O caso está a chocar Espanha e o Brasil. Uma mulher brasileira de 36 anos foi assassinada pelo filho, de 17, que escondeu o corpo mutilado numa mala e colocou-a dentro de um armário, em casa, no município de Foz, na Galiza. "Quero pôr um trinco na porta do meu quarto. O menino está muito estranho", tinha dito a vítima a um amigo meses antes.
Minaene F., natural de Gurupi, município do Estado brasileiro de Tocantins, onde nasceu em 1983, decidiu ir viver para Espanha há 14 anos. Há cerca de dois anos, mudou-se para Foz, vinda de outro município próximo, na região da Galiza. De acordo com o jornal "El País", o filho, de 17 anos, estava a tirar um curso de técnico auxiliar de ação médica, em Burela, a cerca de 14 quilómetros, e "Mina", como era conhecida entre os amigos, tinha começado um curso de chefe de cozinha num colégio em Foz.
Mina e o filho viviam sozinhos num apartamento arrendado naquele município, que tem cerca de 10 mil habitantes. O resto da família ficou no Brasil. Ao "El País", as amigas de Mina contam que o jovem era "retraído, calado e pacato". Apesar de mostrar sempre respeito por elas, parecia não o fazer com a própria mãe. "Para que dissesse duas palavras era preciso perguntar-lhe" e "nunca olhava nos olhos", recordam, acrescentando que o rapaz "não tinha amigos" e "estava sempre sozinho". Isso levou a que a relação entre mãe e filho se tenha tornado "tóxica", explicou uma das amigas, Kelly Gonçalves.
Foi então que os sinais começaram a aparecer. Mina, descrita como uma pessoa "extrovertida, mas muito reservada sobre a sua vida", terá falado com um amigo, há alguns meses, e disse-lhe: "Quero pôr um trinco na porta do meu quarto. O menino está muito estranho". Mina já não se sentia segura em casa com o filho. Alguns amigos viram marcas de agressões, outros assistiram a discussões. O jovem tornou-se violento, mas só com a própria mãe.
"Fiz uma coisa", disse o jovem a um desconhecido
Na segunda-feira passada, o cadáver esfaqueado de Mina foi encontrado dentro de uma mala, escondida num armário de casa. A mulher terá sido assassinada no sábado à tarde e tentou defender-se, apesar de ser muito mais pequena do que o filho. Pouco depois, um homem viu o jovem num parque e ao reparar que tinha a mão ensanguentada perguntou-lhe o que tinha acontecido. "Fiz uma coisa", respondeu o menor, que nessa noite foi a um serviço de urgência para fazer curativos aos cortes profundos na mão.
Mas foi só na noite do passado domingo [dia 3 de novembro] que a amiga Kelly fez a chamada de emergência, no corredor do prédio onde Mina e o filho viviam. Em frente à porta do apartamento, no quarto andar do edifício, havia "duas gotas de sangue". Ninguém abria a porta e Kelly intuiu que algo tinha acontecido.
Na segunda-feira de manhã, já com mandado, agentes da Guarda Civil entraram no apartamento e encontraram o cadáver de Mina com marcas de facadas, escondido numa mala dentro de um armário. Meia hora depois, o menor, que tinha saído de casa para tomar o pequeno-almoço, foi detido como suposto autor do homicídio. Segundo um vizinho, o jovem manteve a televisão ligada a noite toda, enquanto o cadáver da mãe permanecia no armário.
Amigas recordam mulher "superfeliz" e sempre de "sorriso no rosto"
Kelly revelou ao "El País" que na última mensagem de voz que Mina lhe enviou, no sábado de manhã [2 de novembro], pelo WhatsApp, falou-lhe da máscara que tinha usado numa festa de Halloween. "Naquela noite ela estava lindíssima e superfeliz", disse Kelly, recordando que a amiga tinha comprado aquela máscara depois de emigrar do Brasil para Itália e que ainda a guardava como uma lembrança de uma vida de luta pelo filho.
Outra amiga, Rosi, moradora do edifício vizinho e também brasileira, tratava Mina como "a bonequinha", porque "tinha sempre o cabelo todo encaracolado e um sorriso tão lindo sempre no rosto". Um dia, notou que algo de estranho se passava. "Encontrei-a num café com os olhinhos húmidos e falei 'bonequinha, o que você tem?', e ela começou a chorar. Contou-me que o menino a tinha empurrado e mostrou-me um hematoma enorme que tinha nas costas inteiras, por ter batido na bancada da cozinha", revelou.
