Três dos quatro espiões que roubaram os segredos atómicos dos
Estados Unidos entre 1940 e 1948, partilhando essas informações com os
soviéticos, já eram conhecidos. Mas faltava revelar a identidade do
quarto membro do grupo.
Agora, já se sabe quem foram os quatro espiões, cujas ações
aceleraram o desenvolvimento de armas nucleares da URSS e prepararam o
terreno para a Guerra Fria.
A identidade do quarto espião, com o nome de código “Godsend”, foi
ocultada da opinião pública até recentemente. O seu verdadeiro nome era Oscar Seborer e
trabalhou no Laboratório Nacional Los Alamos, no Novo México, lar do
Projeto Manhattan, onde as primeiras armas nucleares foram projetadas.
Durante décadas, o nome de Seborer permaneceu em relativa
obscuridade, sendo mencionado em algumas dezenas de páginas no meio das
dezenas de milhares de documentos secretos compilados pelo FBI.
Porém, quando os documentos foram desclassificados em 2011, chamaram a atenção de dois historiadores, John Earl Haynes e Harvey Klehr.
Assim, 70 anos depois de Seborer trair o seu próprio país, a sua
história está finalmente a ser contada, de acordo com o jornal
norte-americano New York Times.
Mas, antes desta descoberta, os três espiões conhecidos por levar os segredos atómicos aos soviéticos eram David Greenglass, Klaus Fuchs e Theodore Hall.
Foi proposta a existência de um quarto espião no início dos anos 90 com
base em pistas nas memórias dos oficiais da KGB, mas as pistas foram
consideradas em 1995 como parte de uma campanha de desinformação russa
para proteger outro agente ativo.
De acordo com os investigadores, que publicaram o seu estudo em outubro na revista científica Studies in Intelligence,
Seborer será o quarto espião, com base nos documentos desclassificados
do FBI de 2011, bem como nos registos parciais de uma iniciativa com
décadas chamada Operação SOLO. A operação, que decorreu de 1952 a 1980,
centrou-se em dois irmãos no Partido Comunista dos EUA que eram informantes do FBI.
Até ao momento, apenas os arquivos SOLO até 1956 foram divulgados,
por isso permanecem em aberto muitas questões sobre as atividades de
Seborer como espião e o que lhe aconteceu depois de desertar para a
URSS.
O que se sabe, conta o LiveScience, é que Seborer treinou como engenheiro
e matriculou-se no Exército dos Estados Unidos em 1942, sendo
transferido para Los Alamos em 1944 e designado para o Projeto Manhattan
durante dois anos.
Depois da guerra, trabalhou como engenheiro elétrico na Marinha dos
Estados Unidos, mas começaram a surgir sinais de que nem tudo estava
bem. Os seus superiores repetidamente relataram Seborer como um “risco à segurança”, o que terá surgido das suas associações a comunistas conhecidos – e não de suspeitas de espionagem.
No início da década de 1950, o fervor anticomunista nos Estados
Unidos estava a atingir um novo pico e Seborer fugiu secretamente do
país em 1952 com o seu irmão, cunhada e sogra. Estabeleceu-se em
Moscovo, na Rússia, onde morreu em 2015.
Conversas nos arquivos SOLO sugerem que Seborer poderia estar a tramar algo
quando estava em Los Alamos. “Oscar estava no Novo México – entende o
que quero dizer”, disse Isidore Needleman, membro do Partido Comunista e
advogado, a um dos informantes. “Não vou desenhar um diagrama”,
acrescentou.
Needleman passou a sugerir mais abertamente que Seborer era um
espião, chegando a escrever uma nota ao informante que dizia: “Ele
[Seborer] entregou-lhes [os soviéticos] a fórmula para a bomba ‘A'”.
Para os investigadores, no entanto, as menções a Seborer eram escassas e “facilmente esquecidas” na vasta montanha de arquivos.
Os autores do estudo ainda estão a tentar perceber que segredos
atómicos específicos Seborer terá partilhado e se os membros da sua
família tiveram ou não um papel direto na espionagem. Assim, por agora, o
significado das contribuições de Seborer à inteligência soviética
permanece desconhecido.
Fonte: https://zap.aeiou.pt/quatro-espioes-segredos-bomba-atomica-294151