O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) rejeitou esta
terça-feira 24 queixosos que já tinham tentado perante tribunais belgas
processar o Vaticano por atos de pedofilia cometidos por padres.
O TEDH invocou em particular “a imunidade” do Vaticano
reconhecida pelos “princípios do direito internacional”, dando assim
razão à justiça belga, que tinha rejeitado os queixosos de nacionalidade
belga, francesa e holandesa e invocado a imunidade da jurisdição do
Vaticano.
“O tribunal julga que a rejeição (…) não se desviou dos princípios do direito internacional geralmente reconhecidos em matéria de imunidade dos Estados” e que se aplicam ao Vaticano, indica o TEDH num comunicado.
Conclui assim que não houve violação das disposições da Convenção
Europeia dos Direitos Humanos sobre o “direito de acesso a um tribunal”
invocada pelos requerentes, que alegavam terem sido impedidos de apresentar as suas queixas contra o Vaticano.
Segundo o comunicado, os requerentes tentaram, em 2011 na Bélgica,
apresentar uma ação civil coletiva contra o Vaticano, dirigentes da
Igreja Católica no país e associações católicas, exigindo indemnizações
por “danos causados pela forma estruturalmente deficiente como a Igreja
teria enfrentado o problema dos abusos sexuais no seu seio”.
Observando que o Vaticano “tem características comparáveis às de um Estado”, os juízes europeus consideram que a justiça belga tinha o direito de “deduzir” nesse sentido.
“O fracasso total da ação dos requerentes resulta na realidade”
de más “escolhas processuais” que “não alteraram” durante o processo
“para precisar e individualizar os factos que fundamentavam as suas
ações”, conclui o tribunal.
Um relatório do Parlamento britânico sobre a gestão pandémica
no Reino Unido arrasa os esforços do executivo britânico no sentido de
impedir a propagação do vírus no início da pandemia.
Segundo a visão dos parlamentares, a abordagem do governo de Boris
Johnson, apoiada por cientistas, foi a de disseminar a infeção pela
população em vez de tentar impedi-la, num plano para alcançar a
imunidade de grupo através do contágio, o que levou a um atraso na
implementação do primeiro confinamento no Reino Unido.
Esta decisão provocou mortes que poderiam ter sido evitadas. O resultado, lê-se no relatório, foi um dos “maiores fracassos de saúde pública que o Reino Unido alguma vez experienciou”
As conclusões constam de um relatório de 150 páginas da Comissão de
Saúde e Assistência Social e da Comissão de Ciência e Tecnologia, que
agregam deputados de todo o espetro político, refere a CNN.
“Coronavírus: Lições aprendidas até agora” cobre uma variedade de
sucessos e fracassos ao longo da pandemia, que já custou mais de 150 mil
vidas e que é descrita como o “maior desafio em tempos de paz” do
último século.
Tendo que conta que numa pandemia, é “impossível fazer tudo certo”,
os conservadores Jeremy Hunt e Greg Clark, que presidem às comissões,
consideraram que “o Reino Unido combinou algumas grandes conquistas com
alguns grandes erros” e que “é vital aprender com ambos”.
O governo britânico já reagiu ao relatório produzido pela Câmara dos
Comuns. O ministro da presidência do Conselho de Ministros, Stephen Barclay, assegurou que o executivo irá ter em conta o relatório, referindo que “se há lições a tirar, estamos inclinados a fazê-lo.”
No entanto, Barclay defendeu as decisões tomadas pelo governo de Boris Johnson no início da pandemia.
“Seguimos o aconselhamento científico, conseguimos avançar com a vacinação extremamente rápido, protegemos o nosso NHS de um aumento de casos”, afirmou, no programa matinal da Sky News, citado pelo Observador.
Questionado pela jornalista se não deveria haver lugar a um pedido de
desculpas, Barclay respondeu que não. “Tomámos decisões com base na
evidência que tínhamos”, afirmou.
A Rússia está a ser acusada de ter usado espiões no Reino Unido
para copiar o projeto da vacina Oxford/AstraZeneca e criar a sua
própria vacina, a Sputnik V.
O The Sun escreve que a Rússia está a ser acusada de ter usado espiões no Reino Unido
para copiar o projeto da vacina britânica Oxford/AstraZeneca e criar a
sua própria vacina, a Sputnik V. Os serviços de segurança dizem ter
provas de que um dos espiões de Vladimir Putin roubou dados cruciais
sobre o fármaco.
A vacina russa utiliza uma tecnologia semelhante à da vacina
concebida em Oxford e os serviços de segurança britânicos dizer ter
agora a certeza de que a vacina foi copiada.
Um espião terá sido enviado para o Reino Unido e terá conseguido roubar um projeto “ultra-secreto”
da farmacêutica britânica. Não se sabe, no entanto, se foram furtados
documentos do laboratório ou uma amostra do medicamento para análise.
No ano passado, o falecido ministro da segurança James Brokenshire disse que o Reino Unido tinha “mais de 95% de certeza” de que os hackers patrocinados pelo Estado russo tinham visado o Reino Unido, os Estados Unidos e o Canadá em ataques a empresas farmacêuticas.
Na segunda-feira, o ministro do Interior, Damian Hinds, recusou-se a
confirmar os últimos relatórios, mas admitiu que os ataques cibernéticos
se estavam a tornar mais sofisticados. “Vivemos num mundo onde há
atividade estatal que procura envolver-se em espionagem industrial e
espionagem económica”, disse, em declarações à LBC.
“Não vou comentar o caso específico que mencionou
porque isso não seria correto, mas é justo dizer que enfrentamos ameaças
deste tipo que são diferentes, que são mais sofisticadas, que são mais
extensas do que alguma vez foram”, acrescentou.
Ambas as vacinas – Oxford/AstraZeneca e Sputnik V – são de vetor viral,
o que significa que é usado um outro tipo de vírus modificado para
introduzir parte do material genético do novo coronavírus no organismo e
induzir a resposta do sistema imunitário. As duas vacinas foram
elaboradas para a toma de duas doses.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou hoje que as
alterações climáticas são “a maior ameaça à saúde da Humanidade”,
apelando aos governos para saírem da pandemia de uma forma “saudável e
verde”.
Para isso, a OMS elenca num relatório hoje divulgado dez prioridades, desde logo pedindo aos países signatários do Acordo de Paris
que coloquem “a saúde e a justiça social no centro das conversações” da
26.ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26), que se realiza no
princípio de novembro em Glasgow, na Escócia.
A diretora do departamento da OMS para o Ambiente, Alterações
Climáticas e Saúde, Maria Neira, salientou em conferência de imprensa
que reduzir a poluição atmosférica para os níveis recomendados pela
organização evitaria “80 por cento” das cerca de sete milhões de mortes
provocadas todos os anos pelos efeitos da poluição atmosférica.
“A saúde será a motivação para acelerar e para fazer mais para
combater as alterações climáticas, que afetam os pilares da saúde: alimentação, água e qualidade do ar”, afirmou.
