Na madrugada de 25 de março de 1990, Julio Gonzalez foi até o clube
noturno Happy Land Club, localizado no subúrbio do Bronx, em Nova York
(EUA), para tirar satisfações com sua ex-namorada, Lydia Feliciano.
Mesmo após 6 semanas, ele ainda estava inconformado com o término da
relação e queria de todas as formas mais explicações para o motivo.
Gonzalez
chegou na cidade através do Êxodo de Mariel, após cumprir 3 anos de
prisão em Cuba por deserção do Exército e falsificar uma ficha criminal
como traficante de drogas para conseguir entrar no barco de imigração
que ancorou na Flórida entre 15 de abril e 31 de outubro de 1980.
No
dia em que invadiu o clube para discutir com Lydia, ele estava bêbado e
acabou se envolvendo em uma briga com um dos seguranças que ficava na
área de guarda-volumes onde a mulher trabalhava. De acordo com o dono da
pensão onde morava, González havia perdido o emprego em uma fábrica de
lâmpadas no Queens, estava endividado e havia perdido as esperanças com
relação à vida.
Portanto, quando Felipe Figueroa, um dos
frequentadores do clube, ouviu o homem dizer: “Vocês vão pagar por isso!
Eu vou fechar esse lugar”, ele estava falando mais sério do que
poderiam imaginar.
Fogo encontra gasolina
Julio Gonzalez. (Fonte: New York Post/Reprodução)
Após
Gonzalez ser expulso às 3h do Happy Land Club e exclamar ameaças, ele
foi até um posto de gasolina Amoco, comprou US$ 1 em combustível e
voltou ao estabelecimento. O homem espalhou a gasolina na base da escada
que era o único acesso ao clube, acendeu dois fósforos juntos e ateou
fogo.
Naquela madrugada, havia cerca de 93 pessoas dentro do Happy
Land, em sua maioria hondurenhos que faziam parte da comunidade
garifuna do bairro. O local era um dos muitos clubes sociais ilegais que
operavam no Bronx naquela época, recebendo seus frequentadores para que
se divertissem. Juan Jose Nuñez, por exemplo, foi comemorar o
aniversário de sua prima, Marisol Martinez, e ambos morreram queimados
no inferno que o clube se tornou.
(Fonte: The New York Times/Reprodução)
O
Happy Land não possuía licença estadual para vender bebidas alcoólicas e
há 1 ano e quatro meses, as autoridades já haviam decretado o
encerramento das atividades devido às violações desse código. No
entanto, Elias Colon, o proprietário do espaço que também morreu em meio
às chamas, ignorou a ordem. Além disso, o clube sofria de superlotação,
não possuía aplicação de regulamento de segurança e nem meios de saída
de emergência, sistema de sprinkler quebrado, havia excesso de
decorações inflamáveis, pirotecnia sem infraestrutura e outras diversas
infrações.
Gritos de pânico
(Fonte: New York Daily News/Reprodução)
A
maioria das vítimas ficou presa no segundo andar ou no porão da casa.
Seis corpos foram encontrados a poucos metros da porta da frente que
havia se transformado em uma boca de fogo.
“Eu ouvi muitas pessoas
gritando. Quando corri para a porta, eu disse: ‘Se alguém vai sair, me
siga!’ Eu não conseguia enxergar nada", declarou o DJ Ruben Valladares
ao The New York Times. Quando ele conseguiu alcançar a calçada
do Happy Land, percebeu que seu corpo inteiro estava em chamas.
Valladares ficou quase 7 meses internado e teve que fazer vários
enxertos de pele devido às queimaduras de segundo e terceiro graus que
cobriram metade de seu corpo, entre seu rosto, as costas e as nádegas.
Além disso, o então DJ foi submetido a vários meses de fisioterapia,
terapia ocupacional e aconselhamento psicológico para tentar frear os
pesadelos recorrentes que tinha.
(Fonte: Alchetron/Reprodução)
Às
3h47, quando Valladares já estava no pronto-socorro local, mais de 150
bombeiros foram encaminhados para apagar o incêndio no Happy Land, que
foi extinto em apenas 5 minutos. Contudo, já era tarde demais para 87
jovens que morreram por asfixia ou pisoteados no clube. Apenas 6 vítimas
foram resgatadas com vida da cena, inclusive Lydia Feliciano – o alvo
do incendiário.
Julio Gonzalez foi preso pela polícia em seu
apartamento na manhã seguinte. Ele ainda estava fedendo a gasolina e
confessou o crime no local. González foi indiciado a 174 acusações de
homicídio, sendo duas para cada vítima, 87 acusações de incêndio
criminoso e condenado à prisão perpétua por cada uma delas, em 19 de
agosto de 1991. Posteriormente, em março de 2015, ele teve sua liberdade
condicional negada e marcado como elegível para solicitar de novo o
recurso em novembro do ano seguinte, porém morreu de ataque cardíaco na
prisão em 13 de setembro de 2016, aos 61 anos.
As novas medidas
(Fonte: The New York Times/Reprodução)
Gonzalez
não foi o único culpado pelo perturbador incêndio no clube Happy Land. A
promotoria distrital do Bronx alegou que Jay Weiss e Alex DiLorenzo
III, os proprietários do prédio onde funcionava o estabelecimento, eram
responsáveis pelas violações do código de construção e as contravenções
desempenhadas pelo falecido Elias Coton. Weiss e DiLorenzo se declararam
culpados e foram condenados a serviços comunitários e a pagar uma multa
de US$ 150 mil, além de estabelecer um acordo de US$ 15,8 milhões com
as famílias das vítimas.
Além disso, foi também questionada a
incapacidade e conformidade do governo estadual em desempenhar medidas
mais rígidas com relação aos vários clubes sociais ilegais espalhados
por Nova York, enquanto os departamentos responsáveis operavam em
burocracias e sem apoio algum do estado.
(Fonte: The New York Times/Reprodução)
O
então prefeito de Nova York, David Dinkins, ordenou que esses
departamentos se reorganizassem e se empenhassem em uma força-tarefa
para inspecionar mais de 227 clubes ativos pela cidade. O Departamento
de Edifícios de Nova York se uniu aos departamentos e fiscalizou mais de
1.250 propriedades comerciais que diziam que não operavam mais.
A
imposição de novos métodos de segurança contribuíram para que as
pessoas que entrassem em clubes conseguissem voltar vivas para casa sem
ter que testemunhar atrocidades como a que aconteceu no Happy Land Club,
seja por causa de um alcoólatra vingativo ou por um proprietário
inconsequente.
https://www.megacurioso.com.br/misterios/118070-happy-land-club-a-vinganca-que-transformou-a-noite-dos-eua.htm