O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ofereceu oxigénio hospitalar ao Estado do Amazonas, no Brasil, para ajudar a combater a falta deste gás devido ao elevado número de casos de covid-19. Uma generosidade que está a ser criticada, com opositores de Maduro a avisarem que há venezuelanos a morrerem “por falta de oxigénio”.
Foi o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, quem revelou que Maduro deu indicações para disponibilizar ao Amazonas o oxigénio que, neste momento, faz tanta falta.
“Por instruções do presidente, Nicolás Maduro, conversamos com o governador do estado do Amazonas, para colocar imediatamente à sua disposição o oxigênio necessário para atender a contingência sanitária em Manaus. Solidariedade latino-americana acima de tudo”, escreveu Arreaza no Twitter.
A revelação levou muitos brasileiros a elogiarem “o ditador” Maduro, notando que já fez mais pelo Brasil do que Jair Bolsonaro, presidente com quem o líder venezuelano nem sequer simpatiza.
Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, deixou também uma saudação a Maduro, agradecendo o “gesto de solidariedade latino-americana“.
Mas na Venezuela há quem questione as intenções de Maduro, como é o caso do economista venezuelano Johnny Landaeta que nota que no seu país “não há nada nos hospitais, está tudo destruído“.
“Maduro manda oxigénio para o Brasil porque é um oportunista“, conclui Landaeta numa publicação no Twitter.
Também o deputado venezuelano Julio Borges, opositor de Maduro e responsável pelas Relações Exteriores do auto-proclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, se junta às críticas a Maduro.
“A situação sanitária é verdadeiramente trágica” na Venezuela, salienta Borges citado pelo jornal brasileiro Folha de Pernambuco.
“É como uma pessoa que, enquanto um familiar morre de fome, dá comida de presente ao vizinho para parecer que é um homem bom”, aponta o deputado, denunciando que “muitos venezuelanos”, nomeadamente um coronal das Forças Armadas, já “morreram por falta de oxigénio nos hospitais do país“.
“A ditadura dá oxigénio de presente a um estado no Brasil para buscar apoio político. Não lhes importa a vida do povo”, nota ainda Borges.
Maduro quer mostrar que é “o líder dos pobres, dos necessitados, dos infectados com coronavírus, quando na verdade é um ditador, violador de direitos humanos, corrupto, e que conseguiu destroçar a Venezuela, um dos países mais prósperos da América”, transformando-o no “país mais pobre da América pela corrupção e pelo crime organizado”, considera ainda o deputado.
Julio Borges também nota que os venezuelanos “fogem para o Brasil, Colômbia, Panamá, porque não há nada, os hospitais estão em caos“. “Sem electricidade, sem água, remédios mínimos”, destaca, frisando que “por isso, as pessoas fogem para o Amazonas”.
A Venezuela atravessa uma crise humanitária, agravada pela pandemia, que já terá levado 6 milhões de pessoas a deslocarem-se para outros países.
Assim, a oferta de oxigénio ao Brasil é “irónica e paradoxal, mas com tantos venezuelanos no Brasil (sabemos porquê), também é preciso enviar equipas de saúde para lá”, atira um utilizador do Twitter.
Já a jornalista venezuelana Morella Martinez questiona porque razão se decide “doar recursos a outros países quando médicos e enfermeiros na Venezuela não dispõem de equipamentos de protecção pessoal em plena pandemia de covid-19″.
Na Venezuela, já morreram mais de mil pessoas devido à covid-19, com 118,4 mil casos de infecção confirmados, de acordo com os números oficiais.
Procura de oxigénio disparou nos últimos 15 dias
O Estado do Amazonas está a enfrentar uma situação caótica, com relatos de doentes a morrerem por asfixia devido à falta de oxigénio. Os hospitais locais não estão a aguentar a elevada procura de pacientes com covid-19.
Há famílias que procuram comprar oxigénio à sua conta para levarem para os familiares internados nos hospitais locais, onde as reservas esgotaram, segundo a Exame Brasil.
O oxigénio oferecido por Maduro para responder a estas dificuldades, é produzido na Venezuela pela empresa White Martins, a principal fornecedora do Amazonas.
O stock de oxigénio existente no Estado brasileiro acabou depois de a procura pelo gás ter aumentado “cinco vezes nos últimos 15 dias”, segundo a Exame Brasil.
A White Martins tem em marcha uma “grande operação por vias fluvial e aérea” para trazer oxigênio de fábricas localizadas noutros estados brasileiros, ainda de acordo com a mesma publicação.
Também há várias empresas brasileiras a doaram oxigénio ao Amazonas e a Força Aérea Brasileira está a apoiar as autoridades de saúde locais.
https://zap.aeiou.pt/maduro-ofereceu-oxigenio-ao-amazonas-ha-venezuelanos-morrerem-falta-373344