“Talvez esta seja a altura de uma COP da Saúde. É isso que queremos. Qualquer que seja o investimento financeiro necessário, compensará pelos benefícios que trará. Não há desculpas”, referiu Maria Neira.
A OMS citou números do Fundo Monetário Internacional segundo os quais
a indústria dos combustíveis recebe 5,9 biliões de dólares de
financiamento anualmente, o equivalente a 11 dólares por minuto e metade
dessa quantia é o que custam ao mundo os problemas de saúde por eles
provocados todos os anos.
Proteger a saúde humana das consequências das alterações climáticas, sustenta a OMS, exige transformações em setores como o energético, alimentar e financeiro.
O diretor-geral da organização, Tedros Ghebreyesus, argumentou que
“as mesmas escolhas insustentáveis que estão a matar o planeta também
estão a matar pessoas”.
Os apelos da OMS são subscritos por 300 organizações que representam
pelo menos 45 milhões de médicos e outros profissionais de saúde, que
constituem mais de dois terços de todos os trabalhadores do setor a
nível mundial.
“Onde quer que estejamos, nos nossos hospitais, clínicas e comunidades no mundo inteiro, já estamos a ter que responder aos malefícios para a saúde causados pelas alterações climáticas”, refere a carta aberta dos profissionais de saúde também divulgada hoje.
“A combustão de combustíveis fósseis está a matar-nos”,
lê-se no relatório lançado hoje pela OMS em antecipação da 26.ª
Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Alterações Climáticas, em que se refere que o impacto da poluição
atmosférica, que se estima provocar “13 mortes por minuto” em todo o
mundo, é sentido “de forma desproporcional pelos mais vulneráveis”.
Globalmente, a OMS estima que “mais de 90% dos seres humanos respiram níveis nocivos para a saúde de poluição atmosférica”.
Outra mudança, no setor alimentar, no sentido de
regimes alimentares mais “nutritivos e à base de vegetais” poderia
reduzir as emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera e
“evitar até 5,1 milhões de mortes relacionadas com a alimentação até
2050”.
A organização defende que os próprios sistemas de saúde e as instalações em que funcionam precisam de ser também sustentáveis.
Nas cidades, recomenda que se criem mais condições para “andar, andar de bicicleta e usar transportes públicos”.
Outros eixos dos apelos da OMS são a conservação e a reparação dos
ambientes naturais e dos ecossistemas e a orientação dos investimentos
na recuperação pós-pandemia para atividades que não sejam prejudiciais
ao ambiente.
“Esta COP tem que ser especial na sua ambição, nas soluções, nas ações e intervenções propostas, e na rapidez com que são aplicadas”, reforçou Maria Neira.
Recentemente, um grupo de investigadores fez um alerta
durante um congresso médico nos Estados Unidos, devido ao facto de
muitos jovens estarem a adquirir o hábito de tomar suplementos em pó sem
antes os diluir. Uma prática que também contraria a recomendação dos
fabricantes.
Segundo os autores do estudo apresentado no evento, a preocupação tem
crescido sobretudo no caso dos adolescentes, depois da prática ter-se
tornado viral na plataforma Tik Tok – que atualmente conta com milhões utilizadores em todo o mundo.
Este tipo de suplementos energéticos são pensados para serem
consumidos antes da prática de exercício físico e contém vários
aminoácidos, vitaminas e ingredientes como cafeína.
O objetivo é dar uma “dose de estímulo” antes do início da atividade física,
de modo a aumentar a resistência. Porém, já existe conhecimento de
vários riscos pelo consumo em excesso de estimulantes energéticos.
Uma grande dose de cafeína, por exemplo, pode causar efeitos
colaterais no coração, incluindo palpitações ou batidas cardíacas a mais
ou a menos.
Segundo os especialistas do Cohen Children’s Medical Center, em Nova
Iorque, ingerir suplementos energéticos em pó pode ainda fornecer uma
quantidade de cafeína equivalente a cinco copos de café.
A “dose de estímulo” pode causar “uma elevação da pressão sanguínea e do batimento cardíaco, levando a distúrbios no ritmo cardíaco“, referem os autores do estudo.
Além disso, inalar acidentalmente o pó e levá-lo aos pulmões pode
causar sufocamento, infeção ou pneumonia, referem os investigadores.
Neste sentido, algumas notícias recentes mostraram que a prática
acarreta vários perigos.
O tema chamou à atenção depois de uma influencer de 20 anos, Briatney Portillo, ter contado que teve um ataque cardíaco
após ter ingerido a suplementação em pó sem que esta fosse diluída em
água – correlação que ainda não foi confirmada por médicos.
Após o assunto ter ganho relevância pública, os investigadores
analisaram 100 vídeos no Tik Tok com a hashtag “preworkout”
(pré-treino), sendo que apenas oito desses vídeos apresentaram o uso
correto do suplemento em pó. Mais de 30 vídeos exibiam pessoas a ingerir
o pó seco sem diluição, sendo que estes eram sempre os posts com mais
“likes”.
Na apresentação para o congresso da Academia Americana de Pediatras,
foi alertado que “os médicos devem estar cientes da prática disseminada
do pré-treino, dos perigosos métodos de consumo e do potencial de
acidentes com dosagens excessivas e inalação”.
A cientista nutricional Bridget Benelam, da Fundação
Britânica de Nutrição, afirma: “Os suplementos em pó para pré-treino
normalmente contêm cafeína, além de ingredientes como creatina,
aminoácidos e vitaminas”.
“Aparentemente não há muitas pesquisas sobre os benefícios desses produtos, apesar da evidência de que a cafeína pode melhorar performances desportivas
em alguns casos. Os estudos são normalmente feitos em atletas, portanto
não está clara a relevância para a população em geral”, refere.
A especialista frisa ainda que “os níveis de cafeína nesses produtos
são equivalentes a uma chávena de café, podendo chegar a algo como três a
cinco chávenas, de acordo com instruções dos fabricantes”.
“Dessa forma, há risco de consumir cafeína em excesso, especialmente
se a ingestão for superior a mais de uma vez por dia. O simples consumo
do pó [sem diluição] pode representar riscos, já que pode haver consumo
acima da quantidade recomendada”, remata Benelam.
Um engenheiro nuclear da Marinha dos EUA e a mulher estão a
ser acusados de vender informação secreta sobre submarinos nucleares a
um agente infiltrado do FBI que se fez passar por um agente de um país
estrangeiro.
De acordo com o Departamento de Justiça norte-americano, um casal terá vendido informação secreta sobre submarinos nucleares “a uma pessoa que acreditavam ser um representante de uma potência estrangeira” – mas, afinal, a informação estava a ser passada a um agente do FBI infiltrado.
Jonathan e Diana Toebbe foram detidos este sábado, no estado da
Virgínia Ocidental, e acusados de violar a Lei da Energia Atómica,
anunciou o Departamento de Justiça, em comunicado.
