O Dia da Independência do Brasil assinala-se hoje e há marchas de apoio a Bolsonaro um pouco por todo o país. Líderes estrangeiros e políticos dentro do próprio Brasil receiam uma possível insurreição semelhante à de Janeiro nos Estados Unidos.
Dia 7 de Setembro assinala a independência do Brasil de Portugal, mas as comemorações este ano vão ser diferentes, com as marchas convocadas por apoiantes de Jair Bolsonaro um pouco por todo o país.
Sinop, no estado do Mato Grosso, é uma das das cidades que vai receber as marchas marcadas para esta terça-feira e não é difícil encontrar por lá apoiantes do Presidente brasileiro – quase 80% dos eleitores das presidenciais de 2018 votaram em Bolsonaro, escreve o The Guardian.
“Ele é o Presidente do povo“, afirmou Marcos Watanabe, presidente da associação conservadora de Sinop, ao jornal inglês. Já Redivo, outro apoiante, promete que “vai ser a maior demonstração que o Brasil já viu” e que pelo menos 20 autocarros com Bolsonaristas vão sair de Cuiabá, capital do Mato Grosso, em direcção a Brasília.
Jair Bolsonaro já se mostrou adepto de Donald Trump, tendo elogiado o seu “belíssimo e corajoso” discurso contra o “fascismo de extrema-esquerda” a 4 de Julho de 2020, data que assinala a independência americana.
O líder brasileiro também já tinha congratulado a política externa de Trump e a sua “determinação de seguir trabalhando, junto com o Brasil e outros países, para restaurar a democracia na Venezuela”.
À semelhança de Trump, Bolsonaro defende também que o voto electrónico leva à fraude eleitoral, tendo mesmo chegado a acusar membros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de participarem numa conspiração para mudar os resultados das eleições presidenciais.
Perante a rejeição da Câmara dos Deputados de um projecto de lei que pretendia instituir o voto impresso no país, Bolsonaro presidiu a um desfile militar de cerca de 40 carros blindados, tanques, camiões e jipes da marinha no Palácio do Planalto, sede do Executivo, do Congresso brasileiro e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro também já se confessou admirador da ditadura militar brasileira, tendo afirmado que “quem decide se um povo vai viver numa democracia ou numa ditadura são as suas Forças Armadas” e que o governo era “um pouco diferente do que temos hoje, mas de muita responsabilidade com o futuro do país”.
O desgaste do país com a gestão de Bolsonaro da pandemia também não traz bons agoiros. O Presidente brasileiro começou por desvalorizar a covid-19, referindo-se à doença como uma “gripezinha” ou quando, poucos dias depois, disse não ser “coveiro” em resposta a questões sobre as cerca de 2.575 mortes no Brasil na altura. Esse número já chegou agora a mais de 580 mil pessoas.
Uma sondagem da Datafolha de Março mostrou que 54% dos inquiridos consideram má ou péssima a gestão de Bolsonaro no combate à pandemia e que apenas 22% fizeram uma avaliação positiva. Já outra sondagem do site PoderData aponta que a aprovação do governo de Bolsonaro é de apenas 27% e que o trabalho do Presidente é rejeitado por 55% dos inquiridos.
As últimas sondagens para as presidenciais do próximo ano também não têm sido favoráveis ao Presidente brasileiro. Um inquérito de Junho do IPEC, citado no jornal O Estado de São Paulo, mostra que o ex-Presidente de esquerda, Lula da Silva, tem 49% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro não passa dos 23%, o que abre a porta a uma possível derrota do actual líder logo na primeira volta.
Uma outra sondagem do Instituto Datafolha mostra que numa possível segunda volta, Lula venceria com 58% dos votos, contra 31% de Bolsonaro, escreve a Folha de São Paulo. Outro inquérito do Datafolha tinha também concluído que Lula, com 35% das intenções de voto contra 34% de Bolsonaro, era mais popular entre os evangélicos, que é uma das bases de apoio mais importantes do actual Presidente.
Cinco mil polícias a proteger o Congresso
A divisão na população; as suspeitas de corrupção com compras de imóveis ou com o negócio da vacina Covaxin; o caso da divulgação de dados confidenciais da Polícia Federal, a saída de muitos dos seus aliados iniciais do governo, como Sérgio Moro, Gustavo Bebianno ou Joice Hasselmann; a inspiração em Donald Trump – tudo isto está a gerar um clima tenso e receios de uma possível tentativa de golpe de estado.
Mais de 5.000 polícias vão ser chamados para proteger o Congresso, os líderes esquerdistas aconselharam os seus apoiantes a não criar contra-manifestações e a embaixada norte-americana alertou os cidadãos residentes no país para que não se envolvessem, escreve o The Guardian. Haverá também monitorização por parte da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
O principal juiz do Supremo Tribunal, Luiz Fux, também já avisou que as pessoas têm de ter consciência “das consequências judiciais dos seus actos” e que a “liberdade de expressão não abrange violência e ameaças”.
Vários líderes políticos ou intelectuais de 26 países – incluindo José Luis Rodriguez Zapatero, Ernesto Samper, Noam Chomsky, Cornel West, Adolfo Pérez Esquivel, Yanis Varoufakis, Jeremy Corbyn, Jean Luc Melanchon e vários congressistas e deputados de países como os EUA, a Grécia ou a Austrália – escreveram também uma carta mostrando-se preocupados com a situação no Brasil.
O texto lembra também as ameaças do Presidente de adiar as eleições de 2022 e que a 10 de Agosto “dirigiu um desfile militar sem precedentes pela capital, Brasília, enquanto seus aliados no Congresso promoviam reformas radicais no sistema eleitoral do país, considerado um dos mais confiáveis do mundo”.
“Estamos seriamente preocupados com a ameaça iminente às instituições democráticas do Brasil – e estamos vigilantes para defendê-las antes e depois de 7 de Setembro. O povo brasileiro tem lutado por décadas para proteger a Democracia de um regime militar. Bolsonaro não deve ter permissão para roubá-la agora”, remata o documento, citado pela Folha.
https://zap.aeiou.pt/apoio-bolsonaro-geram-medo-429456