sangue, e ordenou que as Forças Armadas fossem “implacáveis”
a dar resposta a este problema que está a assombrar a população. Porém,
o presidente acabou por receber duras críticas à forma como se referiu
aos massacres, descrevendo-os como “homicídios coletivos”.
Embora a atual onda de massacres tenha suscitado comparações com os
conflitos do final dos anos 90, os analistas garantem que a dinâmica
atual dos grupos armados é mais complicada.
Gimena Sánchez, defensora de direitos humanos na
Colômbia, afirma que “no passado, havia linhas e motivos ideológicos
claros. Agora este grupos fragmentaram-se e criaram as suas próprias
fações. A menos que haja uma mudança radical na atitude política de
Duque, e das elites económicas do país, as coisas vão continuar a piorar”.
https://zap.aeiou.pt/onda-massacres-na-colombia-39-mortes-apenas-duas-semanas-343149
Sem comentários:
Enviar um comentário