Segundo a acusação, Jonathan Toebbe, de 42 anos, que é um engenheiro
nuclear da Marinha com autorização de segurança ultra-secreta, enviou
dados restritos a um país não identificado em 2020 e, mais tarde,
começou a vender segredos por dezenas de milhares de dólares em moeda
criptográfica a um agente infiltrado do FBI, que se fazia passar por um
funcionário estrangeiro.
Uma das acusações está relacionada com uma situação em que Toebbe terá escondido um cartão de memória digital com documentos sobre reatores nucleares submarinos em meia sandes de manteiga de amendoim, que terá entregue num dead drop, enquanto a sua esposa ficava de vigia, escreve a Reuters.
No cartão de memória, o casal “vendeu informações conhecidas como dados restritos sobre o design”
de submarinos nucleares – elementos “militarmente sensíveis, parâmetros
de funcionamento e características de desempenho de reatores
submarinos”.
Toebbe recebeu pagamentos separados em moeda criptográfica num total de 100 mil dólares, alega o Departamento de Justiça.
As autoridades anunciaram que Jonathan e Diana Toebbe foram detidos
por agentes do FBI e dos Serviços Navais de Investigação Criminal (NCIS,
na sigla em inglês), após terem colocado mais um cartão de memória num
local de entrega na Virgínia Ocidental.
Agora, são acusados de conspiração e de “comunicação de dados
restritos” e deverão ser presente a um juiz num tribunal federal da
Virgínia Ocidental na terça-feira, 12 de outubro.
O presidente chinês, Xi Jinping, prometeu este sábado uma
“reunificação” inevitável com Taiwan por meios “pacíficos”, enquanto a
ilha relatou nos últimos dias um número recorde de incursões de aviões
militares provenientes de Pequim.
O chefe de Estado chinês discursou no âmbito das comemorações do 110º
aniversário da Revolução de 1911, que derrubou a última dinastia
chinesa.
O evento, que é celebrado hoje na China Comunista, também será recordado no domingo em Taiwan, onde Sun Yat-sen, o primeiro presidente chinês, é considerado o pai da nação.
A ilha de Taiwan, que detém um sistema democrático, é governada por
um poder independente de Pequim desde a vitória dos comunistas sobre o
continente em 1949. A China considera este território como uma das suas
províncias, ameaçando usar a força no caso de uma proclamação formal de independência da ilha.
“Alcançar a reunificação da pátria por meios pacíficos é do interesse
geral da nação chinesa, incluindo dos compatriotas de Taiwan”, referiu
Xi Jinping no Palácio do Povo em Pequim.
Apesar da sua rivalidade política e histórica, Pequim e Taipé têm em
comum a sua legitimidade da Revolução de 1911. “A reunificação do nosso
país pode e será alcançada”, garantiu Xi Jinping, alertando contra
qualquer interferência estrangeira.
“A questão de Taiwan é um assunto puramente interno da China”, insistiu, depois de na sexta-feira, Washington admitir que estava a treinar o Exército taiwanês há meses.
Um contingente de cerca de 20 membros das operações especiais e
forças convencionais americanas tem vindo a conduzir os treinos há menos
de um ano, segundo informou à AFP um funcionário do Pentágono, sob anonimato. Os EUA fornecem ainda armas a Taiwan.
Os americanos têm um compromisso ambíguo de defender Taiwan, que
Pequim considera uma província rebelde. Porém, Xi Jinping adverte que:
“ninguém deve subestimar a forte determinação (…) do povo chinês em
defender a soberania nacional e a integridade territorial”.
A comemoração da Revolução é um dos poucos eventos que unem a China e Taiwan.
A líder da ilha, Tsai Ing-wen, inimiga dos
comunistas devido às suas tendências separatistas, também deverá fazer
um discurso no domingo devido ao aniversário.
“Aqueles que traem a pátria e dividem o país nunca terminam bem”, ameaçou Xi Jinping relativamente aos separatistas taiwaneses.
Ainda assim, escreve o Público, as agências internacionais notam um tom menos agressivo
por parte de Xi em contraste com a postura adotada num discurso em
julho em que prometeu “esmagar” qualquer tentativa de declaração
unilateral de independência por parte de Taiwan.
As comemorações dos acontecimentos de 1911 ocorrem numa altura que
está a haver grande tensão no Estreito de Taiwan, após a maior incursão
nos últimos dias por aviões militares chineses na zona de identificação
de defesa aérea da ilha.
Um relatório detalha centenas de expulsões ilegais de
requentes de asilo pelas forças de autoridade oficiais de
estados-membros da UE. Várias ONGs acusam a Comissão Europeia de ser
cúmplice por continuar a financiar as operações de patrulha nas
fronteiras e por não punir os países em causa.
Uma nova investigação do consórcio de jornalistas Lighthouse Reports
veio lançar novas dúvidas sobre a política migratória de estados-membros
da União Europeia e de países vizinhos, relatando alegadas devoluções de migrantes para que estes não possam pedir asilo no espaço europeu.
Este tipo de práctica sem se avaliar primeiro as circunstâncias dos migrantes é ilegal segundo a lei internacional e a Carta Europeia dos Direitos Humanos e é também ilegal um país negar pedidos de asilo, que estão a cargo dos tribunais.
Vários países europeus e estados-membros da UE têm efectuado centenas
de reenvios ilegais nas fronteiras externas do bloco desde o início de
2020, numa “violenta campanha” para negar o acesso ao asilo, alega o relatório.
A organização jornalística publicou vários vídeos captados pelos
próprios migrantes, por câmaras de vigilância e por drones mostra que os
reenvios são levados a cabo por forças de segurança encapuzadas e unidades de polícia à paisana que recebem fundos da UE para operações de vigilância nas fronteiras do bloco europeu.
Através dos testemunhos, entrevistas com mais de 12 actuais e antigos
agentes da polícia e as imagens, os jornalistas concluíram que pelo menos 189 pessoas
tinham sido negadas acesso ao sistema de pedido de asilo da UE
ilegalmente, o que acreditam ser apenas uma “pequena amostra das
devoluções”.
Vários vídeos publicados pelo grupo filmados na Croácia mostram homens armados e de cara tapada a agredir migrantes com cacetetes
e gritando para que voltassem para a Bósnia. Os migrantes dizem que
pediram asilo aos polícias croatas, mas que lhes foi negado e mostraram
as marcas das agressões no corpo.
Foram também filmadas várias devoluções de migrantes na fronteira da
Roménia com a Sérvia e os membros da força de autoridade que vigia a
fronteira romena confirmaram que esta é uma práctica recorrente e que são instruídos a seguir.
Na Grécia, a equipa aponta que terão havido pelo menos 635 reenvios
desde Março de 2020 e que 15 terão sido levados a cabo por homens de
cara tapada, que antigos e actuais membros da Guarda Costeira grega
identificaram como parte das equipas que se dedicam a patrulhar as
travessias do mar Egeu.
