Violação de direitos humanos, tráfico de droga, esquemas de lavagem de dinheiro e suspeitas de corrupção. São estes alguns dos crimes de pessoas que, ao longo de várias décadas, guardaram o dinheiro em contas do Credit Suisse, um dos maiores bancos helvéticos.
As descobertas foram feitas graças ao trabalho de investigação feito por mais de 160 jornalistas, em 39 países, com base numa fuga de informação partilhada pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung.
A fuga inclui mais de 18 mil contas que tinham mais de 100 mil milhões de dólares, avança o Expresso, que pertence ao consórcio de jornalistas responsável pela investigação.
As informações foram fornecidas ao jornal alemão há mais de um ano e não se sabe a identidade do denunciante.
“Acredito que as leis de sigilo bancário suíças são imorais. O pretexto de proteger a privacidade financeira é apenas uma folha de figueira que cobre o vergonhoso papel dos bancos suíços como colaboradores dos evasores fiscais. .Esta situação permite a corrupção e mata à fome os países em desenvolvimento, retirando-lhes receitas fiscais tão necessárias”, explicou o whistleblower.
Não há nada que impeça cidadãos estrangeiros de depositar dinheiro em bancos suíços — um destino muitas vezes escolhido pela forma como as suas leis protegem o sigilo bancário. No entanto, os bancos devem evitar clientes que ganharam dinheiro ilegalmente ou estiveram envolvidos em crimes.
Ora, entre os clientes do Credit Suisse estão indivíduos condenados em tribunal que, já depois disso, conseguiram abrir ou manter contas no banco.
A lista inclui nomes como os do antigo ditador egípcio Hosni Mubarak e do seu chefe dos serviços secretos, Omar Suleiman; ou do general Khaled Nezzar, líder de um junta militar na Argélia que está a ser julgado na Suíça por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Há mais de 100 portugueses cujo nome também consta na lista. O ex-presidente do BESA Álvaro Sobrinho e o fundador da Escom, Hélder Bataglia, são dois dos exemplos mais notórios.
Sobrinho e Bataglia tiveram contas conjuntas no Credit Suisse, sendo que uma delas era titulada por uma offshore envolvida no esquema de desvio de dinheiro do BESA em Angola.
Além do inquérito-crime sobre a apropriação de centenas de milhões de euros no Banco Espírito Santo Angola (BESA), os dois são ainda visados num esquema de lavagem de dinheiro da Operação Monte Branco.
Entretanto, o Credit Suisse já reagiu à investigação do Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP).
“Credit Suisse rejeita fortemente as alegações e a interferência sobre as supostas práticas de negócio do banco”, referiu a empresa em comunicado.
O banco sugere que os documentos revelados são baseados em “informações seletivas, retiradas de contexto, e que resultam de interpretações tendenciosas da conduta dos negócios do banco”.
O Credit Suisse argumenta que as alegações são, na sua maioria, muito antigas e que “as leis, práticas e expectativas sobre as instituições financeiras eram muito diferentes do que são hoje”.
Embora, de facto, haja contas que foram abertas na década de 40, mais de dois terços delas datam já do século XXI, escreve o The Guardian.
Os jornalistas não conseguiram determinar se as contas tinham sido congeladas pelo banco em algum momento.
De acordo com o Credit Suisse, “mais de 60% [das contas bancárias] foram encerradas antes de 2015”.
Ross Delton, antigo regulador bancário, sublinha que pessoas de alto risco e politicamente influentes não estão proibidas de abrir contas bancárias, mas devem ser sujeitas a um escrutínio reforçado.
Em questões de pessoas condenadas judicialmente por corrupção, a atuação é diferente. “Aí, a questão deve ser a de saber se devem ou não aceitar o cliente”, explica Delton.
O banco volta a ver-se envolvido numa polémica depois de, ainda no mês passado, o seu Presidente, o português António Horta-Osório, ter-se demitido depois de nove meses no cargo, após quebrar medidas de prevenção contra a covid-19 na Suíça e Reino Unido.
O português tinha regressado à Suíça do Reino Unido a 28 de novembro e partido para a península ibérica antes de um período de quarentena obrigatório de 10 dias ter terminado. O próprio confirmou a violação das regras, alegando não ter sido intencional.
Antes, Horta-Osório já teria quebrado as regras em julho de 2021, quando assistiu às finais de ténis de Wimbledon em Londres, contrariando as regras de prevenção no Reino Unido.
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