Um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) conclui que a
 pandemia do novo coronavírus poderá deixar mais 520 milhões de pessoas a
 viver com rendimentos inferiores a cinco euros por dia, num cenário de 
contração económica de 20%.
Um estudo divulgado esta quinta-feira pelo Instituto Mundial da 
Universidade das Nações Unidas alerta que a pandemia da covid-19 pode 
deixar mais 520 milhões de pessoas a viver com rendimentos inferiores a cinco euros por dia.
O estudo conclui que a pandemia do novo coronavírus vai aumentar o 
número de pobres nos países em desenvolvimento, referindo que, num 
cenário de contração económica de 20% em relação a 2018 – o pior que o 
instituto antevê –, 520 milhões de pessoas podem passar a viver abaixo 
do limiar de pobreza dos 5,5 dólares (cerca de 5 euros) por dia.
Este valor representa 8% do total da população humana,
 refere o estudo publicado pela UNU-WIDER, sublinhando que esta “seria a
 primeira vez que a pobreza aumentaria globalmente desde 1990”.
De acordo com os autores – Andy Sumner e Eduardo Ortiz-Juarez, do 
King’s College London, e Chris Hoy, da Universidade Nacional da 
Austrália –, uma queda da economia desta ordem “reverteria em uma década
 o progresso global na redução da pobreza”.
O Instituto Mundial da Universidade das Nações Unidas para Pesquisa 
em Economia do Desenvolvimento, que faz parte da Universidade das Nações
 Unidas, refere ainda que, neste cenário, 420 milhões de pessoas deverão
 passar a sobreviver com menos de 1,9 dólares diários (cerca de 1,7 euros). Ainda de acordo com o estudo, 580 milhões viverão com menos de 3,20 dólares por dia (3 euros).
A análise prevê, no entanto, cenários de contração da economia menos graves, fazendo análises para o caso de uma queda de 5% ou de 10%.
 “Numa contração de 10%, caso todos os outros pressupostos se mantenham 
iguais, os aumentos na contagem de pobreza” esperados mostram que 180 
milhões de pessoas vão passar a viver com menos de 1,9 dólares diários e
 250 milhões com menos de 5,5 dólares por dia, adianta o documento.
No cenário menos duro em termos económicos, ou seja, caso a pandemia 
provoque uma contração da economia na ordem dos 5%, os autores do estudo
 estimam que mais de 80 milhões de pessoas vão viver com um rendimento 
inferior a 1,9 dólares diários e 124 milhões com menos de 5,5 dólares.
A concentração de novos pobres abaixo da linha de 1,9 a 3,2 dólares 
por dia ocorreria, de acordo com os autores, nas regiões mais carentes 
do mundo, nomeadamente na África subsaariana e no sul da Ásia. “Estas 
regiões podem acumular entre 66% e 85% do total de novos pobres”, consideram.
Relativamente à linha de pobreza mais alta (5,5 dólares diários), a maioria (cerca de 40%) dos novos pobres viverá no leste da Ásia e no Pacífico,
 cerca de um terço na região subsaariana de África e no sul da Ásia, 
enquanto cerca de 10% é do Médio Oriente, do Norte da África e da 
América Latina e Caraíbas.
Os autores do estudo referem que as suas estimativas do potencial 
impacto da Covid-19 na pobreza são a curto prazo e baseadas nos países 
em desenvolvimento.
“Embora essas estimativas tenham limitações importantes, já que se 
baseiam em premissas neutras de distribuição e omitem variáveis no 
mercado de trabalho, na política social e fiscal e nas respostas das 
famílias às contrações económicas, os valores pretendem ser indicativos 
do aumento potencial da pobreza”, afirmam.
“Apesar de os impactos da pandemia da Covid-19 poderem estar sobreavaliados, não há dúvida de que os resultados reais serão dramáticos nos países em desenvolvimento”, anteveem.
“Também não há dúvida, com base nas evidências de crises globais 
anteriores, que indicadores não monetários, como a mortalidade infantil e
 materna, a desnutrição e o desempenho educacional serão seriamente 
atingidos”, alertam, sublinhando que “a severidade dos efeitos dependerá
 de quanto tempo durar a pandemia e de como os governos nacionais e a 
comunidade internacional reagirem”.
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