“A nossa investigação mostra que estas forças clandestinas não são
populares mascarados, mas sim unidades da polícia que têm de reportar
aos governos da União Europeia. As operações são negadas em público mas financiadas e equipadas com orçamentos da UE“, explicam os jornalistas.
As revelações da investigação do Lighthouse Reports, que foi feita em
parceria com a revista alemã Der Spiegel e o jornal francês Libération
durante oito meses, veio confirmar as críticas que muitas ONGs já tinham
feito à política migratória da UE e sobre a falta de acção das
autoridades europeias.
Croácia, Grécia, Itália e Chipre são alguns dos países que mais dinheiro recebem da UE
para gestão dos fluxos migratórios e todos eles têm acusações de
devoluções ilegais de migrantes. As políticas migratórias da Hungria nos
últimos anos têm também causado polémica.
Recentemente, a Polónia, outro estado-membro da UE, também tem sido criticada por estar alegadamente a devolver migrantes à Bielorrússia,
que está a aceitar vistos de refugiados iraquianos e afegãos e
obriga-os depois a atravessar ilegalmente a fronteira com a Polónia como
retaliação contra as sanções europeias ao governo de Lukashenko.
Segundo Bruno Oliveira Martins, investigador no Peace Research
Institute de Oslo, a culpa não é apenas dos países individuais mas
também da União Europeia. “É preciso sublinhar que que estas pessoas
encapuçadas, por muito que aparentem atuar à margem da lei, estão na
verdade a cumprir políticas oficiais da UE”, revela ao Expresso.
Comissão Europeia é cúmplice, acusa Amnistia
Em resposta à situação a Croácia lançou na quinta-feira uma
investigação às alegações e vai criar um organismo específico para
investigar estes casos. “A nossa equipa de peritos já está no terreno
para determinar o que terá acontecido, onde e quem
esteve envolvido, onde aconteceu. Há muitas questões que precisam de uma
análise minuciosa”, anunciou o Ministro do Interior da Croácia, Davor
Bozinovic.
A Comissão Europeia também já respondeu, com a Comissária para os
Assuntos Internos da UE, Ylva Johansson, a descrever o relatório como
“chocante” e mostrando-se “extremamente preocupada”. “Isto tem de ser
investigado, mas parecem indicar que há alguma orquestração de violência nas nossas fronteiras externas”, diz Johansson, citada pela Euronews.
A Comissária do Conselho Europeu dos Direitos Humanos, Dunja
Mijatović, reagiu no Twitter, dizendo que estava “na hora” dos membros
“investigarem eficazmente, tomar medidas, responsabilizarem-se e acabarem” com estas violações aos direitos humanos.
O porta-voz da Comissão, Adalbert Jahnz, respondeu à situação. “Os
vídeos e relatos de devoluções nas fronteiras externas da UE que foram
publicados pelo Lighthouse Reports são muito preocupantes.
Actos de violência contra migrantes, requerentes de asilo e refugiados
são inaceitáveis e devem ser investigados”, disse em conferência de
imprensa.
No entanto, esta não é a primeira vez que a Comissão Europeia sabe da
existência destas políticas de devoluções de migrantes. Em Janeiro, a
ONU ordenou uma investigação e “inquéritos urgentes às alegadas
violações e maus-tratos” a migrantes, mas a Comissão nunca penalizou qualquer estado-membro envolvido nestas políticas.
A Amnistia Internacional também não está convencida com a resposta da
Comissão. A investigadora da ONG nos Balcãs Jelena Sesar refere que
esta investigação é “a mais recente prova de que as devoluções ilegais e
a violência contra os requerentes de asilo e migrantes são comuns nas
fronteiras externas da UE”.
Sesar acusa também as autoridades europeias de “fingir que não veem a violação chocante da lei da UE” e de “continuar a financiar a polícia e as operações nas fronteiras de alguns países”.
“O financiamento da Comissão Europeia tem sido usado pelas
autoridades croatas para comprar equipamentos para a polícia e até para
pagar os salários dos patrulhas na fronteira, o que torna a UE cúmplice nestas violações“, remata.
Uma Organização Não-Governamental (ONG) que acompanha os
abusos no sistema prisional russo terá recebido “milhares” de vídeos com
fugas de informação, que mostram reclusos a serem espancados e
torturados por guardas em várias prisões russas.
“Esta é uma fuga sem precedentes que provocará ondas choque por todo o
país. No total, temos mais de 40 gigabytes de ficheiros que mostram tortura generalizada“, disse Vladimir Osechkin, o fundador do grupo de direitos Gulagu.net, ao The Moscow Times.
Três dos vídeos — que mostram reclusos a serem torturados num hospital prisional na cidade de Saratov, no Volga — foram publicados esta terça-feira e Vladimir Putin já disse ter conhecimento das filmagens.
“Se isto for confirmado, levará a uma investigação muito séria”,
disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, na terça-feira, explicando
que o Serviço Prisional Federal (FSIN) já está a investigar.
Esta quarta-feira, o Gulagu.net publicou novas filmagens que mostram prisioneiros a serem espancados e torturados, não só no hospital prisional em Saratov, mas também em prisões nas regiões de Belgorod e Kamchatka.
Outro vídeo, ao qual o Moscow Times teve acesso, mostra várias pessoas a usarem um grande objeto para violar um homem nu que está amarrado a uma cama.
Entretanto, o chefe do serviço prisional de Saratov foi despedido,
juntamente com três funcionários regionais e o médico chefe da prisão,
anunciou o FSIN.
Segundo Osechnkin, a organização começou a receber as filmagens em março, através de um ex-presidiário de Saratov.
O ex-recluso será um especialista bielorrusso em informática
e terá conseguido aceder a imagens armazenadas nos computadores da
prisão, filmadas em estabelecimentos prisionais nas regiões de Irkutsk,
Vladimir e Saratov entre 2018 e 2020.
O denunciante deixou a Rússia no início desta semana, recusando-se a revelar a sua localização para garantir a sua segurança.
“Estamos a planear publicar partes dos vídeos passo a passo nas próximas semanas, agora que a fonte está fora do alcance das autoridades russas“, disse Osechkin.
Os vídeos foram enviados ao Comité Europeu para a Prevenção da Tortura e Tratamento ou Punição Desumana ou Degradante (CPT).
Osechkin fundou a organização de direitos humanos Gulagu.net em 2011
para monitorizar as violações dos direitos dos reclusos na Rússia — em
2015, deixou o país e reside atualmente em França.
Uma equipa de especialistas que investiga casos arquivados alega ter identificado o Zodiac Killer (Assassino
do Zodíaco), um dos mais prolíficos assassinos em série dos EUA ligado a
uma série de assassinatos brutais e enigmas insolúveis.
No final dos anos 1960, um serial killer conhecido pelo pseudónimo “Zodíaco” assassinou pelo menos cinco pessoas na Califórnia. Enquanto isso, o assassino enviou várias mensagens à imprensa, escritas em código onde as letras são substituídas por uma série de símbolos.
