O “Portão do Inferno” da Sibéria continua a crescer à medida
que a área é cada vez mais atingida pelas alterações climáticas e pelos
incêndios florestais.
Oficialmente conhecida como a cratera Batajaika, a fenda de um
quilómetro de comprimento pode ser encontrada na República Sakha, na
Sibéria, nas profundezas orientais da Rússia.
Antes da década de 1960, a fenda em forma de girino era pouco mais do que uma pequena fossa, mas continuou a abrir-se a um ritmo alarmante nas últimas décadas, numa altura em que o aumento das temperaturas estão a derreter o permafrost na região.
Se o degelo do permafrost ocorrer numa encosta que é cortada por um riacho, isso pode causar o colapso do solo
e resultar numa “queda do degelo”, uma espécie de deslizamento do
Ártico. Isso ocorre em todo o Ártico siberiano, mas nenhum é mais
imponente que a cratera Batagaika.
Devido à sua aparência sobrenatural, os locais apelidaram-na de “Portão do Inferno”.
A fenda rasgou muitas terras nos últimos 60 anos, incluindo alguns locais sagrados do povo indígena da Sibéria, mas também forneceu aos cientistas uma série de informações sem precedentes. Um estudo realizado em 2017 constatou
que a fenda em expansão está a agitar o solo e florestas enterradas e
congeladas há 200 mil anos, permitindo que os cientistas estudem o clima
da Terra no registo dos sedimentos.
De acordo com a NASA, a cratera Batagaika revelou vários animais antigos, incluindo um cavalo pleistoceno, um bisão de estepe pré-histórico, leões das cavernas e lobos.
Com as temperaturas a continuar a subir na região, o derretimento de
gelo leva consigo os sedimentos, ampliando a fenda. A situação tornou-se
ainda mais grave este verão. As temperaturas médias na Sibéria foram 10° acima do normal em junho. Uma estação meteorológica na cidade de Verkhoyansk, no extremo norte, atingiu 38ºC.
De acordo com a revista Science, os cientistas querem saber como é que este verão poderá afetar a cratera Batagaika. Nas últimas décadas, a fenda avançou 10 metros por ano, mas essa taxa aumentou para 12 a 14 metros por ano em 2016, o ano mais quente já registado.
Além disso, enormes áreas da Sibéria Oriental foram recentemente atingidas com alguns dos piores incêndios florestais da memória recente.
“A vasta região da Sibéria na Rússia tornou-se um ponto quente do
clima, aquecendo muito mais rápido do que o resto do planeta”, disse Grigory Kuksin, chefe da unidade de incêndios florestais do Greenpeace na Rússia, em comunicado.
“Este verão já trouxe ondas de calor extremas, derramamentos de óleo causados pelo degelo do permafrost e incêndios florestais violentos – o que vem a seguir antes de finalmente agirmos?”, questionou.
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