Com
a recente demissão do Ministro do Brexit a juntar-se à lista de crises
que têm atormentado o primeiro-ministro britânico, já se começam a
alinhar possíveis sucessores.
É quase como uma tradição do Partido Conservador no Reino Unido — e parece que Boris Johnson pode ser a próxima vítima.
Quando
um líder partidário começa a escorregar nas sondagens ou a ter uma
crise na imagem pública, independentemente dos bons resultados que
tenham trazido ao partido no passado, os Tories não demoram muito a
encontrar um substituto, Margaret Thatcher e Theresa May que o digam.
Ainda no rescaldo do escândalo de lobbying que abalou o Partido Conservador, a revelação de que Downing Street organizou festas de Natal e reuniões em 2020 ao mesmo tempo que impunha restrições à população veio fragilizar ainda mais a liderança de Boris Johnson.
Com a demissão do Ministro do Brexit e a pesada derrota dos Conservadores
no bastião do partido em North Shropshire, já há quem conte que o
primeiro-ministro não se aguente até ao final do ano, especialmente
depois da rebelião interna que sofreu no voto do novo pacote de medidas
para conter a covid-19, ficando dependente da oposição para a sua
aprovação.
O bate-boca com a União
Europeia sobre o Brexit e a crise migratória continuam também a causar
dores de cabeça ao líder conservador e apesar de já ter anunciado que ia
investigar internamente os ajuntamentos dos membros da sua equipa,
Boris Johnson já perdeu o apoio de muitos meios de comunicação ligados
ao partido.
Segundo uma sondagem
da Ipsos Mori, 62% dos britânicos acham que o primeiro-ministro vai
cair até ao final de 2022 e 52% dos eleitores dos conservadores
concordam com essa previsão. Então, quem pode eventualmente suceder a
Boris?
Liz Truss
A Ministra dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss, é um dos nomes que
mais burburinho tem causado nos jornais britânicos e nas casas de
apostas, especialmente depois de ter visto a sua taxa de aprovação subir bastante nas sondagens do blog Conservative Home, que apoia os Tories, mas não está ligado ao partido.
Truss, que é a integrante do governo com a popularidade mais em alta,
foi também recentemente promovida por Boris depois da demissão do
Ministro do Brexit, David Frost, e e agora a principal responsável pelas negociações com a União Europeia.
Uma
conservadora aguerrida, crítica do Reino Unido “woke” e defensora do
mercado livre, Truss é também uma admiradora de Margaret Thatcher e
partilha com a antiga primeira-ministra o desdém pelas instituições
europeias, pelo que não se antecipa um tom mais diplomático nas
conversas com Bruxelas.
As comparações com Thatcher já valeram à Ministra a alcunha “nova dama de ferro”.
Rishi Sunak
Antes desta subida recente na popularidade de Liz Truss, o sucessor
mais óbvio de Boris Johnson parecia ser o seu Ministro das Finanças,
Rishi Sunak, que também viu a sua aprovação a crescer durante a pandemia, numa onda de investimentos e apoios dados às empresas e trabalhadores devido ao confinamento.
Sunak, de 41 anos, chegou a ser o político mais popular no país e a ultrapassar o primeiro-ministro nas sondagens, apesar de ser um rosto relativamente desconhecido antes da covid-19.
Segundo a editora de política do The Telegraph,
a pandemia foi a “plataforma que elevou o nome de Rishi Sunak”, já que
esteve à frente da resposta do executivo. O Ministro ganhou adeptos e
até uma alcunha — Dishy Rishi.
Já George Parker escreve Financial Times, acredita que a covid-19 “expôs a posição de primeiro-ministro à espera”
em que Sunak se encontra e que este “cresceu tão rapidamente na
política que ainda não teve tempo de fazer inimigos”, mas que isso “vai
mudar quando as manobras começarem para uma eventual sucessão a
Johnson”.
Apesar do popularidade
inicial do Ministro, esta sofreu um percalço em Novembro, depois do
anúncio de uma subida de impostos, tendo perdido a posição cimeira nas
taxas de aprovação para Truss, o que lhe pode fazer estragos numa
eventual corrida pela liderança dos Tories.
David Frost
Aquele
que era até esta semana Ministro do Brexit é também um dos nomes que
pode eventualmente suceder a Boris, com alguns analistas a apontar que
Frost se demitiu neste momento já com o intuito de fragilizar ainda mais
a posição do primeiro-ministro e dar o empurrão final para a sua saída.
David Frost foi quem liderou as negociações do Brexit com a União Europeia. A comentador política Emma Webb acredita que Frost está “logo no topo” da lista dos potenciais herdeiros da liderança do executivo.
“Não tenho sentido tanto respeito por um político em
tanto tempo que já nem me lembro. Espero que esta seja a primeira de
muitas demissões no governo. Os políticos têm de ter uma espinha”,
revelou à televisão conservadora GB News.
Michael Gove
Ainda antes das crises recentes de Boris, Michael Gove já era antecipado como um dos seus herdeiros. Segundo avançou o tablóide Daily Mail em Agosto de 2020, O Partido Conservador já estava a antecipar um duelo entre o Ministro do Estado e Rishi Sunak pela liderança pós-Johnson.
De acordo com as fontes de dentro do partido, a esperança era de que
“a experiência e o intelecto” de Gove fosse suficiente para derrotar o
“charme e carisma” de Sunak.
Na altura, antecipava-se que Boris se demitisse em 2023
para dar tempo ao seu sucessor de se ambientar no cargo antes das
legislativas marcadas para 2024. Com a onda de crises nos últimos meses,
esta saída pode ser antecipada e Gove pode já avançar com uma
candidatura,
“O Michael continua a querer ser primeiro-ministro“, disse então uma fonte do partido ao Sunday Times.
Jeremy Hunt
Foi
o oponente final de Boris Johnson na eleição interna em 2019 e
prometeu-lhe a “luta da sua vida” . A promessa pode estar a demorar a
ser cumprida, mas ainda não é hora de se descartar Jeremy Hunt da
corrida,
Na altura, a maior divisão entre os dois candidatos era o
Brexit, que dominava a agenda política do Reino Unido. Boris é um
fervoroso apoiante da saída, enquanto que Hunt era contra. No fim,
Johnson levou a melhor, batendo o adversário 66% contra 44% dos votos.
O Secretário da Saúde espera agora poder concorrer outra vez, com o Brexit a já não dominar tanto a campanha.
Segundo o Daily Mail, Hunt já tem uma lista de conselheiros com muitos aliados de Theresa May,
com o mesmo jornal a escrever que a ex-primeira-ministra se está vingar
de Boris e tem sido um dos principais rostos a puxar os cordelinhos nos
bastidores contra si.
Sem um sucessor natural e óbvio, juntam-se também à lista o Ministro
da Saúde, Sajid Javid; a Ministra do Interior, Priti Patel; o Secretário
da Educação, Nadhi Zahawi, o Secretário de Estado e da Defesa, Ben
Wallace ou o deputado Tom Tugendhat.
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