Manifestantes em Belfast colocaram fogo num autocarro e
atacaram a polícia, esta quarta-feira à noite, no quarto dia de
violência numa semana na Irlanda do Norte.
Os jovens atacaram a polícia com bombas feitas com gasolina esta
quarta-feira à noite, na área protestante de Shankill Road, enquanto
outros manifestantes atiravam objetos nas duas direções sobre o “muro da
paz”, que separa Shankill Road de uma área nacionalista irlandesa
vizinha.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, condenou os distúrbios,
e o Governo da Irlanda do Norte, com sede em Belfast, vai realizar esta
quinta-feira uma reunião de emergência sobre os distúrbios.
Johnson pediu calma, dizendo que “a maneira de resolver as diferenças
é através do diálogo, não da violência ou da criminalidade”.
A primeira-ministra da Irlanda do Norte, Arlene Foster, do Partido
Unionista Democrático pró-britânico (unionistas), e a
vice-primeira-ministra, Michelle O’Neill, dos nacionalistas do Sinn
Fein, condenaram a desordem e os ataques à polícia.
A violência recente, em grande parte em áreas pró-britânicas, aumentou devido a tensões crescentes sobre as regras comerciais pós-Brexit
para a Irlanda do Norte e piorou as relações entre os partidos no
Governo de Belfast, compartilhado entre católicos e protestantes.
Estas manifestações de violência na quarta-feira à noite seguiram-se
aos distúrbios ocorridos durante o fim-de-semana da Páscoa em áreas
dentro e ao redor de Belfast e Londonderry, com carros incendiados e
ataques contra polícias. As autoridades acusaram grupos paramilitares
ilegais de incitar os jovens a causar confusão.
O novo acordo comercial entre Londres e o bloco comunitário impôs
controlos aduaneiros e fronteiriços a algumas mercadorias que circulam
entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido.
O acordo foi elaborado para evitar controlos entre a Irlanda do Norte
e a Irlanda, um membro da UE, uma vez que uma fronteira irlandesa
aberta ajudou a sustentar o processo de paz construído pelo Acordo de Sexta-Feira Santa em 1998, que terminou na altura com três décadas de violência que provocaram mais de trêss mil mortes.
Mas os unionistas têm argumentado que estes novos controlos equivalem
a uma nova fronteira no mar da Irlanda entre a Irlanda do Norte e o
resto do Reino Unido, defendendo o abandono do acordo.
Os unionistas também estão revoltados com a decisão das autoridades
policiais de não processaram os políticos do Sinn Féin que marcaram
presença no funeral de um ex-comandante do exército republicano
irlandês, em junho passado.
O funeral de Bobby Storey atraiu uma grande
multidão, apesar das medidas restritivas aplicadas no âmbito da pandemia
e que proibiam grandes aglomerações de pessoas.
Os principais partidos unionistas exigiram a demissão do chefe da
polícia da Irlanda do Norte por causa da controvérsia, argumentando que o
responsável tinha perdido a confiança da comunidade.
Irlanda pede empenho ativo de Londres no acordo de paz
“O protocolo ajuda-nos a manter a relação norte-sul” na Irlanda,
afirmou Thomas Byrne, ministro dos Assuntos Europeus irlandês, em
entrevista à agência Lusa, referindo-se à disposição do Acordo de Saída
do Reino Unido da União Europeia que mantém o território britânico
alinhado com as regras do mercado único.
“Mas precisamos que a Grã-Bretanha se empenhe ativamente na manutenção do Acordo de Sexta-feira Santa, connosco e com a União Europeia”, frisou também o ministro.
Na entrevista, realizada à margem de uma visita a Lisboa, Byrne
explicou que o Brexit “causou um enorme problema à ilha da Irlanda” e
que foi precisamente “para tentar resolver alguns dos problemas” criados
pela saída do Reino Unido da UE que foi negociado o Protocolo, que
“contribui muito para garantir a livre circulação de pessoas e de
mercadorias na ilha da Irlanda”.
O ministro salienta que “ações unilaterais causam problemas”,
o que ficou “demonstrado” com a decisão de Londres de prolongar por
seis meses, até 1 de outubro, o período de carência de certos controlos
alfandegários nos portos da Irlanda do Norte, para frisar que a
Grã-Bretanha “tem de implementar o protocolo”.
“Todos temos de implementar o protocolo, mas os britânicos estão em
falta neste aspeto particular”, aponta, sublinhando que a UE iniciou um
processo por infração, mas também conversações.
“Quero ver essas conversações prosseguir, porque na Irlanda do Norte
os problemas nunca se resolvem através de ações legais, resolvem-se conversando e trabalhando juntos”, insiste.
Thomas Byrne admite que o anúncio pela Comissão Europeia, no final de
janeiro, da ativação do artigo 16.º do protocolo, que permite a
suspensão daquele capítulo do Acordo de Saída, para travar a chegada de
vacinas contra a covid-19 ao Reino Unido via Irlanda do Norte, “foi um
erro”, mas sublinha que Bruxelas “reconheceu muito rapidamente que foi
um erro”.
“Penso que isso aconteceu porque técnicos fizeram o que tecnicamente
era suposto fazerem. Mas não foi feita referência a essa situação
particular na Irlanda do Norte, o que infelizmente deu às pessoas,
particularmente nas comunidades unionistas mais extremas, uma desculpa
para dizer, ‘bem, a Europa não se preocupa connosco, tenta fazer-nos
isto’”, considerou.
“Pequenas coisas causam problemas. Mas isso
resolve-se quando se reconhece que houve um problema, se corrige o
problema e as duas partes trabalham para que não volte a acontecer”,
insistiu, reiterando o apelo a Londres “para continuar a trabalhar com a
UE para resolver o problema de forma pragmática”.
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