Maria Aparecida Rodrigues, ou "Mari", dona do bar "A Charanga do Cuco", onde a vítima trabalhava, disse que Mina lhe contou que "o ex, que já morreu, a tinha abandonado". "Ela era tudo para aquele menino, o pai e a mãe, e acho que se sentia carente, porque ela tinha que trabalhar e ganhar a vida. Desdobrava-se pelo filho e veio para a Europa por causa dele. No começo deixou o garoto lá, com uma das irmãs tomando conta, mas o trouxe quando pôde. Pediu-me que fizesse um contrato para ela conseguir a permissão de residência e eu fiz", recordou Mari. A dona do bar disse ainda que Mina "era boa cozinheira", mas que lá "trabalhava ao balcão", enquanto o filho ajudava como empregado de mesa quando precisavam de reforços.
"Pouco a pouco, ele foi criando um ódio"
O Tribunal de Menores da província de Lugo informou na última terça-feira que a identidade do jovem seria preservada, por ser menor, e que ele ficaria em regime fechado numa instituição.
Mari disse ao "El País" que embora o rapaz fosse "obediente" e "correto" com toda a gente, tinha muitas discussões com a mãe. "Qualquer pessoa que tenha um filho adolescente sabe como é difícil, mas ninguém imaginou que eles estavam tão mal. Ela [a mãe] queria procurar ajuda das instituições e não sabia bem como encaminhar a situação. Quando ele se comportava mal, ela castigava-o tirando o celular [telemóvel] e outros aparelhos. Pouco a pouco, acho que ele foi criando um ódio", lamentou a amiga da vítima.
Kelly e Mari estão a reunir doações de amigos de Espanha e Brasil para ajudar a pagar a trasladação do corpo da amiga para o seu país. "Ela sonhava em dar um bom futuro ao filho. Economizava. Tinha comprado um terreno no Brasil para fazer uma casinha e ficar perto dos seus pais e irmãs. É justo que Mina volte para a sua família".
Minaene F., natural de Gurupi, município do Estado brasileiro de Tocantins, onde nasceu em 1983, decidiu ir viver para Espanha há 14 anos. Há cerca de dois anos, mudou-se para Foz, vinda de outro município próximo, na região da Galiza. De acordo com o jornal "El País", o filho, de 17 anos, estava a tirar um curso de técnico auxiliar de ação médica, em Burela, a cerca de 14 quilómetros, e "Mina", como era conhecida entre os amigos, tinha começado um curso de chefe de cozinha num colégio em Foz.
Mina e o filho viviam sozinhos num apartamento arrendado naquele município, que tem cerca de 10 mil habitantes. O resto da família ficou no Brasil. Ao "El País", as amigas de Mina contam que o jovem era "retraído, calado e pacato". Apesar de mostrar sempre respeito por elas, parecia não o fazer com a própria mãe. "Para que dissesse duas palavras era preciso perguntar-lhe" e "nunca olhava nos olhos", recordam, acrescentando que o rapaz "não tinha amigos" e "estava sempre sozinho". Isso levou a que a relação entre mãe e filho se tenha tornado "tóxica", explicou uma das amigas, Kelly Gonçalves.
Foi então que os sinais começaram a aparecer. Mina, descrita como uma pessoa "extrovertida, mas muito reservada sobre a sua vida", terá falado com um amigo, há alguns meses, e disse-lhe: "Quero pôr um trinco na porta do meu quarto. O menino está muito estranho". Mina já não se sentia segura em casa com o filho. Alguns amigos viram marcas de agressões, outros assistiram a discussões. O jovem tornou-se violento, mas só com a própria mãe.
"Fiz uma coisa", disse o jovem a um desconhecido
Na segunda-feira passada, o cadáver esfaqueado de Mina foi encontrado dentro de uma mala, escondida num armário de casa. A mulher terá sido assassinada no sábado à tarde e tentou defender-se, apesar de ser muito mais pequena do que o filho. Pouco depois, um homem viu o jovem num parque e ao reparar que tinha a mão ensanguentada perguntou-lhe o que tinha acontecido. "Fiz uma coisa", respondeu o menor, que nessa noite foi a um serviço de urgência para fazer curativos aos cortes profundos na mão.