A sua identidade permanece uma incógnita até hoje, já que as autoridades norte-americanas nunca conseguiram apanhar o responsável pelos homicídios.
Agora, o grupo de especialistas — conhecido por The Case Breakers — garante ter descoberto a verdadeira identidade do Assassino do Zodíaco: Gary Francis Poste. O suspeito em causa morreu em 2018 e, de acordo com a equipa de voluntários, há várias pistas que apontam para si.
Gary Francis Poste
A equipa reúne mais de 40 ex-policias, investigadores particulares,
agentes federais e especialistas forenses, escreve o jornal britânico The Independent.
As pistas em causa incluem várias fotografias encontradas na sua câmara escura, um padrão de rugas na sua testa que correspondem a um esboço do Zodíaco feito pela polícia e evidências forenses, incluindo ADN.
Um antigo agente de contra-espionagem do Exército e membro da equipa revelou que o nome completo de Gary era a chave para decifrar os enigmas.
“Você precisa de saber o nome completo de Gary para decifrar estes
anagramas”, disse Jen Bucholtz. “Acho que não há outra maneira de alguém
descobrir de outra forma”.
Os especialistas também acreditam que o Assassino do Zodíaco é o responsável pela morte de Cheri Jo Bates, na Califórnia, a 31 de outubro de 1966 — dois anos antes do alegado primeiro homicídio atribuído ao Zodíaco.
Poste era um veterano da Força Aérea quando recebeu exames médicos devido a um incidente com uma arma num hospital localizado a 15 minutos da cena do crime de Bates.
Além disso, um relógio com restos de tinta foi encontrado na cena do crime e acredita-se que tenha sido usado pelo assassino. Coincidência ou não, Poste pintou casas durante mais de quatro décadas.
Os detetives encontraram ainda uma pegada de uma bota de estilo militar, que combinava com o mesmo estilo e tamanho das encontradas em outras cenas de crime do Zodíaco e de Poste.
O grupo está agora a pressionar a polícia local para comparar uma
amostra de ADN de Poste com as recolhidas na cena do crime de 1966.
Os Case Breakers citam também um memorando do FBI, de 1975, que dizia que Cheri Jo Bates era a sexta vítima do Zodíaco.
Um mês depois do homicídio, a polícia recebeu uma carta com uma confissão, com frases semelhantes às usadas pelo Zodíaco. No entanto, as autoridades desconsideraram esta carta, sugerindo que foi uma “piada de mau gosto”.
Em declarações à FOX News,
o departamento de homicídios da Polícia de Riverside, na Califórnia,
“determinou que o assassinato de Cheri Jo Bates em 1966 não está
relacionado ao Assassino do Zodíaco”.
“O autor admitiu que não era o Assassino do Zodíaco ou de Cheri Jo Bates e que estava apenas a procurar atenção”, disse o departamento de polícia.
O caso inspirou dois filmes: “Zodiac” (2007), com Jake Gyllenhaal, Robert Downey Jr. e Mark Ruffalo, e “Dirty Harry” (1971), com Clint Eastwood.
As primeiras cartas do Zodíaco foram enviadas para três jornais da
cidade da Califórnia, sendo que cada uma continha uma parte diferente da
mensagem codificada. Os jornais publicaram os códigos enquanto o assassino continuava a ameaçar matar se as suas instruções não fossem seguidas.
A mensagem foi descodificada uma semana depois, manualmente, a 8 de agosto de 1969, por Donald Gene e Bettye June Harden. No entanto, outras mensagens demoraram vários anos até serem decifradas.
Entretanto, vários entusiastas têm vindo a tentar descodificar as
mensagens deste homicida. Em junho deste ano, Fayçal Ziraoui disse ter descodificado as duas últimas mensagens em apenas duas semanas, com o uso da chave de criptografia descoberta em dezembro.
De acordo com a equipa que descodificou a mensagem em dezembro de 2020, o assassino gaba-se do que fez, desafia as autoridades e apresenta sinais de delírio sem esclarecer quaisquer motivos para as atrocidades ou evidências de quem é.
Nove casernas do campo de concentração de Auschwitz II-Birkenau, na Polónia, foram esta terça-feira vandalizadas com graffiti antissemitas.
As estruturas de madeira localizadas no museu do campo de concentração foram marcadas com referências ao Velho Testamento e com slogans que negam o Holocausto. Assim que forem recolhidas as provas do crime, os graffiti serão removidos.
Num comunicado divulgado nas redes sociais, o Auschwitz Memorial escreveu que este “é um golpe extremamente duro à memória de todas as vítimas do campo de concentração nazi de Auschwitz-Birkenau”.
Citado pelo Observador, o museu espera que a “pessoa ou pessoas que tenham cometido este crime hediondo sejam encontradas e castigadas”. É ainda pedido a quem tenha assistido ao crime que comunique as informações ao museu.
“O sistema de segurança do memorial do Auschwitz está constantemente a
ser expandido. É financiado pelo orçamento do museu, que infelizmente
sofreu durante a pandemia de covid-19”, revelou ainda o museu.
O museu está agora a analisar as imagens de videovigilância, lembrando que o campo tem cerca de 170 hectares, pelo que ainda não foi possível observar todas as gravações.
Morreram 1,1 milhões de pessoas — a maioria delas judeus — ao longo de cinco anos em Auschwitz-Birkenau, depois de o campo ter sido inaugurado em 1940.
Em 2010 um sueco foi condenado a oito anos e dois meses de prisão por
ter tentado roubar o famoso sinal do campo de concentração em que se lê
“O Trabalho Liberta”.
Um tiroteio numa escola secundária em Arlington, no Texas,
Estados Unidos, fez pelo menos quatro feridos esta quarta-feira,
informaram as autoridades locais.
“Estamos no local de um tiroteio na Timberview High School”, escreveu a polícia local em Arlington no Twitter. A estação local NBC disse que houve “múltiplas” baixas no tiroteio.
A polícia está “ativamente à procura do suspeito”, disse à NBC o presidente da câmara, Jim Ross. Três vítimas foram hospitalizadas devido à gravidade dos ferimentos, enquanto uma quarta vítima, com ferimentos leves, não precisou de ser internada.
As autoridades escolares distritais disseram, em comunicado, que a
polícia estava a responder a uma “situação de atiradores ativos” na
escola que foi encerrada.
Uma porta-voz do Departamento de Polícia de Arlington disse que os
agentes responderam a um tiroteio na escola, mas que não podia confirmar
se havia feridos.
Entretanto, a polícia divulgou uma fotografia do suspeito dos disparos. As autoridades acreditam tratar-se de Timothy George Simpkins, de 18 anos.
O Departamento de Polícia disse no Twitter que os agentes estavam a
fazer uma “busca metódica” e que estavam a trabalhar em estreita
colaboração com outras forças de segurança.
