Esta segunda-feira começou um julgamento histórico em Minneapolis, nos Estados Unidos. Derek Chauvin foi acusado de sufocar deliberadamente até à morte George Floyd, enquanto a defesa do ex-polícia justificou o uso da força, invocando o consumo de drogas por parte do afro-americano.
O vídeo chocante de um polícia de Minneapolis ajoelhado no pescoço de George Floyd foi o foco da abertura da argumentação, esta segunda-feira, no arranque do julgamento da morte que abalou os Estados Unidos.
A defesa de Derek Chauvin, que pressionou o pescoço de Floyd numa manobra que seria fatal, alegou que consegue provar que o afro-americano estava drogado (o que teria forçado os agentes policiais a serem mais duros) e que a sua morte se devia mais às drogas e aos seus problemas de saúde do que propriamente à asfixia.
“Nove minutos e 29 segundos. Esse foi o tempo que durou”, disse o procurador Jerry Blackwell, sobre o tempo que Chauvin manteve o joelho pressionado sobre o pescoço de Floyd. No vídeo, Floyd, algemado e com o corpo estendido de bruços na calçada, tentava recuperar o fôlego enquanto os pedestres pediam ao polícia para não usar tanta força.
“Não consigo respirar“, implorou Floyd, antes de desmaiar.
Há 19 anos na polícia, Chauvin é acusado de assassinato e homicídio culposo e enfrenta até 40 anos de prisão se for declarado culpado da acusação mais grave: assassinato em segundo grau. O veredito deve ser conhecido no final de abril ou início de maio.
O vídeo da morte de Floyd, gravado e transmitido ao vivo nas redes sociais por um pedestre, gerou protestos antirracistas e confrontos pelos abusos policiais contra os negros em todo o território norte-americano e até noutros países.
O Presidente Joe Biden “certamente estará a observar de perto, assim como todos os americanos”, afirmou a sua porta-voz, Jen Psaki, mencionando a “ferida” que este caso deixou no país.
“Força excessiva e irracional”
Durante a sua intervenção, Blackwell disse que o antigo agente de 45 anos não seguiu os procedimentos policiais e agiu de forma insensível ao continuar a pressionar o corpo imóvel de Floyd contra o chão. “O senhor Derek Chauvin traiu o seu distintivo policial quando usou uma força excessiva e irracional sobre o corpo do senhor George Floyd.”
“Ele colocou os joelhos sobre o pescoço e as costas, magoando-o e esmagando-o, até que a sua respiração – não, senhoras e senhores, até que a própria vida – lhe fosse arrancada“, acrescentou.
O advogado de Chauvin, Eric Nelson, disse ao júri que Floyd estava sob a influência de drogas ao ser detido e resistiu à prisão. “Derek Chauvin fez exatamente o que foi treinado a fazer”, afirmou Nelson, pedindo ao júri para ignorar a política e os movimentos sociais que rondam o caso.
“Não existe nenhuma causa política ou social nesta sala”, acrescentou.
“As evidências mostrarão que Floyd morreu de arritmia cardíaca por causa da hipertensão, a sua doença coronária, a ingestão de metanfetamina e fentanil e a adrenalina que fluía no seu corpo. Tudo isso comprometeu ainda mais partes do corpo que já estavam comprometidas”, argumentou.
O julgamento de Chauvin, transmitido ao vivo, tornou-se o centro das atenções para o movimento Black Lives Matter e uma prova sobre o exercício da justiça no âmbito policial.
O advogado e os membros da família Floyd ajoelharam-se durante o tempo em que Chauvin pressionou o joelho sobre o pescoço de Floyd no vídeo.
“Achei que a imagem tinha congelado”
Blackwell deixou claro que não pretende julgar todos os polícias, apenas Chauvin, que foi demitido do departamento de polícia de Minneapolis após o incidente.
Ben Crump, advogado dos direitos civis que representa a família da vítima, disse que o advogado de defesa de Chauvin “vai tentar assassinar o caráter de George Floyd“. “Mas este é o julgamento de Derek Chauvin, vamos ver o seu histórico”, afirmou. “Os fatos são simples. O que matou George Floyd foi uma overdose de força excessiva”.
Para mostrar que a atitude do agente foi equivocada, o procurador chamou como primeira testemunha a operadora que enviou a polícia para onde Floyd estava.
Jena Scurry disse que os viu nas imagens de uma câmara de segurança enquanto atendia outras chamadas. “Achei que a imagem tinha congelado“, porque ficaram muito parados durante muito tempo. “O meu instinto dizia-me que algo estava errado.”
Foi então que Scurry decidiu chamar outro polícia para relatar o incidente.
Donald Williams, um instrutor de artes marciais que estava no local do assassinato, afirmou ter dito a Chauvin que a sua maneira de imobilizar Floyd pelo pescoço era equivalente a uma manobra perigosa usada em combates chamada de “blood choke”, ou “sufocamento de sangue”.
O julgamento acontece numa sala de Minneapolis fortemente vigiada. O processo deve durar aproximadamente um mês.
O júri de 14 membros é racialmente misto: seis mulheres brancas, três homens negros, dois homens brancos e três mulheres negras.
Os policias raramente são condenados nos Estados Unidos e a sentença por qualquer uma das acusações contra Chauvin exigirá que o júri emita um veredito unânime.
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