Mas foi só na noite do passado domingo [dia 3 de novembro] que a amiga Kelly fez a chamada de emergência, no corredor do prédio onde Mina e o filho viviam. Em frente à porta do apartamento, no quarto andar do edifício, havia "duas gotas de sangue". Ninguém abria a porta e Kelly intuiu que algo tinha acontecido.
Na segunda-feira de manhã, já com mandado, agentes da Guarda Civil entraram no apartamento e encontraram o cadáver de Mina com marcas de facadas, escondido numa mala dentro de um armário. Meia hora depois, o menor, que tinha saído de casa para tomar o pequeno-almoço, foi detido como suposto autor do homicídio. Segundo um vizinho, o jovem manteve a televisão ligada a noite toda, enquanto o cadáver da mãe permanecia no armário.
Amigas recordam mulher "superfeliz" e sempre de "sorriso no rosto"
Kelly revelou ao "El País" que na última mensagem de voz que Mina lhe enviou, no sábado de manhã [2 de novembro], pelo WhatsApp, falou-lhe da máscara que tinha usado numa festa de Halloween. "Naquela noite ela estava lindíssima e superfeliz", disse Kelly, recordando que a amiga tinha comprado aquela máscara depois de emigrar do Brasil para Itália e que ainda a guardava como uma lembrança de uma vida de luta pelo filho.
Outra amiga, Rosi, moradora do edifício vizinho e também brasileira, tratava Mina como "a bonequinha", porque "tinha sempre o cabelo todo encaracolado e um sorriso tão lindo sempre no rosto". Um dia, notou que algo de estranho se passava. "Encontrei-a num café com os olhinhos húmidos e falei 'bonequinha, o que você tem?', e ela começou a chorar. Contou-me que o menino a tinha empurrado e mostrou-me um hematoma enorme que tinha nas costas inteiras, por ter batido na bancada da cozinha", revelou.
Maria Aparecida Rodrigues, ou "Mari", dona do bar "A Charanga do Cuco", onde a vítima trabalhava, disse que Mina lhe contou que "o ex, que já morreu, a tinha abandonado". "Ela era tudo para aquele menino, o pai e a mãe, e acho que se sentia carente, porque ela tinha que trabalhar e ganhar a vida. Desdobrava-se pelo filho e veio para a Europa por causa dele. No começo deixou o garoto lá, com uma das irmãs tomando conta, mas o trouxe quando pôde. Pediu-me que fizesse um contrato para ela conseguir a permissão de residência e eu fiz", recordou Mari. A dona do bar disse ainda que Mina "era boa cozinheira", mas que lá "trabalhava ao balcão", enquanto o filho ajudava como empregado de mesa quando precisavam de reforços.
"Pouco a pouco, ele foi criando um ódio"
O Tribunal de Menores da província de Lugo informou na última terça-feira que a identidade do jovem seria preservada, por ser menor, e que ele ficaria em regime fechado numa instituição.
Mari disse ao "El País" que embora o rapaz fosse "obediente" e "correto" com toda a gente, tinha muitas discussões com a mãe. "Qualquer pessoa que tenha um filho adolescente sabe como é difícil, mas ninguém imaginou que eles estavam tão mal. Ela [a mãe] queria procurar ajuda das instituições e não sabia bem como encaminhar a situação. Quando ele se comportava mal, ela castigava-o tirando o celular [telemóvel] e outros aparelhos. Pouco a pouco, acho que ele foi criando um ódio", lamentou a amiga da vítima.
Kelly e Mari estão a reunir doações de amigos de Espanha e Brasil para ajudar a pagar a trasladação do corpo da amiga para o seu país. "Ela sonhava em dar um bom futuro ao filho. Economizava. Tinha comprado um terreno no Brasil para fazer uma casinha e ficar perto dos seus pais e irmãs. É justo que Mina volte para a sua família".
Fonte: https://www.jn.pt/mundo/jovem-de-17-anos-matou-a-mae-e-escondeu-o-corpo-dentro-de-armario-11502306.html