A autoridade escolar local disse que os estudantes e o pessoal da escola estavam trancados nas salas de aula ou nos gabinetes, segundo a agência de notícias Associated Press.
Jean-Marc Sauvé disse que as investigações tinham revelado
entre 2.900 e 3.200 padres pedófilos ou outros membros da igreja,
acrescentando que se tratava de “uma estimativa mínima”.
O presidente da comissão nacional de investigação da criminalidade
pedófila na Igreja em França, disse, este domingo, ter havido “entre 2.900 e 3.200 criminosos pedófilos”, homens – padres ou religiosos – na Igreja Católica no país desde 1950.
“É uma estimativa mínima”, baseada no censo e na
análise dos arquivos (Igreja, justiça, polícia judiciária e imprensa) e
nos testemunhos recebidos por este organismo, afirmou Jean-Marc Sauvé à France-Presse (AFP).
Ao longo deste período de 70 anos a população geral de padres ou de religiosos no país cifra-se nos 115.000.
Após dois anos e meio de trabalho, a Comissão Independente sobre o
Abuso Sexual na Igreja (ICAS) publicará as suas conclusões na
terça-feira num relatório que acabará por chegar às “2.500 páginas”,
disse.
O relatório dará uma visão quantitativa do fenómeno, incluindo o número de vítimas.
Irá comparar a prevalência da violência sexual na Igreja com a
identificada noutras instituições (associações desportivas, escolas) e
no círculo familiar e avaliar os “mecanismos, particularmente
institucionais e culturais”.
Vão ser apresentadas 45 propostas.
A comissão, composta por 22 profissionais do direito, médicos,
historiadores, sociólogos e teólogos, foi criada em 2018 após o Papa
Francisco ter aprovado uma medida histórica que obrigava as pessoas que
tinham conhecimento de abusos na igreja a denunciá-los aos seus
superiores hierárquicos.
Citados pelo The Guardian,
o sociólogo Philippe Portier prometeu que o relatório “não seria fácil
para ninguém” e Olivier Savignac, da associação de vítimas Parler et Revivre, disse que “teria o efeito de uma bomba“.
A verdadeira história é muito mais do que uma aventura estrelada por um herói canadense.
Uma
história da CBC sobre um ex-soldado canadense que ajudou dezenas de
fugir do Afeganistão deveria ter considerado o papel da indústria de
segurança privada na desastrosa guerra de 20 anos naquele país da Ásia
Central. O grande número de empresas de segurança privada (PSC) no
Afeganistão quase não recebeu atenção da mídia, deixando os canadenses
ignorantes de um elemento polêmico da ocupação estrangeira.
Em
“Como um cara conhecido como‘ Canadian Dave ’ajudou a tirar 100 pessoas
do Afeganistão nos últimos dias da aquisição do Taleban”, Judy Trinh
escreve sobre David Lavery ajudando a levar alguns dos que se reuniam
perto do aeroporto de Cabul para voos. Membro fundador da unidade de
elite das forças especiais JTF2, Lavery coordenou com veteranos deste
país a retirada de mais de 100 indivíduos com documentos canadenses. Alguns
sugeriram que o rápido colapso dos militares afegãos foi em parte
devido à retirada do apoio do PSC. “Foi a partida deles [PSCs] que levou
à erosão da capacidade dos elementos da Força Aérea Afegã, que eram
críticos”, disse um ex-comandante dos EUA no Afeganistão à Foreign
Policy. “Mas como eles poderiam ter sido deixados para trás quando
nossas forças que forneciam a segurança definitiva para eles foram
retiradas?” A história amplamente divulgada mencionou que Lavery
operava uma PSC, a Raven Rae Consultancy, com cerca de 50 funcionários
afegãos. Mas um olhar mais amplo sobre Raven Rae e PSCs foi omitido do
artigo e da maioria dos relatos da mídia sobre o Afeganistão. De acordo
com seu site, Raven Rae entrou no Afeganistão em 2010. Foi um dos
milhares de PSCs que entraram no Afeganistão durante a ocupação dos EUA e
da OTAN. De acordo com a pesquisadora da indústria de segurança privada
Anna Powles, o Afeganistão “tem sido um trem da alegria para a
indústria de segurança privada global nas últimas duas décadas”. Os EUA,
Canadá e outros países da OTAN distribuíram bilhões de dólares para
PSCs. Como no caso de Lavery, muitos ex-soldados canadenses eram
proprietários ou trabalhavam para PSCs no Afeganistão. “Fundado em
meados dos anos 2000 por veteranos militares canadenses”, o Tundra Group
protegia as bases operacionais avançadas no Afeganistão. A empresa
Globe Risk Holdings de Toronto tinha escritórios em Cabul e Kandahar.
Contratou ex-soldados canadenses, assim como a Canpro Global de
Vancouver, que também tinha um escritório no Afeganistão. No auge da
missão militar canadense de 13 anos no Afeganistão, Saladin, a DynCorp e
outras PSCs tinham um número maior de homens armados do que a maioria
dos países da OTAN que ocupam o Afeganistão. Em 2008, o Brigadeiro
General canadense Denis Thompson explicou: “Sem empresas de segurança
privada, seria impossível alcançar o que estamos alcançando aqui.
Existem muitos aspectos da missão aqui no Afeganistão, muitos aspectos
de segurança que são realizados por empresas de segurança privada que,
se fossem entregues aos militares, tornariam nossa tarefa impossível.
Simplesmente não temos os números para fazer tudo. ” O governo
federal gastou dezenas, talvez centenas, de milhões de dólares em PSCs.
Eles pagaram US $ 10 milhões por segurança privada para proteger o
projeto de ajuda de US $ 50 milhões da "assinatura" do Canadá para
consertar a barragem de Dahla na província de Kandahar. O governo
federal contratou Saladino para proteger sua embaixada em Cabul.
Saladino também ajudou a proteger o primeiro-ministro Stephen Harper
durante uma visita lá em 2007 e protegeu as bases operacionais avançadas
na província de Kandahar. Saladin tem uma história preocupante. Seu
predecessor, KMS, treinou e possivelmente equipou insurgentes islâmicos
que lutavam contra as forças russas no Afeganistão na década de 1980 e
enviou mercenários à Nicarágua como parte do Caso Irã Contra. As
empresas de segurança privada no Afeganistão eram mal regulamentadas.
Muitos afegãos acreditavam que as PSCs participavam do crime e o grande
número de homens armados de diferentes grupos os deixava inseguros.
Afegãos disseram aos pesquisadores da Fundação Suíça para a Paz que os
PSCs se comportavam de maneira "caubói". Depois que um oficial canadense
foi morto por um funcionário do PSC em agosto de 2008, o major
canadense Corey Frederickson efetivamente concordou, explicando que o
"exercício de contato normal [para PSCs] é que assim que eles forem
atingidos por algo, então será 360 [graus], aberto em qualquer coisa que
se mova. ” As invasões do Afeganistão e do Iraque ajudaram a
impulsionar o GardaWorld, com sede em Montreal, a ser o maior PSC
privado do mundo. Nas últimas semanas, centenas de funcionários da
empresa de Montreal foram evacuados do Afeganistão.
