Centenas
 de ucranianos protestaram em frente à embaixada da Rússia em Kiev, 
manifestando-se contra a proclamação russa da independências das 
repúblicas populares. 
“Bem-vindo ao inferno”, “não temos medo 
de Putin” e “escolhemos a Europa, não a Rússia”. Estes foram alguns dos 
cartazes que ucranianos exibiram em frente à embaixada da Rússia em 
Kiev, esta terça-feira. 
Segundo o 
The Guardian,
 estavam a manifestar-se contra a proclamação russa da independência das
 repúblicas populares de Donetsk e Lugansk. Houve cânticos, música e 
bandeiras amarelas e azuis à frente da embaixada de Moscovo. 
Os 
manifestantes insurgiram-se contra o discurso de segunda-feira do 
Presidente russo, que dava conta de que a Ucrânia sempre fizera parte da
 Rússia. 
“O Putin está insano, maluco“, disse um dos presente 
nos protestos, o ativista Roman Tyschenk, que garantiu que a “Ucrânia é 
um país e um Estado”. “Temos tradições antigas. Kiev foi fundada antes 
de Moscovo”.   
Outro ativista na manifestação, Serhiy Ikonnikov,
 afirmou que o exército “irá defender o país”. “Na história das guerras 
há sempre uma questão de motivação. O exército russo não a tem. Nós 
temo-la. Vamos defender o nosso país, as nossas casas, as nossas 
famílias. Se Putin invadir [a Ucrânia], será derramado muito sangue 
russo”. 
Serhiy Ikonnikov reconheceu ter “um pouco de medo” da 
guerra, mas mais pelos familiares do que propriamente por ele. No 
entanto, também assumiu haver uma “certa excitação”. 
“Se Putin 
nos invadir será o fim da Rússia“, vaticinou, referindo que será o 
“começo de uma nova Europa maravilhosa, sendo a Ucrânia membro dessa 
Europa”. 
Uma antiga bibliotecária reformada, Olga Machevska, 
também esteve presente na manifestação e indicou que a visão de Putin da
 história é errada: “Ele devia voltar ao arquivos”. 
“Nós tivemos
 ‘Kyivan Rus’ [uma confederação que ia desde a Ucrânia até à Finlândia 
desde o século IX ao XIII]. No século XI, nós construímos a catedral de 
Santa Sofia. Em Moscovo não havia nada: apenas bosques”, apontou. 
“Soluções diplomáticas” para a crise da Ucrânia 
O
 Presidente da Rússia insistiu esta quarta-feira que os interesses e a 
segurança do país “não são negociáveis”, elogiou as capacidades 
militares russas, mas disse estar pronto para encontrar “soluções 
diplomáticas” para a crise da Ucrânia. 
“O nosso país está sempre
 aberto ao diálogo direto e honesto para encontrar soluções diplomáticas
 para os problemas mais complexos”, afirmou Vladimir Putin, num discurso
 televisivo transmitido no Dia do Defensor da Pátria. 
“No entanto, os interesses e a segurança de nossos cidadãos não são para nós negociáveis”, acrescentou Putin, segundo o 
Diário de Notícias. 
A Rússia tem exigido aos países ocidentais garantias de que a Ucrânia nunca se tornará membro da NATO. 
Ao
 citar como ameaças à Rússia “o afrouxamento do sistema de controlo de 
armas” e “as atividades militares da NATO”, Putin defendeu, mais uma 
vez, que as preocupações russas permanecem “sem resposta”. 
O 
Presidente russo prometeu também continuar a desenvolver as capacidades 
do exército e da marinha, as “tecnologias digitais avançadas” e a 
inteligência artificial, e as chamadas armas hipersónicas. 
A Rússia desenvolveu nos últimos anos mísseis hipersónicos, alegadamente capazes de superar qualquer escudo existente. 
O país é também regularmente acusado de ataques cibernéticos em larga escala e campanhas de desinformação contra adversários. 
A Rússia reconheceu na segunda-feira como independentes os dois territórios ucranianos separatistas de 
Donetsk e Lugansk. 
Na
 terça-feira, as autoridades russas esclareceram que o reconhecimento se
 refere ao território ocupado quando as autoproclamadas repúblicas 
anunciaram esse estatuto em 2014, o qual inclui espaço atualmente detido
 pelas forças ucranianas. 
