A guerra aberta entre a liderança do Partido Popular (PP) e a presidente da Comunidade de Madrid, do mesmo partido, desviou hoje atenções das negociações sobre o próximo governo regional em Castela e Leão.
O confronto entre a direção nacional do partido e Isabel Díaz Ayuso colocou em segundo plano a busca pelo candidato do PP em Castela e Leão dos votos necessários para continuar como chefe do executivo na comunidade autonómica, se possível sem a ajuda da extrema-direita.
Díaz Ayuso acusou hoje o seu partido de tentar destruí-la de forma “cruel”, uma declaração que deverá ter consequências, ainda imprevisíveis, e que foi comentada todas as formações políticas espanholas.
A presidente da Comunidade de Madrid sustentou que o seu partido, o PP, e o seu líder, Pablo Casado, estão a fazer manobras para a desacreditar “pessoal e politicamente” e a tentar ligá-la à corrupção a partir do “anonimato”, “sem provas” e envolvendo a sua família.
Uma quase desconhecida até há um ano, Díaz Ayuso ganhou grande protagonismo ao vencer de forma contundente, quase com maioria absoluta, as eleições regionais em maio de 2021 na região em que se encontra a capital de Espanha.
“Nunca poderia imaginar que a liderança nacional do meu partido agiria de forma tão cruel e injusta contra mim”, disse hoje Ayuso aos meios de comunicação social numa declaração sem direito a perguntas, acrescentando que nunca poderia imaginar que “alguém dentro do partido” faria acusações contra ela e que tentariam espiá-la.
A imprensa espanhola escreve que responsáveis do PP próximos da direção nacional “contactaram várias agências de detetives para sondar a possibilidade de as contratarem para localizar os documentos fiscais e bancários do irmão de Ayuso”.
O secretário-geral do PP desmentiu “de forma taxativa e sem reservas” as acusações.
No entanto, em declarações à ABC, o detetive Julio Gutiez disse ter sido contactado por “pessoas ligadas a uma empresa do Partido Popular ou na qual o PP governa” para encomendarem uma investigação à presidente da Comunidade de Madrid.
Além disso, esta quinta-feira, o jornal El Mundo divulgou um áudio em que se ouve o presidente da Empresa Municipal de la Vivienda (EMV), Álvaro González, a contactar pessoalmente os detetives, para tentar encomendar os serviços espionagem.
A liderança nacional do PP estaria a investigar desde outubro passado um contrato de 1,5 milhões de euros relacionado com o irmão da presidente de Madrid, tendo-lhe pedido explicações sobre as possíveis irregularidades.A investigação teria sido feita sobre o irmão da líder de Madrid, Tomás Díaz Ayuso, e pretendia, entre outras coisas, obter uma declaração da sua conta bancária pessoal, bem como a lista dos fornecedores da empresa Priviet Sportive, à qual a Comunidade de Madrid adjudicou em abril de 2020 um contrato direto de 1,5 milhões de euros para a compra de máscaras FFP2 e FFP3.
O objetivo deste serviço de investigação, de acordo com as informações citadas pela imprensa espanhola, era esclarecer se o irmão de Díaz Ayuso recebeu comissões pela sua alegada intermediação no referido concurso público.
“Não há nada de ilegal”, garantiu Isabel Díaz Ayuso, salientando que este contrato foi feito quando todas as comunidades e instituições estavam à procura de material de saúde.
Por seu lado, o presidente da câmara municipal de Madrid, José Luis Martínez-Almeida, confirmou que ordenou uma investigação sobre a alegada contratação de um detetive para espiar Isabel Díaz Ayuso e as investigações concluíram que não havia “nenhum contrato” nesse sentido.
“Nem o meu governo nem eu intervimos para adjudicar este ou qualquer outro contrato a alguém da minha família”, afirmou Ayuso, que insistiu: o meu irmão “trabalha como vendedor no setor da saúde há 26 anos, muito antes de eu entrar para a política, mas nunca o ajudei a conseguir nada na sua vida profissional”.
Ayuso pediu que fossem apresentadas provas em como agiu em benefício do seu irmão, porque “ninguém terá uma única prova de corrupção da minha parte”, sublinhou ela.
O secretário-geral do PP, Teodoro García Egea, anunciou esta tarde que o partido abriu um expediente informativo contra a presidente da Comunidade de Madrid pelas graves acusações que lançou contra o líder do PP que ele considera ter sido “quase criminoso”.
A situação de guerra interna no PP levou todos os outros partidos a exigirem que o caso fosse esclarecido, mas o primeiro-ministro socialista espanhol, Pedro Sánchez, que está a participar numa cimeira em Bruxelas entre a União Europeia e a União Africana, preferiu não falar hoje sobre o tema.
Citado pelo Público, o porta-voz da Esquerda Republicana da Catalunha no Congresso, Gabriel Rufián, considera que estas práticas do PP são próprias de “clãs mafiosos”.
Entretanto, em Castela e Leão o Vox (extrema-direita) já está a pedir a presidência do parlamento regional como parte do seu possível apoio ao candidato do PP, de acordo com fontes próximas do partido citadas pela agência Efe, insistindo que pretendem estar no governo regional da mesma forma como o Cidadãos (direita liberal) esteva na legislatura anterior.
O candidato do PP para continuar a assegurar a presidência da comunidade autonómica, Alfonso Fernández Mañueco, exclui de forma contundente a repetição das eleições realizadas no domingo passado e defendeu, mais uma vez, por um acordo parlamentar que lhe permitiria “um governo [regional] forte, sólido e solitário durante quatro anos”.
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