Apesar
do diálogo, a OTAN continua mantendo uma retórica agressiva em relação à
Rússia, prometendo um novo conflito armado caso as negociações atuais
não cheguem a um consenso. Em entrevista, o secretário-geral da OTAN
afirmou que a aliança militar ocidental está preparada para uma situação
de guerra total na Europa se a Rússia não se curvar para a resolução da
questão ucraniana. Mais do que um alerta, a atitude de Stoltenberg
parece ser um verdadeiro boicote às negociações e tende a dificultar
ainda mais a pacificação do Leste Europeu.
Jens Stoltenberg, em
recente entrevista ao Financial Times, afirmou que seu bloco está
preparado para um novo conflito armado em solo europeu caso as
negociações bilaterais falhem. As palavras de Stoltenberg criaram um
clima de tensão e desconfiança às vésperas de um dos eventos mais
importantes da história recente entre Moscou e a OTAN – em que serão
discutidos os termos para a resolução pacífica da questão ucraniana.
Estas foram algumas das palavras do Secretário:
Stoltenberg e os analistas pró-ocidentais justificam esse tipo de discurso com base na movimentação de tropas operadas pelos russos nos últimos meses, principalmente em regiões próximas à fronteira com a Ucrânia. Estima-se que cerca de 100.000 militares foram mobilizados nas fronteiras ocidentais, além de veículos militares e outros equipamentos. Há meses, Washington vem promovendo a tese de que esse movimento de tropas seria um indício de um suposto plano de invasão russa contra a Ucrânia, razão pela qual as tensões aumentaram em 2021, levando à necessidade de agendar uma cúpula. No entanto, esse tipo de justificativa soa falacioso e fraco.
Em primeiro lugar, deve-se lembrar que em nenhum momento o governo russo tentou alocar tropas fora de seus próprios limites territoriais. Os movimentos ocorreram estritamente dentro do espaço soberano do Estado russo, que de forma alguma pode ser interpretado como qualquer tipo de ameaça internacional. Todo estado tem o direito de distribuir suas forças militares em todo o seu território da maneira mais conveniente e estratégica possível, e é absolutamente normal que uma zona tensa como a fronteira ocidental receba atenção especial de Moscou.
Além disso, a própria razão pela qual a Rússia está agindo dessa maneira se deve às atitudes anteriores da OTAN na região. As manobras ocidentais na Ucrânia têm sido uma ameaça real à integridade do território russo ocidental e de todo o ambiente estratégico de Moscou. E assim, tem sido o mesmo processo há anos: a OTAN aloca tropas na fronteira ocidental russa e faz ameaças, que são respondidas com mero movimento de tropas (que é uma medida de segurança elementar) por Moscou, dentro do próprio território russo – e depois o Ocidente promove o discurso de que o governo russo está preparando suas tropas para uma invasão da Ucrânia.
Considerando esses fatos, as palavras de Stoltenberg só podem ser interpretadas de uma maneira: a condição para que a OTAN chegue a um acordo com a Rússia sobre o caso ucraniano está ligada à imposição de limites aos movimentos das tropas russas dentro do território russo. Moscou deve dar “sinais claros” de que não planeja invadir a Ucrânia – e esses sinais não podem ser as repetidas declarações do governo russo de que tal plano não existe, mas algo mais: uma verdadeira autolimitação de seu próprio poder militar . A Otan quer que a Rússia mantenha sua fronteira ocidental insegura, permitindo que o espaço da Europa Oriental se torne uma arena de ocupação ocidental.
Esta é apenas mais uma tentativa da OTAN de subverter as negociações para impor condições abusivas à Rússia, tentando fazer prevalecer seus interesses unilateralmente, usando a ameaça de guerra. O problema com este discurso é que a ameaça de Stoltenberg será interpretada como um blefe. Está muito claro tanto para a OTAN quanto para a Rússia que a Ucrânia não é um cenário tão importante para o Ocidente a ponto de justificar o início de uma guerra em solo europeu, com o confronto de potências nucleares antagônicas.
Stoltenberg apenas tentou, de forma muito pouco sofisticada, impor os interesses de seu bloco para intimidar a Rússia antes e durante as próximas negociações. Mesmo que suas palavras não sejam um blefe e ele defenda pessoalmente a ideia de guerra contra a Rússia, seus planos seriam frustrados pelos governos que fazem parte da aliança, que jamais considerariam a Ucrânia motivo suficiente para uma nova guerra na Europa.
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