Guardas mulheres pertenceram à SS durante a 2º Guerra Mundial
Perseguir, torturar e matar judeus não foi uma ação
impulsionada apenas por homens. Na altura da Segunda Guerra Mundial
foram muitas as mulheres que se juntaram à SS para fiscalizar e realizar
tarefas nos campos de concentração nazis.
“Trabalhadoras mulheres, saudáveis e com idades entre 20 e 40 anos
são procuradas para um local militar. Bons salários e alimentação
gratuita, acomodação e roupas são prometidos”, podia ler-se no anúncio
de emprego de um jornal alemão de 1944.
O que não era mencionado é que a roupa era um uniforme da SS (polícia nazi), e que o “local militar” seria o campo de concentração feminino de Ravensbrück, na Alemanha.
Naquele local trabalharam guardas mulheres, algumas com filhos. Das
varandas, as colaboradoras do regime nazi podiam observar uma floresta e
um lago.
“Foi a época mais bonita da minha vida”, afirmou uma ex-guarda,
décadas depois, apesar da janela do seu quarto lhe mostrar a outra
realidade – o dia a dia das prisioneiras e as chaminés da câmara de gás.
A grande maioria das jovens que ingressava nos campos de concentração
eram provenientes de famílias pobres, abandonaram a escola cedo ou
tiveram poucas oportunidades de carreira.
Por isso, um trabalho num campo de concentração significava salários mais altos, acomodações confortáveis e independência financeira. “Era mais atraente do que trabalhar numa fábrica”, diz Andrea Genest, diretora do museu de Ravensbrück.
Muitas dessas mulheres foram doutrinadas por grupos de jovens nazis e acreditavam na ideologia de Hitler. “Elas sentiram que estavam a apoiar a sociedade, fazendo algo contra os seus inimigos”, explica Genest.
Espancadas, torturadas ou assassinadas
Cerca de 3.500 mulheres trabalharam como guardas em
campos de concentração nazis, e todas começaram em Ravensbrück. Mais
tarde, algumas acabaram por ir trabalhar em campos fora do país como é o
caso de Auschwitz-Birkenau ou Bergen-Belsen.
“Eram pessoas horríveis”, recorda Selma van de Perre, de 98 anos, que foi uma ativista da resistência judaica holandesa e que acabou por ser presa em Ravensbrück. “Provavelmente estas mulheres gostaram das funções que exerciam porque lhes deu poder. Algumas prisioneiras foram muito maltratadas, espancadas”, conta a ativista.
Os pais e a irmã de Selma foram mortos nos campos de concentração e
quase todos os anos a holandesa regressa a Ravensbrück para participar
em eventos que têm como objetivo garantir que os crimes cometidos não
serão esquecidos.
Ravensbrück era o maior campo exclusivamente feminino da Alemanha
nazi e mais de 120 mil mulheres de toda a Europa foram presas naquele
local. Algumas delas lutavam pela resistência ou opositores políticos,
outras foram consideradas “inadequadas” para a sociedade nazi, pois eram
judias, lésbicas, prostitutas ou sem-abrigo.
No campo de concentração alemão, grande parte das mulheres foram
intoxicadas por gás ou enforcadas, outras morreram à fome, devido a
doenças ou mesmo porque trabalhavam até à morte. Foram tratadas brutalmente por muitas das guardas, sendo espancadas, torturadas ou assassinadas, conta a BBC.
“Cometi um erro? Não.”
Após a guerra, durante os julgamentos de crimes de guerra, Irma Grese foi apelidada de “bela fera” pela imprensa. A jovem era atraente e loira e foi considerada culpada por vários assassinatos, sendo depois condenada à morte por enforcamento.
Desta forma, o cliché da mulher loira e sádica que usava um uniforme da SS, mais tarde tornou-se numa figura sexualizada em filmes e livros de banda desenhada.
Porém, das milhares de mulheres que trabalhavam como guardas da SS,
apenas 77 foram levadas a julgamento. E muito poucas foram realmente
condenadas.
Herta Bothe, uma dessas mulheres, que foi presa por
atos de violência, falou publicamente mais tarde. A alemã foi perdoada
pelos britânicos pelas mortes que causou, mas numa rara entrevista,
gravada em 1999, pouco antes de morrer, a mulher não mostrou
arrependimento.
“Cometi um erro? Não. O erro foi trabalhar num campo
de concentração, mas eu tinha que ir para lá, caso contrário eu mesma
teria sido colocada nele”.
De acordo com a BBC, esta era a desculpa que as ex-guardas costumavam dar quando iam trabalhar para os campos, mas não era verdade.
Os registos mostram que algumas recrutas deixaram Ravensbrück assim que
perceberam do que se tratava, sendo que foram autorizadas a sair e não
sofreram quaisquer consequências.
Desde o final da Segunda Guerra, as guardas da SS foram transformadas
em ficção em livros e filmes. O mais famoso foi “O Leitor”, um romance
alemão que mais tarde se tornou num filme protagonizado por Kate Winslet.
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