O
presidente dos EUA, Joe Biden, alerta que uma invasão da Rússia à
Ucrânia “mudaria o mundo”, pois provocaria “enormes consequências”. Um
aviso que surge numa altura de alta tensão na fronteira russo-ucraniana.
Biden assegura que não tem “intenções de enviar forças
norte-americanas ou da NATO para a Ucrânia”, mas os EUA colocaram 8.500
militares em “alerta máximo” perante uma possível necessidade de ajudar a
Ucrânia, em caso de invasão russa.
O Departamento de Estado
norte-americano já ordenou a todos os seus cidadãos na Embaixada dos EUA
na Ucrânia para deixarem o país, conforme avançam vários media
internacionais.
Entretanto, os EUA têm estado a enviar
equipamento militar para a Ucrânia no âmbito de um pacote de “ajuda
letal”, como é designada pelos órgãos de informação norte-americanos, de
200 milhões de dólares que foi aprovado por Biden em Dezembro passado.
O
Reino Unido também enviou armas anti-tanques e outra ajuda militar para
treinar as forças ucranianas, enquanto a República Checa anunciou que
vai oferecer munições anti-aéreas.
A NATO anunciou, entretanto, o reforço das suas tropas nos países da Europa de Leste.
Enquanto
isso, a Alemanha recusa enviar armamento para a Ucrânia e aposta antes
na ajuda com material médico, uma posição que já foi criticada pelo
ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba.
Já o
presidente francês, Emmanuel Macron, defende o diálogo e diz que vai
ter uma conversa telefónica com o presidente russo, Vladimir Putin,
nesta sexta-feira.
E mesmo que a Rússia continue a negar
quaisquer planos para uma invasão, Biden vai lançando alertas de que
esse cenário levaria a “sanções económicas significativas”, incluindo
medidas que podem afectar pessoalmente Putin.
Seria “a maior invasão desde a Segunda Guerra Mundial” e “isso mudaria o mundo”, avisa ainda o presidente dos EUA.
Sistema Swift como arma “nuclear”
Uma
das sanções em cima da mesa contra a Rússia será a possibilidade de
desligar o país da rede financeira Swift, o sistema de transacções
financeiras que é essencial para o comércio e as finanças
internacionais.
O Swift permite os pagamentos automáticos e
seguros entre clientes e transacções de acções e obrigações no mercado
de capitais. Cortar a ligação desta rede internacional à Rússia é uma
medida definida como “nuclear”, pois afectaria de forma drástica a
economia russa, como
repara o jornal francês Le Monde.
Sem
esse sistema de transacções, os bancos russos seriam obrigados a voltar
ao tempo do “antigamente”, com as operações a serem feitas por via
manual, através de fax ou de email, o que levaria a atrasos e a riscos
de segurança, conforme realça o Le Monde.
A ameaça de usar o
“Swift” como uma espécie de “bomba atómica” contra a Rússia terá sido
feita pelos EUA, ainda de acordo com o mesmo jornal francês, no âmbito
do que seria uma “guerra económica” como resposta contra a invasão à
Ucrânia.
Em 2012, o Irão já foi alvo de uma medida semelhante,
quando a ligação do sistema Swift a este país foi suspensa por ordem do
Conselho da União Europeia (UE), após pressões dos EUA. A medida
permitiu isolar e enfraquecer a economia iraniana no âmbito das
discussões em torno do seu programa nuclear.
Contudo, a
possibilidade de fazer o mesmo à Rússia levanta algum cepticismo dos
líderes mundiais. A ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha,
Annalena Baerbock, já expressou as suas dúvidas em entrevista ao jornal
alemão Sueddeutsche Zeitung.
Gás como “arma” contra a Europa
Entretanto,
na guerra sem equipamentos militares, também há a preocupação de que a
Rússia use o gás que abastece boa parte da Europa como arma de
arremesso.
Segundo dados do Eurostat, “dos três quartos [de gás]
que chegam [à Europa] de fora, 41% são comprados à Rússia, 16% à
Noruega, 8% à Argélia e 5% ao Qatar”, como
cita o Observador.
Além disso, a Rússia também fornece “um terço das importações” de petróleo bruto da UE, como destaca ainda a mesma publicação.
Assim,
para não enfraquecer o poder negocial da Europa no domínio de uma
“guerra” mundial contra a Rússia, os EUA estarão a tentar encontrar
alternativas, nomeadamente junto de países de Médio Oriente, Ásia e
África, para aumentar a produção de gás natural liquefeito. Esse
excedente seria desviado para a Europa em caso de corte do fornecimento
russo.
Porém, nem a Rússia tem muito interesse em promover
cortes de gás e petróleo, pois seriam péssimos para a sua economia que
precisa dessas receitas.
“Preocupada”, Rússia mantém pressão militar
No
meio de todas estas dúvidas, a Rússia manifestou “grande preocupação”
com a mobilização de tropas dos EUA, segundo palavras do porta-voz da
Presidência russa, Dmitry Peskov, citado pelas agências noticiosas
France-Presse (AFP) e EFE.
Mas, apesar disso, a Rússia mantém as
operações militares nas zonas de fronteira com a Ucrânia. Mais de 60
caças e caças-bombardeiros russos têm participado em exercícios de
disparo de mísseis no sul da Rússia, na península da Crimeia e nas
regiões de Rostov e Krasnodar, perto da Ucrânia.
Os grupos
aéreos do distrito militar do Sul e da frota do Mar Negro estão a
mover-se para aeródromos operacionais e a ensaiar ataques de mísseis à
“maior distância possível”, de acordo com um relatório militar russo
citado pela agência Interfax.
Nos últimos dias, as autoridades
russas já tinham informado que mais de 6.000 soldados do distrito
militar sul tinham sido colocados em alerta como parte de um exercício
para verificar a capacidade de combate das unidades.
Estes
exercícios aéreos coincidem com a escalada de tensões sobre a situação
na Ucrânia, em cujas fronteiras, segundo o Governo de Kiev, a Rússia já
concentrou mais de 100.000 militares.
O Kremlin insiste que não
tem intenção de atacar a Ucrânia e que todos os movimentos de tropas e
actividades militares dentro do território da Rússia são uma questão de
soberania.
“Último exemplo de que a Europa está em perigo”
Esta
ameaça de um ataque militar da Rússia contra a Ucrânia é “o último
exemplo” de que “a Europa está em perigo”, como notou o Alto
Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Josep
Borrell.
“Antes, quando se dizia isto, alguns riam-se, mas agora
já se riem menos“, observou Borrell dirigindo-se a eurodeputados, em
Bruxelas, num debate sobre a «Bússola Estratégica», o documento que vai
definir a futura política de segurança e defesa do bloco europeu,
atualmente a ser negociado pelos 27 Estados-membro com vista à sua
adopção em Março.
O chefe da diplomacia europeia salientou a
importância de a Europa reforçar as suas capacidades e autonomia
estratégicas, dando a tensão a Leste como exemplo das ameaças que pairam
sobre a Europa. “Enfrentamos desafios. A Europa está em perigo“,
reforçou.
“O que está claro é que necessitamos de aumentar a
nossa capacidade de actuar rapidamente e de forma decidida, e os
acontecimentos recentes, aqui e ali, demonstram-no claramente”, concluiu
Borrell.
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