A luta contra a covid-19 pode vir a provocar a morte de seis
mil crianças por dia nos países mais pobres, nos próximos seis meses,
vítimas colaterais da sobrecarga dos sistemas de saúde, alertou esta
quarta-feira a Unicef.

Segundo o pior de três cenários analisados no estudo, nos próximos seis meses poderão morrer até 1,2 milhões de crianças em 118 países,
por causa de cuidados sanitários deficientes, provocados pela luta
contra a propagação do novo coronavírus, explicou a agência da ONU em
comunicado. Estes óbitos suplementares juntar-se-iam aos 2,5 milhões
menores que morrem por semestre nestes países, atualmente.
No mesmo período, a luta contra a covid-19 poderá também provocar
indiretamente a morte de 56.700 mulheres, devido à falta de
acompanhamento antes e depois do parto, além das 144 mil vítimas que já
se produzem por semestre. Um balanço que, a confirmar-se, aniquilaria
“décadas de progresso na redução das mortes evitáveis de mães e
crianças”, lamentou a diretora da Unicef, Henrietta Fore.
“Não podemos deixar as mães e crianças serem vítimas colaterais do combate ao vírus”, que já fez quase 290 mil mortos em todo o mundo, apelou a responsável.
O estudo da Universidade Johns Hopkins, publicado na Lancet Global Health,
mostra que em países com sistemas de saúde precários a covid-19
perturba as cadeias de aprovisionamento de medicamentos e o acesso a
alimentos, pressionando os recursos humanos e financeiros desses países.
As medidas instituídas para lutar contra o novo coronavírus, como o
confinamento, o recolher obrigatório ou as restrições nas deslocações, e
o receio de contágio das populações, reduzem as visitas aos centros de
saúde e fazem diminuir o recurso a procedimentos médicos essenciais.
Entre os serviços afetados estão o planeamento familiar, os cuidados
pré e pós-natais, os partos, a vacinação e os serviços de prevenção e
cuidados de saúde, apontou a Unicef.
Na nota, a organização sublinhou que mais de 117 milhões de crianças
em 37 países poderão não ter sido vacinadas contra o sarampo, até meados
de abril, por causa da interrupção nas campanhas de vacinação,
provocada pela pandemia.
O sul da Ásia seria a região mais afetada, seguindo-se a África
subsariana e a América do Sul, com falhas particularmente elevadas no
Bangladesh, Índia, Brasil, República Democrática do Congo e Etiópia.
A nível global, segundo um balanço da agência AFP, a pandemia já provocou mais de 290 mil mortos e infetou mais de 4,2 milhões de pessoas
em 195 países e territórios. A doença é transmitida por um novo
coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do
centro da China.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil
milhões de pessoas, encerraram o comércio não essencial e reduziram
drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia
mundial.
https://zap.aeiou.pt/unicef-pandemia-matar-indiretamente-seis-mil-criancas-dia-324142
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