O Presidente dos Estados Unidos prometeu, esta segunda-feira, uma “luta dos diabos” para se manter no cargo, pedindo ao Congresso que não ratifique a votação do Colégio Eleitoral, que confirmou a vitória de Joe Biden.
As declarações foram feitas durante um comício na Geórgia para apoiar os candidatos republicanos ao Senado nas eleições desta terça-feira, que vão determinar quem controlará a câmara alta do Congresso.
Durante o comício, Donald Trump dedicou a maior parte do discurso a queixar-se novamente do resultado das eleições Presidenciais, que insiste ter ganho “por muito”.
Horas antes, em Washington, tinha pressionado os legisladores republicanos a oporem-se formalmente à ratificação da vitória do democrata Joe Biden no Colégio Eleitoral, numa sessão conjunta do Congresso, agendada para quarta-feira.
A sessão, presidida pelo vice-Presidente, Mike Pence, poderá arrastar-se pela noite dentro, apesar de ser esperado que o Congresso valide a votação do Colégio Eleitoral.
“Espero que o nosso grande vice-Presidente seja bem sucedido. Ele é um grande homem. Claro que, se não conseguir, não vou gostar tanto dele“, disse Trump, na Geórgia.
Os esforços para apoiar Trump no Congresso são liderados pelo senador Josh Hawley, do Missouri, e o lusodescendente Ted Cruz, do Texas, ambos potenciais candidatos à Presidência em 2024, competindo pelo apoio dos eleitores do Presidente cessante.
A última esperança de Trump é a sessão conjunta no Congresso, na quarta-feira, de contagem dos votos eleitorais de Biden e a inerente confirmação dos resultados, o último passo da certificação do ato eleitoral que abre caminho à tomada de posse no próximo dia 20 de janeiro.
Apesar de a estratégia estar votada ao fracasso, Trump conseguiu o apoio de uma dúzia de senadores republicanos e de uma centena de membros da Câmara dos Representantes.
“Acabei de estar ao telefone com Donald Trump. Ele quer que todos vocês liguem aos vossos representantes e senadores hoje, o dia todo”, escreveu no Twitter Marjorie Taylor Greene.
A recém-eleita para um dos lugares na Câmara dos Representantes está associada ao movimento QAnon, que concentra um conjunto de teorias da conspiração propagadas principalmente por apoiantes de Trump.
No domingo, uma gravação divulgada pelo jornal Washington Post mostrou que Trump pressionou a máxima autoridade eleitoral da Geórgia para manipular os resultados das eleições de novembro.
Na gravação, Trump pede ao secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, a máxima autoridade eleitoral do estado, que “procure votos onde seja necessário para anular a vitória de Biden”.
A revelação do Washington Post, já conhecida nas redes sociais como #Georgiagate, numa referência ao caso Watergate, está a provocar um terramoto político na capital norte-americana.
O Presidente eleito, que também se deslocou à Geórgia para apoiar os candidatos democratas, acusou Trump de “passar mais tempo a lamentar-se e a queixar-se” do que a trabalhar para combater a pandemia de covid-19. “Não sei porque é que ele ainda quer este emprego, ele não quer trabalhar“, acrescentou.
Entretanto, as autoridades estaduais de Washington ativaram pelo menos 340 soldados da Guarda Nacional para proteger a capital dos Estados Unidos face à manifestação marcada para quarta-feira de apoio ao Presidente cessante.
Os organizadores da manifestação estimam que cerca de 15 mil pessoas se vão juntar no centro da cidade quando o Congresso se reunir para certificar os votos do Colégio Eleitoral.
Numa conferência de imprensa, a mayor de Washington, Muriel Bowser, indicou que está também a ponderar a possibilidade de decretar o recolher obrigatório, enquanto o chefe da Polícia Metropolitana da cidade, Robert Contee, assegurou dispor de informações sobre indivíduos armados que vão surgir no Distrito de Colúmbia.
“Grande protesto em DC [District of Colúmbia] no próximo dia 6 de janeiro. Estejam presentes, será selvagem!“, escreveu Trump no Twitter no fim-de-semana.
O grupo Million MAGA March, que se designa como o organizador oficial da marcha, convidou os apoiantes do Presidente republicano a “participarem do maior ato político de Trump na História dos Estados Unidos”.
Milícias conotadas com a extrema-direita, como Three Percenters, Proud Boys ou Oath Keepers, também avançaram que vão participar na marcha e estão a mobilizar caravanas de veículos em direção a Washington DC, onde será proibido transportar e exibir armas de fogo. Mas, mesmo assim o grupo TheDonaldWin está a convidar os seus apoiantes “a levarem” as suas armas para a marcha.
Num artigo de opinião publicado no Washington Post, dez antigos secretários da Defesa destacaram que “o tempo para se questionar os resultados já passou” e, com receio de que o ainda Presidente declare a lei marcial numa última tentativa para se manter na Casa Branca, recordaram os líderes militares de que a sua obrigação é proteger o país, “e não um indivíduo ou partido”, cita o jornal Público.
“Quaisquer tentativas para envolver as forças armadas na resolução de disputas eleitorais levar-nos-iam para um terreno perigoso, ilegal e inconstitucional”, declaram ainda.
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