Putin anunciou que as forças armadas 
russas poderão deslocar-se para aqueles territórios ucranianos em missão
 de “manutenção da paz“, decisão que já foi autorizada pelo Senado 
russo. 
Sanções contra a Rússia e territórios separatistas 
O 
Japão, a Austrália e o Canadá anunciaram nas últimas horas sanções 
contra a Rússia e os territórios separatistas pró-russos de Lugansk e 
Donetsk, que o Presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu na 
segunda-feira como independentes. 
O primeiro-ministro japonês, 
Fumio Kishida, disse que o governo vai proibir nova emissões e 
distribuição de títulos de dívida soberana russa no Japão, em resposta 
às “ações da Rússia na Ucrânia”. 
Kishida disse que o país vai 
também proibir o comércio com Lugansk e Donetsk, suspender a emissão de 
vistos para as pessoas ligadas às duas zonas do leste da Ucrânia e 
congelar os bens desses indivíduos no Japão. 
O primeiro-ministro nipónico adiantou que as sanções vão entrar em vigor “o mais depressa possível”. 
Kishida
 indicou que o Japão está preparado para adotar medidas adicionais, se a
 situação piorar, em coordenação com os restantes países-membros do G7, e
 garantiu que o Japão fará tudo para proteger os japoneses que ainda 
estão na Ucrânia, apesar de Tóquio ter há dez dias aconselhado os seus 
cidadãos a abandonar o país. 
O primeiro-ministro australiano, 
Scott Morrison, anunciou sanções contra instituições bancárias como o 
VEB, um dos maiores bancos de investimento e desenvolvimento da Rússia, e
 o banco militar russo, entre outros. 
A Austrália vai também 
impor sanções contra indústrias de diversos setores, como a energia, 
mineração e hidrocarbonetos, das regiões de Donestsk e Lugansk, que 
passam ainda a ser abrangidas por sanções impostas em 2011 à Crimeia e a
 Sebastopol, então ocupadas pela Rússia. 
Morrison disse que a 
Austrália vai também proibir a entrada e aplicar sanções financeiras a 
oito membros do conselho de segurança da Rússia, órgão que reúne os 
principais decisores russos, em particular os líderes do Exército e dos 
serviços secretos. 
O governante referiu que ainda há cerca de 
1.400 australianos a viver na Ucrânia e acrescentou ter ordenado o 
processamento urgente dos pedidos de vistos apresentados por 1.400 
ucranianos, incluindo estudantes. 
Camberra já entrou em contacto
 com uma série de empresas para prevenir um possível ataque cibernético a
 infraestrutura crítica australiana em retaliação pelas sanções impostas
 contra a Rússia, disse Morrison. 
Já o Canadá vai passar a 
proibir os seus cidadãos “de realizarem quaisquer transações 
estrangeiras” com os territórios separatistas pré-russos de Lugansk e 
Donetsk. Os canadianos estão também proibidos de “participar na compra 
de dívida russa”. 
O primeiro-ministro Justin Trudeau revelou 
também, em conferência de imprensa, sanções aos parlamentares russos que
 votaram a favor da “decisão ilegal de reconhecer esses territórios”. 
O
 chefe do governo explicou ainda que até 460 militares das Forças 
Armadas do Canadá vão ser mobilizados para a Letónia, para reforçar a 
NATO perante a ameaça de uma invasão da Rússia à Ucrânia. 
As 
medidas reveladas por Austrália, Japão e Canadá surgem no seguimento dos
 anúncios por outros países e organismos ocidentais, como a UE que 
aprovou esta terça-feira um “
pacote de sanções” contra a Rússia “por unanimidade”. 
O
 Reino Unido anunciou sanções contra três oligarcas conhecidos por serem
 próximos do Presidente russo, Vladimir Putin, e contra cinco bancos 
russos. 
O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que Berlim tomou medidas para interromper o 
processo de certificação do gasoduto Nord Stream 2, para distribuição de gás natural russo à Alemanha. 
Já o Presidente norte-americano, Joe Biden, anunciou um conjunto de sanções económicas a indivíduos, entidades e bancos russos. 
Joe
 Biden afirmou que os Estados Unidos da América impõem, no imediato, um 
“bloqueio total” a duas grandes instituições financeiras russas e 
“sanções abrangentes” à dívida russa.
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