A polémica estalou em França depois de se saber que um dos conselheiros mais próximos do Presidente Emmanuel Macron almoçou com com uma figura importante da extrema direita, numa altura em que o chefe de Estado enfrenta acusações de fazer apelos a apoiantes da extrema direita.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, Bruno Roger-Petit, um conselheiro sénior do Palácio do Eliseu, entreteve Marion Maréchal, sobrinha da política de extrema direita Marine Le Pen, numa sala privada numa conhecida brasserie de Paris em outubro.
Esta informação surge numa altura em que Macron é acusado de tentar apelar aos eleitores de direita do país com duas novas leis – uma sobre a “segurança global”, dando novos poderes à polícia, e outra sobre o combate ao “separatismo” religioso.
Roger-Petit, ex-jornalista político e apresentador de televisão, disse ao Le Monde que se encontrou com Maréchal “e um nível pessoal”. “Eu queria saber o que ela tinha a dizer e se conhecia a opinião pública, o que não é o caso. Percebi que estávamos em desacordo”, disse o conselheiro sénior, em declarações ao jornal francês.
Já Maréchal disse que foi abordada por um amigo. “Bruno Roger-Petit entrou em contacto com um amigo para sugerir um encontro comigo. Eu aceitei. Em princípio, nunca me recuso a falar com as pessoas. Acima de tudo, estava muito curiosa para conhecer a pessoa que achava engraçado chamar-me nazi a cada duas semanas, quando eu era deputada”, disse.
Segundo testemunhas, Roger-Petit pagou o almoço na brasserie Le Dôme perto de Montparnasse, que terminou por volta das 14h. O restaurante tem uma entrada discreta nos fundos, usada anteriormente pelo presidente socialista François Mitterrand na década de 1980 para se encontrar com a sua filha secreta, Mazarine.
O almoço gerou especulações nos media franceses sobre o motivo do encontro. “O que Bruno Roger-Petit esperava deste encontro? Uma troca sobre Marine Le Pen? Para pesar as ambições políticas de Marion Maréchal? Examinar os possíveis candidatos da ‘direita da direita’?, escreve o Le Monde.
A reunião foi criticada por membros do governo de Macron. Hugues Renson, vice-presidente do partido La République en Marche! (LREM) na assembleia nacional, escreveu no Twitter: “Não se discute com a extrema direita, não se compromete, luta-se contra ela. ‘Não posso aceitar que a intolerância e o ódio se tornem banais – Jacques Chirac, abril de 2002’”.
Astrid Panosyan, co-fundadora do movimento En Marche de Macron, concordou. “Existem pessoas que não ouvimos a um nível pessoal, lutamos contra elas a um nível coletivo. Marion Maréchal e toda a sua camarilha estão entre elas”.
Julien Aubert, parlamentar da oposição de centro-direita Les Républicains (LR), escreveu no Twitter: “A polícia de restaurantes está a voltar? Pode-se almoçar com quem quiser”.
Já Emmanuel Grégoire, do Parti socialiste, escreveu que Roger-Petit almoçou com Maréchal porque “Pétain não estava disponível” – numa referência ao Maréchal Philippe Pétain, líder colaboracionista da II Guerra Mundial em França.
Marion Maréchal, de 31 anos, foi deputada pela extrema direita Front National (FN) – que desde então se tornou o Rassemblement National (RN) – durante cinco anos até 2017. A política é neta do fundador do FN, Jean-Marie Le Pen, e foi a mais jovem deputada da república francesa.
Maréchal anunciou que deixaria a política em 2017 e montou a sua própria escola particular, o Instituto de Ciências Sociais, Económicas e Políticas (ISSEP), na cidade de Lyon.
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