Com mais de
100.000 funcionários em todo o mundo, Garda anuncia regularmente na
Esprit du Corps, convocando os leitores das Forças Canadenses da revista
para "traduzir suas habilidades militares em uma carreira no
Gardaworld". Vários ex-oficiais canadenses estavam nos escalões
superiores de Garda. O chefe das operações de Garda no Afeganistão,
Daniel Ménard, comandou anteriormente as operações das Forças Canadenses
no Afeganistão. Ménard foi levado à corte marcial por ter relações
sexuais com um subordinado no Afeganistão e por ter disparado de forma
imprudente sua arma. Enquanto trabalhava para Garda, Ménard também foi
envolvido em polêmica no Afeganistão. Em 2014, ele foi preso por suposto
contrabando de armas. Dois anos antes, dois outros funcionários da
Garda no Afeganistão foram pegos com dezenas de fuzis AK-47 não
licenciados e encarcerados por três meses.
Garda também esteve
envolvido em vários incidentes violentos no Afeganistão. Em 2019, três
crianças estavam entre uma dúzia de mortos quando um microônibus cheio
de explosivos colidiu com um SUV Garda que transportava cidadãos
estrangeiros em Cabul. No mesmo ano, o Taleban atacou o complexo onde os
escritórios de Garda estavam localizados em um incidente que deixou 30
mortos. O Kathmandu Post relatou que Garda enganou ilegalmente a família
de um funcionário nepalês morto no ataque. Existem poucos
regulamentos que restringem as operações internacionais das unidades de
atendimento canadenses. Ao contrário dos EUA e da África do Sul, observa
“Beyond the Law? O regulamento das empresas privadas militares e de
segurança canadenses que operam no exterior ”,“ Os canadenses não têm
legislação destinada a regulamentar os serviços prestados por PMSCs
canadenses [empresas privadas de segurança militar] operando fora do
Canadá ou a conduta de cidadãos canadenses que trabalham para PMSCs
estrangeiros ”. Além disso, Ottawa não assinou a Convenção Internacional
contra o Recrutamento, Uso, Financiamento e Treinamento de Mercenários e
tem estado pouco envolvida com o Grupo de Trabalho do Conselho de
Direitos Humanos da ONU sobre o uso de mercenários. A retirada
militar estrangeira e a captura do Taleban de Cabul dizimou a grande
indústria de PSC no país. No entanto, a maioria dos afegãos
provavelmente está feliz em ver o fim das forças mercenárias privadas e
dos pistoleiros contratados dominando seu país. Este desenvolvimento não
foi amplamente divulgado pela mídia canadense. O CBC deve aos canadenses uma discussão sobre o papel que as forças de segurança privadas desempenharam no Afeganistão.
Um cidadão canadiano, suspeito de narrar os vídeos de
propaganda do Estado Islâmico em inglês, encontra-se agora sob custódia
do FBI e pode enfrentar prisão perpétua.
Mohammed Khalifa, atualmente com 38 anos, foi capturado pelas forças
curdas na Síria em 2019 e, recentemente, transferido para custódia do
Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos (FBI) e será
julgado na Virgínia.
“Mohammed Khalifa, um cidadão canadiano nascido na Arábia Saudita que
era uma figura de liderança no Estado Islâmico do Iraque e na Secção de
Imprensa Inglesa da al-Sham’s (ISIS) e que serviu como combatente da
ISIS, foi acusado de conspirar para fornecer apoio material à ISIS, uma
organização terrorista estrangeira, resultando em morte“, explica o Departamento de Justiça norte-americano, em comunicado.
De acordo com o Washington Post, Khalifa começou como combatente da organização terrorista, mas acabou por liderar a comunicação em língua inglesa
do grupo terrorista, evolvendo-se na tradução e divulgação de
propaganda, incluindo vídeos, áudio e uma revista online — antes de se
juntar ao Estado Islâmico, o canadiano era especialista em tecnologia da
informação, em Toronto.
Khalifa, nascido na Arábia Saudita, terá narrado mais de uma dúzia de
vídeos de recrutamento do ISIS, incluindo dois dos mais influentes: “Flames of War: Fighting Has Just Begun”, em 2014, e “Flames of War II: Até à Última Hora”, em 2017.
Nos vídeos, segundo os registos do tribunal, o canadiano encoraja os
apoiantes a juntarem-se ao Estado islâmico no estrangeiro e a
“conduzirem ataques terroristas contra não-muçulmanos”, escreve a CNN.
Alguns vídeos mostram até execuções brutais, incluindo de prisioneiros sírios forçados a cavar as suas próprias sepulturas e de um piloto jordano a ser queimado vivo.
“Como alegado, Mohammed Khalifa não só lutou pelo ISIS no campo de batalha na Síria, como também foi a voz por detrás da violência“, disse Raj Parekh, Procurador Interino dos Estados Unidos, citado no comunicado do Departamento de Justiça.
“Através do seu alegado papel de liderança na tradução, narração e avanço da propaganda online do ISIS, Khalifa promoveu o grupo terrorista, promoveu os seus esforços de recrutamento a nível mundial, e expandiu o alcance dos vídeos que glorificavam os assassínios horríveis e a crueldade indiscriminada“, continuou.
Na altura em que os vídeos “Flames of War” foram divulgados,
as autoridades americanas não sabiam a quem pertencia a voz que os
narrava, mas o público ajudou a identificá-la e, depois de ser
capturado, Khalifa identificou-se a vários meios de comunicação social
como o misterioso propagandista.
“Eu tinha uma vida normal no Canadá, estava a sair-me muito bem, e
decidi desistir sabendo o que estava a sacrificar. Foi uma decisão que
tomei e mantive-me fiel a ela”, disse, em declarações à CBC.
Amarnath Amarasingam, um investigador de extremismo na Queen’s University, no Canadá, foi o primeiro a identificar Khalifa como a voz dos vídeos violentos do ISIS.
As pessoas disseram que era louco, recordou Amarasingam, quando disse
que o homem que se intitulava Abu Ridwan al-Kanadi soava “distintamente
como as pessoas com quem cresci em Toronto”.
“Ele é uma pessoa significativa, na medida em que ele era a voz que ouvíamos” nos meios de comunicação do Estado Islâmico.
Se for considerado culpado, Mohammed Khalifa poderá passar o resto dos seus dias na prisão.
Uma nova acusação de violação contra um agente da Polícia
Metropolitana voltou a reacender as críticas à força policial e questões
sobre a cultura sexista e de encobrimento, depois dos protestos
motivados pela morte de Sarah Everard.
Depois do caso de Sarah Everard, que suscitou uma onda de protestos e
críticas à Polícia Metropolitana no Reino Unido, a força de autoridade
está agora novamente a ser alvo de escrutínio depois de mais um caso de
um agente que está a ser acusado de violação ter sido divulgado no domingo.
