Um raro fungo que invade o cérebro está a ser cada vez mais
visto em pacientes vulneráveis na Índia, incluindo aqueles com covid-19.
Este domingo, o ministério da saúde indiano divulgou um comunicado
sobre como tratar a infecção. No estado de Gujarat, cerca de 300 casos
foram registados em quatro cidades, incluindo Ahmedabad, de acordo com
dados de hospitais públicos.
A infecção, chamada mucormicose, “é muito séria, tem
uma alta mortalidade e é necessário uma cirurgia e muitos medicamentos
para superá-la quando se instala”, disse Peter Collignon,
que faz parte do comité de especialistas da Organização Mundial de
Saúde (OMS) sobre resistência a antibióticos e doenças infecciosas,
citado pelo jornal britânico The Guardian.
A doença é causada por um grupo de fungos, chamados mucormicetes, que
vivem em todo o meio ambiente. A mucormicose é observada em todo o
mundo e pode ser adquirida em hospitais – normalmente
por pacientes vulneráveis que tenham sido submetidos a transplantes –
quando os fungos se entranham nos lençóis, passam pelos sistemas de
ventilação ou são transmitidos através de adesivos.
“São uma família de fungos que entram nos seios nasais e se depositam
lá, podendo entrar nos espaços aéreos”, explicou Collignon. “Quando o
seu sistema imunológico não consegue mantê-los sob controlo, invadem a base do cérebro, onde se torna um problema real, e realmente muito sério”.
Os esporos de fungos são geralmente inalados e, embora o sistema
imunológico da maioria das pessoas consiga afastá-los, pessoas com
doenças como diabetes ou leucemia, que enfraquecem o sistema
imunológico, ou quem toma medicamentos que diminuem a capacidade do
corpo de combater germes, como esteroides, são propensas a esporos que
se transformam numa infeção.
Segundo Collignon, a covid-19 está a criar condições para que a infeção se instale.
O sistema imunológico das pessoas estava a ser comprometido pelo vírus e
a mucormicose está a ser observada de forma particular em pacientes que
também tinham diabetes.
“Damos muitos esteróides em altas doses agora a pessoas com covid-19
se acabarem nos cuidados intensivos, pois os esteróides ajudam a tratar a
inflamação, mas os esteróides, infelizmente, também suprimem o seu
sistema imunológico”, afirmou o especialista.
Além disso, na Índia, o sistema de saúde está sob intensa pressão e os ambientes lotados e apertados estão a dar oportunidades à infeção de se instalar.
Os sintomas incluem dor e vermelhidão ao redor dos olhos e nariz, febre, dor de cabeça, tosse, vómito com sangue, secreção nasal preta e com sangue, dor num lado do rosto e nos seios da face, descoloração enegrecida no nariz, dor de dentes e visão dolorosa e turva.
Segundo o especialista, o tratamento da mucormicose é difícil e caro. A taxa de mortalidade é de mais de 50% e os pacientes recebem medicamentos antifúngicos que podem ser bastante tóxicos.
“É necessária cirurgia para limpar a fonte do fungo, que geralmente é
o seio nasal, e a parte de trás da garganta na parte de trás do nariz”,
disse Collignon. “É preciso entrar lá e tirar todo o material fúngico. Essa cirurgia pode ser em locais muito delicados como a base do cérebro”, explicou.
Variante indiana presente em 44 países
A OMS anunciou nesta quarta-feira ter detetado a variante, responsável pelo surto de casos da covid-19 na Índia, em dezenas de outros países de todo o mundo.
A variante B.1.617, que apareceu pela primeira vez na Índia em
outubro, foi detetada em “44 países nas seis regiões da OMS”, disse a
organização, que acrescentou ter recebido “notificações de deteção em
cinco outros países”.
Além da Índia, o maior número de casos de infeção com a variante B.1.617 foi detetado no Reino Unido.
Esta semana, a OMS classificou esta variante do novo coronavírus como
“de preocupação ou de interesse global” por estudos indicarem ser mais contagiosa
do que o vírus original. Apontada como uma das razões para o surto na
Índia, o mais grave neste momento a nível mundial, a variante B.1.617
juntou-se à lista de três outras, que apareceram pela primeira vez no
Reino Unido, no Brasil e na África do Sul.
Estas variantes são consideradas mais perigosas do que a versão
original do SARS-CoV-2 por serem mais contagiosas, mortais ou
resistentes a certas vacinas.
https://zap.aeiou.pt/com-um-surto-grave-e-hospitais-em-colapso-a-india-401824