A acusação a David Carrick, de 46 anos, foi feita apenas no domingo,
mas o agente vai ser presente a juiz numa videoconferência já esta
segunda-feira. A violação terá alegadamente acontecido na noite de 4 de Setembro de 2020 em St Albans, quando o polícia estava de folga.
O polícia pertencia ao Comando de Protecção Parlamentar e Diplomático
da Política Metropolitana britânica, que oferce protecção a edifícios
governamentais, como embaixadas e o Palácio de Westminster (onde se
encontra o parlamento), e foi suspenso a 2 de Outubro.
A Comissária da Polícia Metropolitana Cressida Dick mostrou-se
“profundamente preocupada” ao ouvir as notícias de uma detenção por “uma ofensa séria“.
“Eu reconheço completamente que o público também vai estar muito
preocupado. Os procedimentos criminais vão agora seguir o seu curso”,
afirmou, citada pela Sky News.
O procurador-chefe dos serviços da Coroa, Malcom McHaffie, acrescenta
que o Serviço de Procuração da Coroa lembra a todos os envolvidos que
“os procedimentos criminais contra o réu estão activos e que ele tem
direito a um julgamento justo”. “É muito importante que não haja
notícias, comentários ou partilhas de informação online que possam de alguma forma influenciar estes procedimentos“, alertou, citado pelo The Guardian.
Polícia sob escrutínio público
Apesar do alerta de Malcom McHaffie, este é um momento crítico para o
policiamento no Reino Unido, com grande parte do público a perder confiança nas forças de autoridade.
O caso de Sarah Everard, uma mulher de 33 anos que tinha ido visitar alguns amigos e foi raptada, violada e assassinada
pelo agente Wayne Couzens quando regressava a casa, levantou protestos a
exigir mudanças nas estruturas da polícia no Reino Unido.
A autópsia revelou que Sarah morreu de compressão no pescoço e Couzens, que pertencia à mesma força de David Carrick, confessou o crime.
O agente terá usado a sua autoridade para fingir que ia deter a mulher e
atraí-la para fora da rua, tendo-a depois sufocado com um cinto e
queimado o seu corpo. Couzens ficou em prisão preventiva e já foi condenado a prisão perpétua.
A morte de Sarah Everard chocou o Reino Unido, não só pela violência, como também por ter sido levado a cabo por um polícia que tem a função de proteger a população e que abusou dessa confiança e autoridade.
Seguiu-se uma onda de protestos e vigílias de homenagem a Sarah Everard, com a polícia a ser novamente criticada pelo uso excessivo de violência contra os manifestantes.
O caso levantou uma onda de desconfiança na sociedade britânica em
relação à polícia, que se questiona agora se há mais casos que nunca
chegam à justiça e se há uma cultura de encobrimento dentro das forças, especialmente depois de se saber que Wayne Couzens já tinha sido acusado
de atentado ao pudor em 2015 e em Fevereiro de 2021, apenas dias antes
de ter matado Sarah Everard, sem ter sofrido quaisquer consequências
disciplinares.
O agente terá alegadamente chegado a conduzir nu da cintura para baixo num McDonald’s. Uma mulher também já tinha acusado Couzens de conduta inapropriada quando este ainda era agente na força civil nuclear no Kent, que nunca reportou nenhum problema.
Na altura, foi feita uma queixa à polícia do Kent, que está agora ser investigada por poder ter ignorado o caso. “Vamos lançar uma investigação
às alegadas falhas da polícia do Kent de investigar um incidente de
importunação sexual ligada ao PC Couzens em 2015”, afirma o Independent
Office for Police Conduct (IOPC).
“Há outras investigações separadas sobre as falhas da Polícia
Metropolitana de investigar duas alegações de importunação sexual
ligadas a Couzens em Londres em Fevereiro de 2021”, concluiu o IOPC.
A Scotland Yard afirmou que o seu sistema de triagem não falhou, mas admite que não apanhou o incidente no McDonald’s e continua a investigar a conduta de outro agente que poderá ter protegido Couzens.
A escolha dos agentes está também a ser posta em causa, especialmente
devido a casos anteriores, e questiona-se se o sistema elimina
devidamente candidatos que sejam propensos a violência ou se há uma cultura sexista prevalente na polícia que os permite continuar sem sofrer consequências.
Cressida Dick reconheceu que “uma ligação preciosa de confiança foi prejudicada”
e que ia garantir que “todas as lições” seriam retiradas deste caso,
num comunicado depois de ser anunciada a sentença perpétua de Couzens e
em resposta a vários apelos à sua demissão.
A líder da Polícia Metropolitana disse também que estava “absolutamente doente” com o caso que “envergonhou” a força, “abalou” a organização e é uma “nojenta traição a tudo aquilo que a polícia representa”.
A Comissária garante que vai continuar a trabalhar para “melhorar a
segurança das mulheres e reduzir o medo de violência”. “Não há palavras
que podem expressar completamente a fúria e tristeza esmagadora que
todos sentimos sobre o que aconteceu à Sarah. Peço imensa desculpa“, concluiu.
As repercussões políticas
Apesar da desconfiança agora criada em volta da Polícia Metropolitana
e apelos à demissão de Cressida Dick, a Secretária de Estado para
Assuntos Internos tem segurado a Comissária e renovou o seu contrato recentemente, mesmo com as “questões sérias” a que a força tem agora de responder.
Um desses apelos partiu da deputada trabalhista Harriet Harman, que
disse que a Comissária tinha de ser afastada do cargo depois da
confiança das mulheres na força “ter sido estilhaçada”. O anterior
superintendente chefe da Polícia Metropolitana Parm Sandhu também exigiu a demissão.
O líder dos Trabalhistas também já repetiu os seus apelos para uma lei das vítimas
que garanta direitos como o desafio a decisões de investigações
criminais. Keir Starmer também pediu uma revisão ao que aconteceu para
que Couzens continuasse a ser agente mesmo depois das acusações
anteriores.
“Temos de chegar ao fundo da questão. Parece que houve alguns sinais, havia provas,
havia problemas que deviam ter sido investigados devidamente, e não
foram. É agora vital que essa revisão seja feita”, afirma Starmer.
Após o choque inicial com o caso de Everard, Boris Johnson prometeu
que ia alocar fundos adicionais para melhorar a iluminação das ruas de
Londres e prometeu um reforço de patrulhas de polícia.
Já depois da condenação de Couzens, o primeiro-ministro apelou a que os britânicos confiassem na polícia e disse que contratar mais agentes mulheres “poderia trazer mudanças fundamentais”.
“Acho que haverá centenas de milhares de agentes de polícia, e eu também, em todo o país que ficaram completamente horrorizados com o homicídio de Sarah Everard por parte de um agente da polícia”, referiu Boris Johnson à ITV, admitindo que há um problema na forma como o Reino Unido lida com casos de violação e na ineficácia da justiça.